Volks recua, e metalúrgicos conquistam vitória em Taubaté

De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, funcionários que deixarem a empresa terão uma compensação adicional de 60% do salário final por ano trabalhado e cobertura da assistência médica por 90 dias.

O clima de terror entre os funcionários da Volkswagen de Taubaté, no interior de São Paulo, foi levemente amenizado, na quinta-feira (13/07), com a conclusão de um primeiro acordo entre a empresa e os trabalhadores. Foi descartada a possibilidade de 160 cortes imediatos, anunciados como parte do plano de reestruturação que pretende demitir pelo menos 700 dos cerca de 4,5 mil trabalhadores da fábrica até 2008.


 


De acordo com presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, Valmir Marques, o acordo descarta a demissão sumária e prevê uma compensação adicional de 60% do salário final por ano trabalhado e cobertura da assistência médica por 90 dias em caso de desligamento.


 


A proposta inicial da empresa do plano de reestruturação previa: um sistema para que o empregado permanecesse na fábrica, sem remuneração extra, para reparação em caso de falta de qualidade; aumento do desconto nos salários de 1% para 3% relativos ao plano médico; banco de horas; nova tabela salarial com diminuição no reajustes e salário menor para novos funcionários; restrições no plano de participação nos lucros.


 


Medidas alternativas
As primeiras seis reuniões entre sindicalistas das fábricas afetadas e a Volks, que se estenderam por 26 horas de negociação, não deram resultado. Separadamente, porém, o sindicato de Taubaté conseguiu fixar a redução do desconto do salário para plano médico em 2%. As questões do retrabalho, da redução do período de descanso no setor de pintura e a redução do reajuste salarial foram descartadas pela empresa.


 


Em vez de salários menores para ingressantes, definiu-se também uma mudança na extensão do plano de carreira com extensão de 48 para 108 meses. Foi acertado também um banco de horas, com limite de 150 horas positivas e 120 horas negativas. “Mas tudo isso só estará garantido se houver garantia no investimento na planta de Taubaté, que precisa ser confirmada em reunião decisiva que será realizada na matriz alemã no próximo dia 19”, esclarece Biro-Biro.


 


A estimativa dos sindicalistas é de que a Volkswagen confirme o aporte de US$ 400 milhões para a produção de um novo carro no País, que daria estabilidade à fábrica por pelo menos mais 15 anos. Nesta terça-feira, o acordo será também submetido ao conjunto dos trabalhadores de Taubaté em assembléia.


Problemas no ABC
Na opinião do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, o acordo em Taubaté é apenas uma “adequação tática” da empresa. Segundo ele, a Volks permanece firme na decisão de implementar o plano de reestruturação que pode extinguir até cerca de 5,7 mil empregos (mais de um quarto do total de 21 mil funcionários atuais) em quatro das cinco fábricas instaladas no Brasil.


 


Em São Bernardo do Campo, a empresa assumira compromisso de não dispensar funcionários até novembro deste ano, mas a assembléia dos trabalhadores já decidiu que resistirá a qualquer investida contra a supressão de direitos, relata.


 


O pacote de benefícios aos trabalhadores demitidos pelo acordo em Taubaté, ressalta Feijóo, será bancado pelos próprios funcionários que continuarem na ativa. O aumento do desconto de 1% para 2% referentes ao plano médico já renderá aos caixas da empresa uma economia de R$ 14,5 milhões até 2008 e o gasto estimado da remuneração extra é de R$ 10,5 milhões. “Superado o período de demissões, essa diferença será toda revertida para o lucro da empresa”.


 


O histórico da crise
Desde o início da crise aberta pela Volks em maio, quando a empresa anunciou a intenção de demitir milhares de trabalhadores em todo o mundo, os metalúrgicos têm se mobilizado e buscado apoio da sociedade para mais essa luta.


 


Os trabalhadores de Taubaté, por meio do Sindicato e da Comissão de Fábrica, realizaram audiências públicas na Câmara da cidade e na Assembléia Legislativa de São Paulo. Fizeram reunião com o BNDES, que recentemente financiou a automobilística alemã em quase R$ 1 bilhão. E organizaram um dia de paralisação, juntamente aos trabalhadores da Volks de São Bernardo do Campo e de Curitiba.


 


No dia 9 de julho, os trabalhadores de Taubaté se reuniram em plenária para debater sobre as negociações com a empresa e o plano de reestruturação. O evento, realizado em um domingo na sede do sindicato, atraiu grande interesse dos trabalhadores e estabeleceu as bases para que a direção da entidade negociasse com a empresa.


 


De início, a empresa havia anunciado que pretendia efetuar 160 demissões na unidade de Taubaté, mas a negociação levada a cabo pelo sindicato abriu portas para alternativas às dispensas, que começariam a ocorrer nesta semana.


 


Repercussão na categoria
Para o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, Isaac do Carmo, a proposta é um avanço, pois evita as demissões arbitrárias e garante investimentos em um novo produto. Segundo ele, nas negociações o Sindicato se norteou pelos debates realizados no Comitê Nacional, que reúne representantes das fábricas no Brasil. “São propostas dentro da lógica dos trabalhadores”, afirmou.


 


Para Francisco Duarte de Lima, o Alemão, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o pessoal de Taubaté tem a obrigação de negociar, ante a responsabilidade de impedir as demissões. “É uma situação diferente da nossa, já que temos garantia de emprego até novembro”, comentou. “Os companheiros de Taubaté já negociaram uma proposta bem diferente da apresentada pela empresa, e isso é um sinal de avanço na nossa luta.”


 


A proposta será votada pelos trabalhadores da Volks de Taubaté em assembléia a ser realizada nesta terça-feira (18). Os principais itens são:


 


– Garantia de investimentos em um novo produto.
– Abertura de PDV pagando 0,6 por ano trabalhado e três meses de plano médico.
– Aumento de 1% para 2% do plano médico.
– Adicional de 7% aos monitores de célula.
– Discussão de condomínio industrial.
– Nova tabela salarial.
– A PLR tem acordo por três anos, com base nos valores do ano passado.
– Criação do banco de horas, com limite de 150 horas positivas e 120 horas negativas.


 



Da Redação, com dados da Agência Carta Maior
e do Portal do Mundo do Trabalho