Emir Mourad: Palestina e Líbano; Indiferença, sangue e lágrimas

O governo dos Estados Unidos da América, sob a Presidência de Bush, é cúmplice direto e aberto da guerra de Israel contra a Palestina e o Líbano. Bush age em sincronia fina com o governo israelense nessa nova escalada de terror.


Por Emir Moura

Ao vetar uma resolução de cessar fogo no Conselho de segurança da ONU, os Estados Unidos se comprometem, até as ultimas conseqüências, na insana política de impor sua hegemonia na região através da força militar, sem que nenhum governo árabe possa intervir de forma a se contrapor ao governo israelense e sua máquina de guerra terrorista.


A mídia insiste em ser porta voz da política israelense: 'os terroristas palestinos não podem ficar impunes ao seqüestrar os três soldados israelenses'. 'Israel ataca para se defender do terrorismo palestino e libanês'. 'Não podemos fazer nenhuma concessão ao terrorismo enquanto esses lançam foguetes.'


São 9.000 palestinos e palestinas nas prisões israelenses. Por acaso não são tão prisioneiros quanto os 3 prisioneiros israelenses? E quantas vezes o mundo e a imprensa deram importância aos prisioneiros palestinos? E quanto aos prisioneiros Libaneses nos cárceres israelenses?


Se em nome da libertação de três soldados, Israel pode fazer o que faz, qual o sentido em negar aos palestinos e libaneses de fazer o que fazem para libertar os seus compatriotas prisioneiros?


A guerra não começou agora, ela se arrasta a mais de cinqüenta anos. Existe um estado de Guerra entre a resistência palestina e libanesa contra a ocupação israelense. A troca de prisioneiros é um recurso entre duas partes beligerantes. A assimetria do conflito pressupõe que o lado mais forte deva ter prisoneiros de guerra e o lado da resistência é bandido ordinário e portando seqüestrador de soldados? Sob qual o preceito legal e político se faz a diferenciação entre o lado que 'captura' e o outro que 'seqüestra'?


Israel ocupa ilegalmente, pela força militar, territórios palestinos, libaneses e sírios. A origem da resistência está na ocupação israelense. Ocupação esta que fere de morte a liberdade, os direitos humanos e qualquer possibilidade de autodeterminação.


Em sua resolução 2787, a Assembléia Geral da Nações Unidas 'Confirma a legalidade da luta dos povos pela autodeterminação e libertação colonial e estrangeira e da subjugação estrangeira, por todos os meios disponíveis compatíveis com a Carta da Nações Unidas' e ainda' Afirma o direito humano básico do homem, de lutar pela autodeterminação do seu povo sob dominação colonial e estrangeira'.


Diversas são as resoluções da ONU afirmando a ilegalidade da Ocupação Israelense de territórios árabes e exigindo de Israel para 'rescindir incontinenti e desistir de todas as políticas e práticas como:



  • A anexação de qualquer parte dos territórios ocupados;
  • O estabelecimento de colônias israelense nesses territórios e a transferência de partes de uma população estranha para os territórios ocupados;
  • A destruição e demolição de aldeias, quarteirões e casas, o confisco e expropriação de propriedade;
  • A evacuação, transferência, deportação e expulsão dos habitantes dos territórios ocupados;
  • A denegação do direito das pessoas deslocadas de voltarem a seus lares;

E a famosa Resolução 242, do Conselho de Segurança da ONU, de 22 de novembro de 1967:



O Conselho de Segurança,


Exprimindo sua continua preocupação com a grave situação no Oriente Médio,


Dando ênfase à inadmissibilidade da aquisição de território pela guerra, e a necessidade de trabalhar por uma paz justa e duradoura em que todo Estado da região possa viver em segurança,


Dando ênfase, ainda, a que todos os Estados-Membros, com sua aceitação da Carta das Nações Unidas, assumiram um compromisso de agir de acordo com o Artigo 2 da Carta,


Afirma que o cumprimento dos princípios da Carta exige o estabelecimento de uma paz justa e duradoura no Oriente Médio, que inclui a aplicação de ambos os seguintes princípios:



  1. I – Retirada das forças armadas de Israel dos territórios ocupados no recente conflito;
  2. II – Terminação de todas as reclamações ou estados de beligerância, e respeito e reconhecimento da soberania, integridade territorial e independência política de todo Estado da região e de seu direito de viver em paz, dentro de fronteiras seguras e reconhecidas, livre de ameaças ou atos de força;

O mundo pergunta, os homens e mulheres desejosos que a paz justa se estabeleça para todos os povos do mundo, independente da sua cor, religião, credo político e religioso, perguntam por que Israel não obedece ao Direito Internacional? Porque Israel não se retira dos territórios ocupados permitindo que o povo palestino possa viver em paz? Porque o mundo não obriga Israel a cumprir as resoluções da ONU?


O povo palestino e libanês , mais uma vez são vitimas do poder bélico israelense e de seus aliados na região.


Devemos todos erguer nossas vozes e dizer que seja alcançado imdediatamente um cessar fogo total e uma troca justa de prisioneiros. A partir disso a Comunidade Européia, os Estados Unidos, a China , Japão, Rússia e a ONU devem impor que Israel sente a mesa de negociação e se estabeleçam as bases para alcançar uma paz justa e duradoura na região, sob a égide das resoluções da ONU, a Quarta Convenção de Genebra e as Decisões da Corte Internacional de Justiça.


Israel é um estado fora da lei e deve ser punido e sofrer todas as sanções até que aceite ser um membro seguidor das resoluções da ONU. Não foi assim com o regime do apartheid da África do Sul? Não foi assim com o Iraque? Em ambos os casos as potencias se uniram para que fossem cumpridas as resoluções da ONU. Porque é diferente com a Palestina e o Líbano? Os Estados Unidos selecionam as Resoluções que querem cumprir de acordo com sua política hegemônica e de domínio. Até quando essa imparcialidade e afronta aos paises e povos do mundo?


E devemos lembrar que caso os governos do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela) assinem o tão famigerado Tratado de Livre Comércio com Israel estarão sendo cúmplices das sucessivas matanças e agressões de Israel contra os povos árabes, que hoje perfazem 12 milhões de seus descendentes no Brasil.


Os povos quando lutam pela sua autodeterminação não ficam esperando a inércia e cumplicidade das 'Nações Civilizadas' com as injustiças e a política de vale pra um e não vale par o outro. Os povos reagem às injustiças,reagem ao racismo e discriminação, reagem à usurpação de sua terra, reagem para reaver seus direitos e sua liberdade. E a história registra vários situações onde os povos e suas organizações de resistência eram chamadas de terroristas pelos ocupantes e agressores, tal qual a resistência francesa era chamada de 'bando de terroristas' na sua luta contra a ocupação nazista durante a segunda guerra mundial.


Todo o apoio e solidariedade ao Povo Palestino e Povo Libanês!


*Secretário da COPAL – Confederação Árabe Palestina do Brasil e Conselheiro do CNPIR – Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial