Cuba não baixa a guarda diante das ameaças dos EUA

Cinco dias depois de Fidel Castro ter cedido provisoriamente o poder a seu irmão Raúl, Cuba se mantém em calma mas também em alerta pelas ameaças veladas dos Estados Unidos, seu principal inimigo há meio século.

''A Constituição da República de Cuba estabelece que a defesa da pátria socialista é o maior honra e o dever supremo de cada cubano'', diz o site oficial das Forças Armadas Revolucionárias (FAR).


 


Em caso de agressão, Cuba ativaria a chamada ''Guerra de Todo o Povo'', uma concepção estratégica para a defesa nacional que o site da FAR resume da seguinte maneira: ''Em caso de uma agressão militar em grande escala, cada cidadão terá um meio, um lugar e uma forma de enfrentar o inimigo até conseguir a vitória''.


 


''A proximidade dos Estados Unidos e de sua política hostil'', continua a página eletrônica, ''condicionam a concepção de luta de Cuba como país pequeno e de limitado desenvolvimento econômico e a adoção de uma doutrina militar autóctone e 'sui generis' neste continente''.


 


Com a ''Guerra de Todo o Povo'', ''para conquistar nosso território e ocupar nosso solo, as forças imperiais teriam que lutar contra milhões de pessoas e teriam que pagar com centenas de milhares e inclusive milhões de vidas'', disse Castro em 1988.


 


Para desenvolver esta doutrina militar, Cuba conta com as Forças Armadas Revolucionárias (FAR), integradas em três exércitos (Ocidental, Central e Oriental) de terra, mar e ar, cujos soldados procedem do serviço militar geral e da reserva.


 


Além disso, tem à sua disposição o Exército Juvenil do Trabalho, integrado por milhares de jovens que trabalham na produção agro-alimentar e que recebem treinamento militar.


 


Também estão prontos para atuar as Tropas Territoriais, compostas por trabalhadores que recebem formação militar periódica, e as Brigadas de Produção, que em caso de conflito defendem zonas limitadas e garantem o fornecimento de alimentos e a ordem interna.


 


Calcula-se que o número de integrantes das FAR é de cerca 50.000. A este contingente é preciso somar dezenas de milhares de reservistas.


 


Para organizar este grande quantidade de homens, a ilha, de quase 111.000 quilômetros quadrados e uma população de 11,3 milhões de habitantes, se divide em 1.400 Zonas de Defesa, as quais, por sua vez, estão subordinadas aos Conselhos de Defesa, encabeçados por autoridades do Partido Comunista.


 


''Este país se organizou dessa maneira, se uniu dessa maneira e se preparou dessa maneira. Se os Estados Unidos tentarem invadir a Cuba, vai quebrar a cara, porque vai ter de lutar contra milhões de homens e mulheres'', advertiu Castro em 1985.


 


Os preparativos de defesa em Cuba se intensificam diante da possibilidade dos Estados Unidos quererem forçar o que eles chamam de ''transição democrática'' na ilha e que não passa de uma intervenção militar que contaria com a colaboração de dissidentes do regime dispostos a trair o próprio povo para atender aos interesses norte-americanos.


 


A secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice afirmou na sexta-feira à noite, em uma mensagem aos cubanos com claro conteúdo intervencionista, que ''muita coisa está mudando por lá'' e esta seria a hora para pressionar por uma democracia.


 


''Ninguém vai ouvir uma mensagem que venha de um funcionário de um governo estrangeiro,'' replicou o ministro da Cultura cubano, Abel Prieto.


 


Fidel se recupera favoravelmente


 


Mas as intenções intervencionistas do governo Bush dependem do afastamento prolongado do comandante Fidel Castro e esta possibilidade pode não acontecer.


 


O vice-presidente Carlos Lage, em declarações durante sua viagem à Bolívia, foi a terceira autoridade cubana nos últimos dois dias a assegurar à nação comunista de que Castro está se recuperando bem da cirurgia para estancar uma hemorragia interna.


 


Mas ele não deu mais detalhes na reportagem da agência governamental Prensa Latina.


 


Em Havana, onde os residentes foram surpreendidos com o anúncio, na segunda-feira, de que o ''comandante'' havia temporariamente entregado o poder ao seu irmão Raúl Castro, fontes que conversaram com autoridades do governo disseram que apesar de ele ainda não poder receber alta, está em boas condições para um homem de 79 anos.


 


''Eu fui informado que Fidel está melhorando, ele já comeu algo e sentou-se,'' disse uma fonte à Reuters, que pediu para não ser identificada.


 


Outras autoridades foram informadas de que Castro havia saído do tratamento intensivo e começava a se recuperar.


 


O irmão de Fidel ainda não foi visto publicamente desde que assumiu o poder, provocando incerteza sobre o futuro de Cuba e especulações de que os 47 anos de governo de Castro estejam chegando ao fim.


 


Em Caracas, uma fonte do governo venezuelano afirmou que seria improvável o presidente Hugo Chávez ir a Havana neste final de semana para visitar seu amigo Castro. Sua viagem poderia indicar que o líder cubano está lúcido e em condições de receber visitas.


 


No entanto Daniel Ortega, o ex-presidente de esquerda da Nicarágua, foi a Cuba no sábado para checar o estado de Castro.


 


Da redação,
com informações das agências