México: Em meio à crise, novos deputados iniciam legislatura

O Congresso mexicano eleito no pleito de 2 de julho iniciou nesta terça-feira (30/8) seus trabalhos em meio a um clima de agitação política, devido ao incerto desenlace da eleição para presidente. Em uma agitada sessão, os novos legisladores elegeram a me

Pela primeira vez na história, essa formação, à qual pertence o presidente Vicente Fox, terá uma maioria simples no Parlamento. O novo presidente do Senado é Manlio Fabio Beltrones, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), ao passo que a Presidência da Câmara dos Deputados ficará a cargo de Jorge Zermeño, do PAN.



Os deputados do opositor Partido da Revolução Democrática (PRD), do candidato à Presidência Manuel López Obrador, deixaram claro que esta não será uma legislatura fácil. Os legisladores do PRD advertiram para o risco de ingovernabilidade na Câmara devido à maneira como foi formada sua mesa diretora, que, na opinião deles, foi configurada para facilitar o trabalho do presidente Fox quando ele apresentar seu relatório anual na próxima sexta-feira.



Diálogo prejudicado
Presidida por Zermeño, a mesa tem como vice-presidentes María Elena Alvarez (PAN), Ruth Zabaleta (PRD) e Arnoldo Ochoa (PRI). Os secretários são quatro legisladores de partidos minoritários. Alguns deputados da formação esquerdista, que gritaram o nome de López Obrador, disseram que, com esta mesa, ficam inviabilizados acordos no “único espaço de diálogo dentro da conjuntura política”.



O partido de Fox e de Calderón garantiu 206 deputados (de um total de 500) na câmara baixa e 52 senadores (de 128) na câmara alta. Porém, terá que negociar com a esquerda ou com o histórico PRI para levar adiante as reformas fundamentais que propõe levar a cabo. Nos últimos seis anos, as reformas estruturais propostas por Fox em matéria fiscal, energética, judicial e política se chocaram com um Congresso dividido, no qual o PRI tinha a maioria simples e o PAN e o PRD eram, respectivamente a segunda e terceira forças.



Após as eleições gerais de 2 de julho, o panorama mudou. Na câmara baixa, o PAN conta com 206 cadeiras; o esquerdista PRD, com 125 cadeiras; e o PRI, com 105. Atrás deles estão o Partido Verde (PVEM), com 19 deputados; os esquerdistas Partido do Trabalho e Convergência, com 16 cada um; a Nova Aliança, com 9; e Partido Alternativa Social-Democrata e Camponesa (PASC), com 4.



No Senado, dos 128 assentos, 52 são do PAN; 33, do PRI; 29, do PRD; seis, do PVEM; cinco do PASC; dois, do Partido do Trabalho; e 1, da Nova Aliança.



Ressentimento
Para o analista político José Antonio Crespo, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Econômico (CIDE), os trabalhos do novo Congresso serão marcados em grande parte pelas eleições do mês passado, já que o PRD é hoje uma formação “ressentida”. Para realizar as profundas reformas que deseja, inclusive as constitucionais, o PAN terá que tentar formar uma “maioria absoluta” ou “qualificada” aliando-se com o PRI, com o PVEM ou com a Nova Aliança.



Crespo considera numericamente viável essa eventual aliança com o PRI, embora duvide que politicamente ela seja factível, posto que setores dentro desse poderoso partido, em plena crise, se opõem a uma aproximação com o PAN. Certamente antes do fechamento dessas possíveis alianças, o Tribunal Eleitoral do Poder Judiciário da Federação (TEPJF), que tem até 6 de setembro para tal, anunciará se as últimas eleições presidenciais foram válidas e se quem as ganhou foi Calderón ou López Obrador.