Uergs: instrumento de soberania e liberdade

Obter melhor acesso à educação de nível superior é uma reivindicação histórica do povo brasileiro e apenas recentemente tornaram-se notórios alguns avanços mais importantes nesta trajetória de lutas.

A realidade da educação superior está mudando, principalmente a partir dos programas governamentais que mantêm-se apesar de enfrentar a contrariedade da parcela mais conservadora da sociedade. Muito embora seja facilmente criticada a postura dos que tentam barrar esses avanços, não faltam em nossa sociedade pessoas a cumprir esse papel, seja nos governos, parlamento ou mesmo perante a opinião pública. Obviamente, isso não ocorre por acaso e trata-se de uma questão intimamente relacionada à luta de classes, ao antagonismo entre o povo e as elites que buscam submetê-lo a si.


 


Em nosso país, a oportunidade para adquirir conhecimento científico foi sempre um privilégio destinado a uma minoria capaz de pagar os altos preços das mensalidades nas universidades particulares ou ainda àqueles que dispõem de tempo e dinheiro para preparar-se convenientemente e conseguir sua aprovação nos disputados exames vestibulares das universidades públicas. Assim, a liberdade para elaborações mais complexas, compreensões menos óbvias da realidade e, principalmente, análises mais realistas das condições de submissão ideológico-cultural vinham sendo exclusividade dos detentores do poder econômico na sociedade.


 


No entanto, o acúmulo quantitativo e qualitativo das mobilizações sociais desde a redemocratização do país nos anos 1980 tornou possível a ascensão ao poder de políticos como o presidente Luís Inácio Lula da Silva e, no estado do RS, do ex-governador Olívio Dutra. Ambos demonstraram ter maior grau de comprometimento com as camadas populares, por condições que vão desde a origem de sua atividade pública nos movimentos sociais até a construção de alianças de apoio nas suas experiências de governo. Cada um, a seu modo, buscou promover uma mudança no perfil social dos freqüentadores das universidades, abrindo essa possibilidade aos trabalhadores e estudantes provenientes da rede pública de ensino fundamental e médio. O ProUni, no país e a Uergs no estado, são alguns dos instrumentos dessa política para a educação, que vai além da mera formação de mão-de-obra para o mercado de trabalho, mas indica o surgimento de um novo grupo de profissionais, com capacidade de compreensão da complexidade social e disposição de classe para transformar a realidade em um sentido amplo.


 


Para o povo, é inestimável o valor de conquistas como estas, pois representam uma rota de libertação da opressão cultural e ideológica. Já o perigo que isso representa às tradicionais estruturas do poder político e econômico pode ser considerável e comprovam isso pelo menos duas vivências dos gaúchos e especialmente dos estudantes de cursos da Uergs. Aqui no estado, a onda reacionária que conduziu Germano Rigotto ao Palácio Piratini teve nefastos efeitos não apenas sobre o projeto pedagógico original da universidade, mas chegou ao ponto de interromper a instalação de novas turmas e até comprometer a continuidade dos cursos em andamento. Assim, reduziu-se drasticamente a capacidade de impulsionar o desenvolvimento por uma via independente, com tecnologia e conhecimento produzidos em nossas instituições de ensino, em condições de gradativamente reduzir e quiçá eliminar a dependência dos métodos e processos produtivos importados com as multinacionais. Ao contrário do que se possa considerar ideal, significativa parcela da arrecadação do nosso estado foi comprometida com as isenções tributárias concedidas a grandes empresas multinacionais, sob o falacioso pretexto de gerar empregos. Este é um argumento frágil quando se avalia que tais empresas têm limitada capacidade de geração de empregos, pois seus processos industriais há tempos vem sendo adaptados para ocupar cada vez menos mão-de-obra e extrair crescentes taxas de mais-valia.


 


Sob essa perspectiva é fácil compreender porque escasseiam os recursos para investir na Uergs, apesar do aumento de impostos estaduais. Falta à retrógrada burguesia gaúcha até mesmo um mínimo de nacionalismo! Nestes dias em que o povo comemora o Dia da Independência do Brasil e, em breve, nós gaúchos lembraremos a Revolução Farroupilha, convém fazer essa reflexão sobre o valor da nossa liberdade. Nestes dias, ainda mais que no passado, devemos, principalmente, lutar para barrar a irresponsabilidade de quem não sabe direcionar os investimentos de seu governo no rumo da soberania nacional, mas investe contra as conquistas obtidas à custa de muita luta de nosso povo.


 


Mateus Junges
Assessor de imprensa do Diretório Central dos Estudantes da Unijuí