Com novas bandeiras, Grito dos Excluídos reúne milhares em todo o país

Milhares de pessoas participaram da edição deste ano do Grito dos Excluídos, em dezenas de cidades de todo o país. Foi um protesto contra a desigualdade, a corrupção na política e o modelo econômico. Confirmando o caráter cada vez mais religioso e despoli

O lema do Grito este ano é “Brasil: na força da indignação, sementes de transformação”. O Grito começou a ser feito em 1995, com a campanha da fraternidade da Igreja Católica. Para os coordenadores, a idéia é realizar um ato de protesto contra a exclusão social.


 


Como este ano é um ano de eleições, os coordenadores do Grito providenciaram para que os militantes partidários e candidatos fossem “excluídos” dos palanques do movimento. Os partidos puderam participar dos atos, mas não tiveram direito de falar aos manifestantes.


 


O cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, rezou a missa em Aparecida e afirmou que o maior pecado é o desemprego. Defendeu ainda uma reforma no sistema prisional. Para ele, é preciso que a Justiça aplique penas alternativas, pois metade das pessoas que estão atualmente no sistema carcerário poderia cumprir pena fora das prisões.


 


“A pena alternativa poderia preservar muita gente que cometeu pequenos delitos e que não entraria no círculo do crime que é hoje a prisão”, afirmou.


 


A manifestação teve a participação de muitas crianças e idosos, além de diversos representantes da sociedade civil organizada como Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e até um grupo de estudantes vestidos de palhaços que são integrantes do Movimento Passe-Livre.


 


Entre as faixas, palavras de ordem como “Só se comemora independência com justiça social” ou “Água e energia não são mercadoria”, em referência à campanha contra os preços altos da energia elétrica.


 


Moradores de favelas, militantes de partidos políticos, religiosos, mulheres marginalizadas, representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de outros movimentos sociais e sindicais participaram hoje (7), na capital paulista, do Grito dos Excluídos. A marcha foi encerrada com ato público em um palco montado ao lado do Monumento da Independência, no Ipiranga, zona sul da cidade.


 


São Paulo


 


Na capital paulista, a Polícia Militar calculou em dois mil o número de participantes, mas os organizadores estimaram entre 5 e 10 mil manifestantes, no maior aglomerado do gênero, conforme declararam.


 Essa foi a nona vez que o ato ocorreu na cidade de São Paulo. O Grito começou com a celebração de missa, na Catedral da Sé, por volta das 7 horas. Depois de uma concentração na Praça da Sé, milhares de manifestantes saíram, às 10 horas, em romaria a pé até o Parque da Independência, distante cerca de 7 quilômetros. Em dois carros de som, palavras de ordem em favor das causas sociais eram intercaladas por canções, como a de Geraldo Vandré, “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”.


 Ao chegar ao parque, por volta das 12h15, os manifestantes, agitando bandeiras e cartazes, espalharam-se entre as escadarias do Monumento da Independência, o gramado dos jardins do Museu do Ipiranga e a área calçada, diante do palco e carro de som montados para o ato público. No meio do público, uma enorme faixa exibia o lema da campanha da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e marcava posição contra demissões na fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. “Nenhuma demissão na Volks” e “Redução de Jornada Sem Redução Salarial” dizia a enorme faixa branca, estendida diante do palco de manifestação.


O padre Júlio Lancelotti, da Pastoral de Rua, primeiro orador, destacou o assassinato de sete moradores de rua em agosto de 2004, na região central de São Paulo. Outras sete pessoas ficaram feridos no episódio, que ficou conhecido como massacre dos moradores de rua. Inconformado com o fato de tais crimes não terem ainda sido esclarecidos, o padre disse que continuará lutando por justiça. “Vamos pressionar, porque é impossível aceitar que esse crime fique impune”, afirmou.


Lancelotti criticou a prefeitura de São Paulo, acusando diretamente o prefeito Gilberto Kassab de perseguir moradores de rua, além de catadores de papel. “Continua o massacre dos mais indefesos. Até o cobertor que eles têm para não morrer de frio, a prefeitura está tirando deles”, afirmou.



O coordenador da Pastoral Operária da região metropolitana de São Paulo, Paulo Pedrini, considerou “muito positivo” o movimento do Grito dos Excluídos deste ano. Para ele, atingiu-se o objetivo de exaltar a luta pela dignidade humana. “Demos um grito contra a falta de moradia, a falta de saúde e de educação; por serviços púbicos de qualidade e ausência de reforma agrária urbana”. Segundo ele, a expectativa é viver em um país sem exclusão: “Quiçá, possamos chegar a um dia onde o Grito dos Excluídos não seja mais necessário”.


 


Causa palestina


 


Em Brasília, a edição deste ano do Grito dos Excluídos reuniu um grupo de simpatizantes da causa palestina, que pediu mais atenção para os conflitos na região. Para Safiah Ali, uma das integrantes do grupo, os conflitos na região e os ataques feitos por Israel também são uma forma de exclusão. Mesmo se identificando com a causa brasileira, para ela, a exclusão de uma terra, de um povo, é maior do que a exclusão vivida pelos brasileiros.


 


“A gente se sente iguais a eles (manifestantes brasileiros) ou piores ainda porque eles podem gritar e ter terra. A gente grita, derrama sangue, usa o corpo para mostrar a nossa causa e, mesmo assim, o mundo diz que somos terroristas”, disse.


 


Além dos simpatizantes da causa palestina, o Grito dos Excluídos este ano contou, na capital federal, com a participação vários movimentos sociais como associações de catadores de lixo, do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), do Movimento dos Atingidos pro Barragens (MAB) e de estudantes, idosos e crianças.


 


Da redação,
com informações da Agência Brasil