Bolívia: Evo anuncia estatização das riquezas minerais

O presidente Evo Morales anunciou neste domingo (15/10) a estatização das riquezas minerais da Bolívia. A medida deverá ser oficializada no dia 31 de outubro, coincidindo com a comemoração da nacionalização das minas ditada em 1952 e revertida três década

“Começamos com a nacionalização dos hidrocarbonetos (em maio). O próximo passo são os minerais”, disse Evo. “Haverá surpresas com o estanho, a prata e o ouro. Seu controle deve passar para o Estado boliviano, ao povo boliviano.” As declarações do governante – que leva adiante importantes reformas populares – foram formuladas durante cerimônia de entrega de 30 tratores aos sindicatos agrários do povoado andino de Challapata.


 


A nova política sobre as minas está sendo adotada depois de um grave confronto armado entre mineiros da Comibol no começo do mês. O motivo da crise foi a luta por uma rica jazida de estanho, num confronto que deixou em Huanuni 16 mortos e 61 feridos, segundo números oficiais. Na ocasião, Evo havia dito que “não se pode esperar mais – é preciso nacionalizar as concessões mineradoras sem investimento”.


 


O presidente chegou a pedir a seus colaboradores medidas para potencializar a mineração estatal e, ao mesmo tempo, reanimar as cooperativas privadas de mineiros. Huanuni, o pior episódio de governo Morales, ainda é considerado um barril de pólvora, apesar das duas partes, mineiros cooperativados e sindicalizados, terem concluído uma frágil trégua.


 


“Virada de leme”
O presidente aposta no resgate da estatal Corporação Mineira da Bolívia (Comibol), em estado residual desde 1985, quando 30.000 mineiros foram postos nas ruas e as portas do setor, que sustenta o erário boliviano, abertas para particulares. Os mineiros de Huanuni disputam 'Patiño', a única mina de estanho desenvolvida desde a década de 1930 e que nos últimos dez meses foi explorada por uma e outra parte de forma compartilhada, mas sempre em meio a críticas e suspeitas.


 


Os sindicalizados defendem os métodos sustentados que empregam para buscar estanho por uma intrincada rede de galerias úmidas e quentes mais de três quilômetros abaixo da superfície e acusam os cooperativados de “roubar” o equipamento deixado nas profundezas e explorá-lo “irracionalmente”.


 


Haverá “uma virada de leme” no projeto e execução da política mineira na Bolívia, mas baseada nas leis do Estado, disse então o novo ministro das Minas, Guillermo Dalence, em meio à forte resistência dos mineradores privados, de setores da oligarquia boliviana e da direita.


 


O povo está com Evo
Uma pesquisa realizada na semana passada e divulgada neste domingo mostra que 83,6% dos moradores das cidades de La Paz e de sua vizinha El Alto rejeitam um eventual golpe de Estado contra Evo como solução para a tensão política vivida pelo país.


 


Com uma margem de erro de 5%, a pesquisa da Universidade San Francisco feita com 867 habitantes de La Paz e El Alto, baluartes eleitorais de Morales, mostrou que apenas 14,8% dos consultados apóiam um rompimento com a democracia.


 


Leia também: Em manifestação gigantesca, bolivianos reafirmam apoio a Evo