Valdemar Menezes – Das vitórias da democracia

No Brasil, no Chile e nos Estados Unidos, a situação política aponta para importantes vitórias da democracia.

A democracia brasileira conseguiu vencer mais uma etapa e chega a este domingo com a cara de quem acaba de vencer uma prova de maratona.A sensação é de alívio, mas o corredor sabe que tem outros desafios pela frente. Tal como naquela corrida automobilística do desenho animado americano, tão popular na década de 70, é preciso não esquecer que tem sempre alguém “aprontando” para impedir a vitória do herói (no caso, a heroína, pois é da democracia que se trata). Na verdade, os brasileiros têm ainda um longo treino pela frente até que enraízem a cultura de respeito às regras do jogo, com os perdedores largando o feio costume de botar a bola debaixo do braço e levá-la do campo, paralisando a partida, ao menor sinal da vitória do time adversário.


 


A história política nacional está cheia desses exemplos. Antes, esses maus jogadores eram chamados de “vivandeiras de quartel”. Seus fantasmas ainda teimam em sair da tumba, para tentar amedrontar os incautos, como prova o manifesto golpista soltado pelo brigadeiro Ivan Frota, esta semana. São apenas múmias querendo deixar o sarcófago. Já estão exorcizadas. Mais matreira é a sua nova versão, rotulada pelo cientista político Renato Lessa de “vivandeiras dos tribunais”. Estas esperam fazer sua estréia tão logo as urnas proclamem o resultado indesejado por elas.


 



QUEDA E COICE


 


Além das eleições brasileiras, a democracia sul-americana teve outra vitória relevante com a decisão da justiça chilena de denunciar o ex-ditador Augusto Pinochet por 36 casos de desaparecimentos de presos políticos, um assassinato e 23 casos de tortura. Na verdade, isso é apenas uma gota d'água no oceano de crimes cometidos pelo sanguinário ex-ditador. Com a iniciativa, espera-se que seja aberto o caminho para a prisão de Pinochet, que teve sua imunidade de ex-presidente suspensa, no dia 4 passado pela Suprema Corte do Chile. O general corre o risco de uma desmoralização ainda maior se as investigações em andamento confirmarem a presença de lingotes de ouro em seu nome num banco britânico de Hongkong. O militar já estava envolvido em denúncias de corrupção depois da descoberta de volumosos recursos em suas contas secretas, no estrangeiro, cujo volume não poderia ter sido formado por seus soldos. Por causa disso poderá ser condenado por fraude fiscal. Depois da queda, o coice.


 



BRAVOS RAPAZES


 


No mesmo sentido de reforço da democracia é a derrota que está sendo preparada para o Partido Republicano e o presidente Bush nas eleições legislativas americanas de novembro próximo, conforme apontam as pesquisas de opinião. Os anos de poder de George W. Bush vêm sendo marcados por um recuo sem precedentes na democracia americana (só comparável à época do maccartismo). Além do fundamentalismo guerreiro, viu-se o país mergulhar nas trevas medievais em vários campos. O último retrocesso se dá na área jurídica com a aprovação de leis que oficializam a tortura. O vice-presidente Dick Cheney concorda com o emprego da tortura nos interrogatórios de prisioneiros de guerra, como ficou claro numa entrevista a uma rádio de Dakota do Norte, quando avalizou a aplicação do “submarino” (um método de afogamento muito utilizado no passado pelas ditaduras latino-americanas, inclusive, o Brasil, contra presos políticos).


 


Fonte: O POVO