Blanchard Girão: Jefferson Peres e a bandeira da ética

” Peres me parece um homem de sentimentos puros. Porém terrivelmente desorientado. Vê a arvore, sem prestar atenção à floresta.”

Jeovah Cordeiro Maciel, meu colega na Academia Cearense de Retórica, envia-me pronunciamento do amazonense Jefferson Peres, a quem tem em “altíssimo conceito”, no qual o senador derrama um desabafo desesperado com o que considera a ausência de ética da classe política brasileira.


 



Peres me parece um homem de sentimentos puros. Porém terrivelmente desorientado. Vê a arvore, sem prestar atenção à floresta. Sem o desejar, palmilha a mesma e perigosa sendo que, há muitos anos, marcou a passagem de Carlos Lacerda pela cena pública nacional. No fundo, no fundo, o senador do Amazonas é um “inocente útil” , a serviço das forças ocultas que, por uma série de razões, não admite que o Brasil assuma uma posição de certa independência em relação à matriz política e econômica que controla o mundo.


 



O Brasil de Lula, operário sem titulo superior, é um país em que o povo teve e tem vez. Há uma interação entre a cúpula governante e a massa anônima. Interação pressentida pelo instinto popular, que descarregou 58 milhões e tantos mil votos no Presidente que vem das mesmas origens humildes da imensa maioria do nosso povo. Nunca, na historia deste país, um presidente foi alvo de tão insidiosa e perversa campanha difamatória quanto Lula. Nem Getulio, que sucumbiu a carga pesada de Lacerda e da UDN, sofrera tão impiedosa agressão por parte da mídia. A revista “Veja” reservou quinze sucessivas edições semanais só para denegrir a imagem do Presidente. E foi nesta canoa de calunias, difamações de preconceitos, que embarcaram o Jefferson Peres, por falta de um melhor embasamento político-ideológico. Ninguém aceita realmente que os políticos releguem a segundo plano o comportamento ético- moral. Mas a rota bandeira do moralismo que Peres defende com incontrolável paixão, já levou este país aos piores momentos, com anos de ditadura, violência, prisões infames, lutas fratricidas. Os defeitos sistêmicos da democracia formal reclamam uma reforma política tão profunda quanto serena, sem as “vassouras” moralistas dos Jânios, dos Collor, dos Lacerdas, que nos conduziram a dias tão difíceis. Antes de cair em completo desalento Jefferson Peres deveria dedicar-se a uma analise mais acurada das razões determinantes das práticas condenáveis, contra as quais, de lança quixotesca em punho ele investe chegando a admitir a necessidade de destituir o Presidente da Republica.


 


 


Lendo o seu pronunciamento, sobre o qual Jeovah Maciel me pede opinião, não pude deixar de lembra a anedota do filho daquele patrício na parada escolar do 17 de setembro. O garoto, em meio ao batalhão, era o único passo errado. Aos olhos do pai, porém , era todo o batalhão que estava errado e seu filhote, impávido, marchava corretamente.


 


 


Peres se apresenta como o ultimo nome limpo da política brasileira. Não tem mais ambiente para conviver com a cafagestada que nela milita. Está a seu ver no passo certo. O resto da classe política, notadamente o Presidente da Republica e seus aliados, para ele, não merecem o menor respeito nem sequer os quase 60 milhões que o elegeram. Porque para Peres(falando em agosto de 2006, dois meses e tanto antes do desfecho da eleição) já proclamava da Tribuna do Senado:


 


 


– ” Ele pode ser eleito com 99,9%. Eu estarei ai na Tribuna dizendo que ele deveria ter sido mesmo destituído”.


 


 


O velhinho amazonense está perdido no meio da selva


 



Blanchard Girão é jornalista.