Reverência à simplicidade militante na homenagem aos Mártires da Lapa no RS

Foi marcado pela emoção o ato de inauguração da foto histórica de Maria Trindade (1923-1997), sobrevivente da Chacina da Lapa. A atividade, em homenagem aos dirigentes do PCdoB que foram mortos em uma ação do exército, em 1976, ocorreu nesta sexta (15)

O presidente estadual do PCdoB, Adalberto Frasson, abriu o evento. Destacou o papel dos comunistas na luta pelas liberdades democráticas no país e dos militantes, que são, segundo ele, os que realmente fazem o partido existir e ter seu sentido revolucionário. ''É importante destacar o papel de uma militante valorosa e simples como foi Maria Trindade. Ela carregou em sí este simbolismo do qual o partido é feito: de militantes, cada qual com sua contribuição''. Citou o exemplo atual da reeleição de Lula no Brasil: ''Foi o povo simples, em grande medida, que elegeu Lula. É com a simplicidade e a generosidade do povo que ocorrem as grandes transformações''. Frasson citou ainda o artigo de Diorge Conrad: ''Nos 30 anos da Chacina da Lapa, Maria Trindade continua viva na nossa memória. Assim como Pedro Pomar, Angelo Arroyo e João Drummond, que deram a sua vida por um Brasil socialista. Que honra, sermos herdeiros de suas lutas!''


 


Outro a usar a palavra foi José Freitas, um dos mais antigos militantes do PCdoB no RS. Emocionado, relatou passagens de sua convivência com Maria Trindade, e citou frase da ex-camarada com a qual sempre se identificou: ''Minha vida é o partido''.


 


''Sábia simplicidade''


A deputada Jussara Cony, junto com Freitas, ficou encarregada de inaugurar a foto. Citou poema/questionamento de Mário Quinatana, poeta gaúcho cujo centenário se comemorou neste ano e foi, também, amante das coisas simples da vida. ''Haverá ainda, no mundo, coisas tão simples e puras como a água na concha das mãos?''. Jussara respondeu a indagação, como teria respondido Maria Trindade: ''Ela responderia com cortesia… sim. Por que confirmou, com sua simplicidade (sábia simplicidade), sempre, os ideais da emancipação dos povos, da paz e do socialismo. Maria está conosco e vamos continuar respondendo, sim!''



No final, o secretário de Comunicação do PCdoB RS, Clomar Porto, apresentou a canção ''Sangue em Flor'' que foi feita em Portugal, na época, em homenagem aos mártires da Lapa.


A foto inaugurada no auditório do CE RS, cujo nome é justamente ''Mátires da Lapa'', retrata um momento de alegria, quando do retorno de João Amazonas do exílio. É o abraço de boas vindas de Maria Trindade ao velho companheiro. É também um abraço de alívio pois, até ali, ambos haviam resistido e sobrevivido, para continuar a luta pela liberdade do povo brasileiro.



Colocar a história na História



Também na sexta-feira, dirigentes do PCdoB visitaram diretor do curso de História da UFRGS, professor Luiz Dário Teixeira Ribeiro, com o objetivo reforçar a necessidade de inclusão do fato na historiografia oficial do país. ''Na memória da opinião pública e dos setores democráticos e de esquerda, o último morto da ditadura foi Wladimir Herzog, explicitamente citado assim quando se completaram trinta anos do seu assassinato, em 2005. Mas depois dele, ainda vieram o operário Manuel Fiel Filho e Angelo Arroyo, Pedro Pomar e João Drummond'', enfatizou Frasson.
Segundo ele, a Chacina da Lapa teve a particularidade de ocorrer já na chamada ''era da distensão'', ascendente direta da abertura e da ''Nova República''. A Lapa marca também, segundo ele, de forma terrível a tragédia vivida pela esquerda brasileira nos anos 70. ''O PCdoB era a única organização ainda estruturada àquela altura, e teve sua direção destroçada pela repressão feroz, que marcou o período''.



De Porto Alegre
Clomar Porto