Apoiadores de Evo espalham protestos de Cochabamba a La Paz

Cerca de 5 mil manifestantes de El Alto (cidade boliviana vizinha de La Paz) exigiram nesta segunda-feira (15/01) a renúncia em 48 horas do prefeito local – o opositor José Luis Paredes. A reivindicação é semelhante à dos cultivadores de coca contra o gov

A Federação de Juntas de Vizinhanças (Fejuve) e a Central Operária Regional (COB) de El Alto, seguidores do presidente Evo Morales, lideraram a mobilização e uma assembléia popular – que determinou instar Paredes a demitir do cargo por apoiar a autonomia de outras regiões bolivianas.


 


O presidente da Fejuve, Nazario Ramírez, disse que se, na quarta-feira, José Luis Paredes não renunciar, as juntas de vizinhanças e os camponeses do planalto vão tomar medidas de pressão para forçá-la.


 


Os manifestantes de El Alto surraram, queimaram e penduraram bonecos que representavam Paredes e Reyes Villa. A mobilização paralisou por várias horas o trânsito na principal rodovia de 12 quilômetros que une El Alto a La Paz.


 


A AFP também noticiou que milhares de cultivadores de coca bolivianos, partidários de Evo protestaram de novo pacificamente nas ruas de Cochabamba, ainda consternada pela violência que há uns dias deixou um saldo de dois mortos, para exigir a renúncia do prefeito opositor Manfred Reyes Villa.


 


Recuo possível
O governo boliviano voltou a pedir nesta terça para que organizações sociais parem de exigir nas ruas a renúncia dos prefeitos opositores e que, em alguns casos, defendem projetos de autonomia. O pedido oficial foi renovado quando organizações de Cochabamba se preparam para realizar a terceira manifestação na cidade.


 


Em La Paz, a Central Operária de El Alto e a Federação das Juntas Vicinais dessa cidade deram ontem um prazo de 48 horas para a renúncia do governador local, José Luis Paredes. O vice-ministro de Coordenação com os Movimentos Sociais, Alfredo Rada, alertou as organizações sociais de que continuar a exigir a renúncia dos prefeitos coloca em risco a estabilidade democrática do país.


 


O presidente e o vice-presidente – além dos nove prefeitos de departamento (estados), dos 27 senadores e 130 deputados – foram eleitos nas eleições de dezembro de 2005 para um mandato de cinco anos. O funcionário lembrou que Evo anunciou na sexta-feira que proporá ao Congresso uma lei que permita revogar o mandato das autoridades eleitas por voto popular mediante um referendo, incluindo o Chefe de Estado.


 


O anúncio presidencial foi aceito pelos prefeitos, seis deles da oposição. Reyes Villa, de Cochabamba, disse estar disposto a ser o primeiro a submeter a sua gestão ao referendo revogatório. O ex-presidente Jorge Quiroga, líder de Poder Democrático Social (Podemos) – a primeira força de oposição no Congresso -, prometeu publicamente apoiar esse projeto para que seja aprovado “em menos de dois meses”.


 


“Jogo de xadrez”
Omar Velásquez, secretário-geral da Central Operária de Cochabamba, disse que as organizações sociais desconfiam do tratamento de uma lei dessa natureza no Congresso: “É como um jogo de xadrez. Desconfiamos do Congresso. Muitos interesses estão em jogo e os neoliberais tentarão boicotar”.


 


Com base nesse critério, o encontro de hoje à tarde em Cochabamba decidirá se continua com a mobilização (que mantém isolada essa cidade do centro do país) ou se apóia a proposta do referendo revogatório. Os que querem destituir Reyes Villa também analisam a possibilidade de acusá-lo por abandono de funções, pois há uma semana está em Santa Cruz, alegando “falta de garantias”; por não ter apresentado o relatório de gestão ao Conselho Departamental; e por supostos fatos de corrupção.


 


O prefeito de La Paz, assim como o de Cochabamba, disse que não renunciará e lamentou que as organizações sociais “se convertam em simples instrumentos do governo. As pessoas de El Alto são racionais. Sabem quando devem tirar as autoridades que não lhes convém e não é este o caso”.


 


O vice-ministro de Coordenação pediu às organizações afins ao governo “para não adotarem medidas radicais. Todas as exigências devem ser feitas pelos meios legais e democráticos”.