Simulacro de julgamento – Ernando Uchoa

Pelos crimes inomináveis que cometeu, com contínuos atos de violência contra o seu povo e inimaginável cerceamento das liberdades, Saddam Hussein jamais poderia ficar impune. Mas não do modo abjeto como foi processado, julgado e condenado.

A sua captura pelos também criminosos invasores do Iraque, posto que sem legitimidade internacional, já sinalizava que o seu julgamento não seria realizado por um tribunal isento de paixão política e de sectarismo religioso, que se sobrepõem à lucidez e à razão. Sabe-se que a rebeldia por parte do réu, quando chegou a mandar um dos juízes “para o inferno”, bem assim, sucessivos adiamentos das sessões e trocas de advogados, não seriam ocorrências capazes de interferir no resultado nem legitimar o processo.


 


Certo é que, aconteceu um simulacro de julgamento levado a efeito pelos inimigos do ex-ditador, travestidos de magistrados, mas na verdade vassalos de Bush, responsável pela tragédia que continua a ensangüentar o solo iraquiano.
A imputação feita a Saddam era a de cometimento de crimes contra a humanidade. Portanto, da competência do Tribunal Penal Internacional. Seria um julgamento sem preconceito, sem fanatismo, justo, marcado pela lealdade às garantias legais do processo e à imparcialidade.


 


Claro que nada disso interessava ao odiento Bush nem aos inescrupulosos e subservientes juizes daquele arremedo de tribunal iraquiano, porquanto tinham um só objetivo, finalmente atingido: a execução degradante de Saddam Hussein.
Desgraçadamente, o ódio e a vingança derrotaram a justiça. Enfim, de todo esse espúrio processo liderado pelos Estados Unidos restou a conclusão de que não melhorou o Iraque e que a morte de Saddam não contribuirá para a sua pacificação.


 


Ernando Uchoa Lima é ex-presidente da OAB e seu representante no Conselho Nacional do Ministério Público