“Socialismo do século 21” fortalece Mercosul, diz Chávez

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou nesta quinta-feira (18/01) que o “socialismo do século 21”, projetado por ele, vai dar força a seu país e favorecer a integração sul-americana. O depoimento foi dado pouco depois de Chávez desembarcar no Rio

O venezuelano defendeu maior integração e menos contendas entre países da América do Sul, destacando o projeto do gasoduto do sul. A seu ver, o Brasil “não deve se preocupar” com questões como a do gás – fonte de recentes conflitos com a vizinha Bolívia, integrante associada do bloco que pleiteia a adesão plena ao Mercosul.


 


“Que não se preocupe o Brasil – porque todo o gás de que vocês necessitam, no norte e nordeste do país, está na Venezuela”, comentou Chávez. De acordo com ele, os presidentes da PDVSA (estatal venezuelana de exploração do petróleo) e da Petrobras avançaram no tema. “A América do Sul é uma grande nação, e temos de avançar para construir a união de uma só república”.


 


Críticas ao Brasil
Ao ser perguntado com que expectativa ele ia à reunião, Chávez respondeu: “Chego com espírito de Hugo Chávez, de vitória. Me sinto renovado e fortalecido”. E foi com esse espírito que o presidente da Venezuela fez fortes críticas ao assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, por sua participação na reunião anterior do grupo, em Cochabamba, na Bolívia.


 



Chávez afirmou que Garcia – após coordenar por um ano um grupo de trabalho para discutir a integração dos países da América Latina – não apresentou nenhum resultado. O grupo, segundo Chávez, foi formado a pedido dele e do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez. “Chegamos a Cochabamba, e disseram: vai haver um informe de Marco Aurélio. E Marco Aurélio falou cinco minutos. Fiquei calmo, e ninguém perguntou nada. E eu disse: esse é o informe de Marco Aurélio? Depois de um ano de trabalho?”


 


Impasses
A Cúpula do Rio, que reúne líderes de países que fazem parte do Mercosul, começou com mais divergências. Enquanto Paraguai e Uruguai reclamam do desequilíbrio entre suas pequenas economias e o restante do grupo, a Bolívia rouba a cena com sua possível entrada no Mercosul – apoiada pelo Brasil, mas rejeitada pela Argentina.


 


Há ainda a briga entre Uruguai e Argentina, que não se entendem a respeito da instalação de uma fábrica de papel e celulose uruguaia na fronteira dos dois países, além de brigarem por causa de tarifas alfandegárias no comércio bilateral.


 


Banco do Sul
Além disso, a proposta da Venezuela para a criação do Banco do Sul foi rejeitada nesta quinta-feira pelos ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A instituição – se viabilizada como Chávez pretende – vai apoiar financeiramente os projetos do Mercosul, especialmente iniciativas de desenvolvimento de países mais pobres do continente.


 


Para Mantega, o projeto não é opção, pelo menos agora, para o Mercosul. “Seria melhor se usássemos os bancos já existentes, de cada país, para projetos mais imediatos”, sustentou. Em vez da criação do banco, Furlan também defendeu o fortalecimento dos atuais mecanismos de fomento na América do Sul, como aumentar o capital da Comissão Andina de Fomento (CAF).


 


Opção
Em contrapartida, Marco Aurélio Garcia declarou que o governo brasileiro deve apresentar, até abril, uma proposta conjunta sobre a criação de um banco de fomento da América do Sul. Garcia também falou sobre a circulação de uma moeda comum no Mercosul. “Está acertado entre o Brasil e Argentina. O presidente Hugo Chávez também demonstrou interesse em utilizar esse sistema”, disse.


 


Guido Mantega acredita que o uso de moedas locais no comércio entre o Brasil e a Argentina deve começar já no meio do ano. Segundo ele, o modelo de comércio bilateral sem o uso do dólar já foi desenhado pelos bancos centrais dos dois países – e deverá passar por um período de adaptação. Paraguai e Uruguai, disse o ministro, não rejeitem a idéia de usar o mesmo sistema em todo o Mercosul.


 


“Em uma reunião que fizemos cerca de um mês atrás havia a intenção de que essa modalidade que está sendo iniciada entre Brasil e Argentina possa ser compartilhada pelos outros países”, afirmou Mantega. “Mas certamente vamos discutir esse assunto e saber que objeções eles têm a colocar, porque não há nenhuma obrigatoriedade (de usar moedas locais no comércio)“.