Franklin Martins: Governo não passa recibo na decisão do Copom

Lula agiu rapidamente para evitar que a decisão do Copom abrisse, no governo, uma temporada de críticas ao Banco Central e, por tabela, uma crise na equipe econômica. A primeira providência do presidente ao chegar a Davos, na Suíça, foi mandar o ministro

Mantega foi diplomático, ao analisar a decisão do Copom: “Imagino que seja uma estratégia para prolongar as reduções das taxas de juros ao longo do tempo. O importante é que os juros estão caindo e vão continuar a cair nos próximos meses”. Meirelles, publicamente, limitou-se a dizer que trabalha em sintonia com Mantega. Mas, em conversas laterais, vendeu um peixe parecido com o de Mantega: o corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros não significou uma trombada com a estratégia de aceleração do crescimento. O importante é que a taxa de juros continue a ser reduzida ao longo ano.



No Brasil, a ministra Dilma Roussef, em entrevistas aos principais jornais do país, foi taxativa: o mundo do PAC não vem abaixo porque houve uma desaceleração no ritmo de queda dos juros. “O importante é que está mantida a tendência de queda. Para o PAC, é isso que importa. Combinado com o crescimento, isso se reflete numa redução consistente do tamanho da dívida pública ante o PIB, além de uma redução significativa do déficit nominal”. Como se vê, o governo afinou rapidamente a viola.



É claro que o governo continua irritadíssimo com a decisão do Copom. Avalia que, a desaceleração na queda da taxa de juros, decidida dois dias depois do lançamento do PAC, num conselho claramente dividido, no mínimo foi indício de falta de sensibilidade política. No máximo, desejo de passar um recado público de que o BC está acima das pressões. Em ambos os casos, teria sido uma derrapada – a menos que a ata do Copom traga informações sobre problemas importantes na área de preços que até agora não haviam sido percebidos por ninguém. 



Mas, como disse na coluna de anteontem, a inflexão na curva da derrubada da taxa de juros já era esperada pelo Palácio do Planalto. Não se sabia quando ela viria, mas se sabia que ela viria – provavelmente na reunião do Copom de março ou na seguinte. Em termos técnicos, a inflexão já estava contemplada no PAC, que trabalhou com uma taxa Selic média em 2007 de 12,2 %, o que aponta para algo entre 11,5% e 11% em dezembro. Ou seja, se em cada uma das próximas sete reuniões do Copom deste ano houver um corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, o plano sequer será afetado no plano fiscal – desde que, é claro, a economia cresça o previsto por Mantega e Dilma..



A irritação com o BC, portanto, deve-se mais à sensação de que ele produziu um ruído político desnecessário num momento delicado, sem ter razões técnicas claras e maduras para tanto. Seja como for, Lula e seus colaboradores mais próximos chegaram à conclusão de que, se a decisão do Copom foi ruim, muito pior seria abrir um bate-boca público em torno dela, correndo o risco de dividir a equipe econômica e contaminar com um fato negativo o ambiente altamente positivo criado com o lançamento do PAC. Daí o tom de bombeiro adotado por todos os ministros durante o dia de ontem.



Enquanto isso, o PSDB e, em especial, o governador de São Paulo, José Serra, dirigiam suas baterias contra o PAC, considerado tímido e fraco pelos tucanos. Serra disse que a decisão do Copom é contraditória com a idéia de aceleração do crescimento. E cobrou: “Quem foi eleito para governar o Brasil foi o presidente; ele é que forma o governo, inclusive o BC”. O presidente do PSDB, Tasso Jereissati, criticou o PAC por outro viés. Considerou um grande equívoco, uma visão ultrapassada, “dar grande importância ao investimento público em detrimento do privado”. 



Um quer menos autonomia para o Banco Central. O outro quer menos Estado na economia. Como se vê, também no PSDB, a turma não está falando o mesmo idioma.