Só orçamento impositivo divide posições no 1º debate da Câmara

Apenas uma questão, substantiva — o orçamento impositivo — dividiu nitidamente as opiniões no debate desta sexta-feira (26) entre os três candidatos à presidência da Câmara dos Deputados. Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Gustavo Fruet

A proposta do orçamento impositivo — que o Congresso aprova e o governo é obrigado a cumprir — foi introduzida por Aldo, na pergunta que dirigiu aos dois concorrentes. Chinaglia rejeitou a idéia, alegando que ela “é uma peça do parlamentarismo”. Fruet propôs uma tramitação simplificada mas “sem tratar do contingenciamento”. Já o deputado comunista defendeu o orçamento impositivo, nem que seja com “um cronograma de implantação”, lembrando que ele vigora em países presieencialistas como os EUA e semipresidencialistas como a França.



Ato falho de Chinaglia



O debate ganhou público e interesse dos parlamentares devido ao “grau de imprevisibilidade maravilhososo”, para usar um trecho da fala final de Fruet, da votação na quinta-feira que vem. Um ato falho do candidato petista também nas palavras finais, ajudou a reforçar essa idéia.



Ao falar sobre declarações públicas de voto, Chinaglia pediu aos deputados “que manifestem apoio a mim, no primeiro e no… se houver, no segundo turno”. A frase retificada mostra o quanto e disputa está dura e reforçou a previsão de que haverá segundo turno.



Uma eleição sem severinos



O debate mostrou que não há severinos cavalcantis na disputa deste 1º de fevereiro. Dentro das molduras distintas de suas trajetórias e de suas candidaturas, os três candidatos se mostraram como quadros muito qualificados inclusive na habilidade para sair de saias justas sem assunir explicitações que julgaram eleitoralmente inconveniente.



Há uma dura disputa, em especial entre Chinaglia e Aldo, ambos da base do governo Lula, mas não um quadro que abra espaço para o imponderável, como o foi a curta gestão (fevereiro-setembro de 2005) do deputado não reeleito Severino Cavalcanti — cujo apoio declarado a Chinaglia foi recordado em uma alfinetada de Fruet.
Todas as intervenções foram feitas com um olho no eleitorado em disputa — restrito aos 513 deputados federais que assumem seus mandatos na quinta-feira que vem — e outro na opinião pública — pois o debate foi transmitido via internet pela TV UOL. E apesar desses dois públicos nem sempre coincidirem, os três trataram de não se incompatibilizar nem com um e nem com outro.



“Não há intriga no PSDB”



Na pergunta sobre a reforma política, por exemplo, Aldo Rebelo se definiu a favor da votação em lista fechada e do financiamento público de campanha, admitindo porém “toda a carga de polêmica e até de rejeição” que o debate traz, “desde o Império”. Chinaglia afirmou que tende para as duas propostas, mas com as ressalvas de que é para vigirem apenas daqui a “alguns anos” e de que teme “muito a burocracia partidária”. Fruet preferiu defender “a discussão” do voto distrital misto, antiga bandeira do PSDB.



O momento de maior eletricidade, em um confronto em geral bem comportado, veio numa resposta de Fruet a Chinaglia. O petista questionou se não haveria uma incongruência do tucano ao dizer que se deve fortalecer os partidos, mas ter se lançado pelo movimento terceira via sem consultar o PSDB. Fruet respondeu, com certa rispidez: “Lamento a forma como o senhor formula a questão”. Assegurou que “não há intriga, não há conflito no PSDB”. Criticou o líder tucano, Jutahy Jr., que duas semanas atrás hipotecou o apoio da bancada a Chinaglia, mas em seguida cobriu-o de elogios por ter sabido dar a marcha-à-ré.



O evento foi organizado pelo jornal Folha de S. Paulo, tendo como mediador Melchiades Filho, diretor-executivo da Sucursal de Brasília. Para a próxima segunda-feira (29), a três dias do dia da eleição, está previsto outro debate, com acesso bem mais amplo do público, pois será transmitido ao vivo pela TV Câmara. Esta é a primeira vez que uma eleição de mesa da Câmara ganha projeção política a ponto de ensejar estas iniciativas.