Bienal da UNE: Sérgio Amadeu ataca censura no mundo digital

Por Carla Santos
Um Café Literário permeado por debates sobre questões de direito autoral, liberdade de informação, expressão e de conhecimento, convergindo para um elemento central muito em evidência nos últimos dias, principalmente no Brasil – as lib

Assim iniciou, na tarde de domingo (28/01), o Senid 2007 – Seminário Nacional de Inclusão Digital da UNE -, que acontece dentro da programação da 5ª Bienal de Cultura, Ciência e Arte da entidade estudantil. Às 13 horas, no calor das atividades que se multiplicavam dentro da Fundição Progresso, o cientista político Sérgio Amadeu – um dos coordenadores do projeto Rede Livre – abriu o seminário com a palestra “Da restrição do Pensamento a Liberdade do conhecimento: entendendo o debate da construção do mundo digital livre”.


 


Amadeu abordou como os bens culturais e os bens simbólicos adquirem um valor dentro das redes informacionais e, através desta, tem uma capacidade intangível, diferente da produção industrial clássica. “Para reproduzirmos uma cadeira, podemos usar os mesmos materiais e utilizar métodos apurados para que em uma linha de produção elas sejam praticamente idênticas – mas cada uma terá sua materialidade e sua particularidade”, disse.


 


“Nos meios digitais, a reprodução dos bens culturais (músicas, códigos, textos, fotos) é idêntica”, não agrega custo e não exclui quem já o possui, ou seja, não é possível imaginar aplicarmos as mesmas regras da escassez para os bens culturais que circulam nos meios digitais.”


 


Analista há muito tempo da questão da propriedade intelectual e das patentes no contexto da internet, Amadeu questiona a atual contradição na produção e reprodução da informação. “Vivemos em um tempo de disputa de dois padrões de desenvolvimento – o colaborativo e o restritivo”. Nesse sentido, as grandes corporações, produtoras de software, gravadoras, editoras, reproduzem mecanismos jurídicos que criminalizam a cooperação e a disseminação do conhecimento.


 


Caminhos abertos para o conhecimento
Porém, os caminhos que possibilitam que o conhecimento colaborativo e compartilhado gere cada vez mais conhecimento já pavimentam uma avenida. Em menos de 15 anos, o GNU/Linux – um sistema operacional livre – alcançou um nível de desenvolvimento que supera seu similar proprietário em inúmeras áreas. Segundo Amadeu, os dez sites mais acessados na internet (entre eles Yahoo, Google e Youtube) usam software livre para controlar seus servidores.


 


“Códigos abertos geram mais segurança, pois podem ser auditados, diferentemente do que ocorre com o software proprietário”. Modelos fechados podem conter “robôs” que infringem a liberdade dos usuários. “E o mais engraçado”, diz Amadeu “é que juridicamente qualquer invasão de privacidade é questionada ferozmente. Uma escuta telefônica não pode ser efetuada sem mandado judicial – mas porque essas ações não são questionadas?”.


 


Se a rede informacional, a internet, é o meio que possibilita exponenciar o conhecimento ao infinito, da forma de produção intangível de bens, o seu alcance torna-se elemento de inclusão ou exclusão. De acordo com Sérgio Amadeu, “o que se observa dentro da estrutura de internet é que há também a reprodução de um modelo centralizador de informações e de acesso, hoje necessitamos de um provedor para que tenhamos acesso a uma informação de um computador que está ao nosso lado, pois a hierarquia da rede assim foi configurada.”


 


Nada de técnico está envolvido nesse processo – são questões de padrões, definidos por conveniência ou imposição. “Por que não utilizarmos formas colaborativas na forma de conexão com as redes?”. Nesse sentido, Amadeu apresentou o movimento OpenSpectrum e o conceito de Rede Mesh (rede malha), em que os computadores se tornariam máquinas de “telecomunicar”.


 


Cada computador poderia ser uma estação de transmitir e retransmitir informações, dispensando provedores de acesso e ampliando a cobertura de acesso a internet. Para isso, poderia se utilizar a tecnologia Wi-Fi, com redes em fio, que dispensariam também a estrutura de cabos.


 


Da máquina de comunicar para a de telecomunicar
Esse conceito, também introduzido nos modelos de laptops do projeto OLPC (One Laptop Per Child), idealizado por Nicolas Negroponte, estará sendo testado por algumas escolas brasileiras este ano. De fato, seria a verdadeira democratização do conhecimento, da comunicação e dos meios de produzir informação. Qualquer laptop poderia ser o protagonista de uma transmissão de vídeo, de áudio, sem ter que passar para qualquer filtro, ou restrição mercadológica.


 


Amadeu deixou claro que essa luta também é política – as vantagem de uma produção colaborativa dependem da vontade política e das possibilidades de assim se produzir. “Nada impede que continuemos vivendo em um mundo em que os velhos métodos de apropriação de capital e conhecimento continuem vigorando, mesmo que seja criminalizando usuários, direta ou indiretamente”, afirma


 


O cientista político fez um apelo para que também haja um engajamento cada vez maior nesse sentido. “Se a disputa está dada, precisamos definir de qual lado estamos”, opinou Amadeu,  ressaltando o papel que a UNE pode exercer, enquanto mobilizadora dos estudantes, para que essas questões, tão pertinentes, não fiquem à margem das discussões.


 


Colaborou Fabricio Solagna