Gil e Alberto Costa e Silva debatem tema da Bienal da UNE

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, e o diplomata e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, Alberto da Costa e Silva, foram os convidados de honra da segunda-feira (29/01) na 5º Bienal de Arte, Ciência e Cultura da União Nacional dos Estudantes (

Autor do livro que dá título ao tema da 5º Bienal, Alberto iniciou o debate no Espaço Angola da Fundição Progresso dizendo que “estamos impregnados da presença africana, estamos impregnados da alma e do povo africano”. Ao comentar o tema do evento, ele não poupou elogios: “É extremamente promissor o motivo da alegria para mim e para todos que estão nesta mesa estar na Bienal de Cultura da União Nacional dos Estudantes dedicada a estas relações entre o Brasil e a África. Relações que são históricas e também presentes hoje em dia”.


 


Já Gilberto Gil embalou no fio proposto por Alberto Costa e Silva e buscou desvelar quais conexões históricas poderiam possibilitar esta chamada “impregnação da alma africana”. Iniciou seu discurso lembrando fatos do século 17 para dizer que não há cidade mais apropriada para falar deste tema senão a cidade do Rio de Janeiro. “Embora Salvador seja a maior capital de negros do país, o Rio foi escolhido como sede (da Bienal) deste ano pela sua importância histórica, já que é a cidade que recebeu o maior porto negreiro e é sede do samba e do funk brasileiro”, disse.


 


Lembrou Salvador Sá e a frota por ele comandada, com 11 navios de guerra, para reconquistar Angola, então ocupada por holandeses – que no período também haviam tomado de Portugal o atual estado de Pernambuco. O tráfico negreiro que a partir daí se intensificou no Brasil teve efeitos profundos na cidade do Rio.


 


“Foi no Rio de Janeiro que os funcionários, militares, padres, trabalhadores e muitas outras categorias profissionais e sociais vindas de todo o país e do interior se 'brasilianizaram'”, disse Gil. “Foi aqui também que muitos destes brasileiros aprenderam que alma do Brasil, a sua essência profunda, a sua cultura, o seu traço entre o oeste e o leste do país, entre o passado e presente e futuro era e continua sendo afro-brasileira, como também ameríndia, produto das populações originais deste território.”


 


70 anos da UNE
Utilizando-se de inúmeras declarações concedidas por lideranças do movimento estudantil a respeito da Bienal, a voz do ministro confundiu-se com a voz dos estudantes. Ao lembrar os 70 anos da UNE, Gilberto Gil, declarou: “A UNE tem um longo passado de lutas e os estudantes pagaram um pesado tributo na luta contra a ditadura, na luta pela democracia e na luta pelo seu aprofundamento, que, neste momento, passa por um período – eu diria, e todos nós aqui concordamos –  promissor. Período de esperanças em relação aqui que leva adiante e a contenta esse aprofundamento”.


 


Para o ministro, a democracia plena precisa passar pelas cotas para negros nas universidades públicas e desafiou as entidades a levarem a cabo esta bandeira. “Novas lutas desafiam a juventude. Principalmente depois que começou o debate sobres as cotas.”


 


Ciente de toda a polêmica que envolve esta pauta dentro e fora do Congresso Nacional, Gil adiantou que “somos todos a favor da noção mérito, mas é preciso dizer que esse ideal não é apenas resultado de um acúmulo individual, mas resultado dos acúmulos variados, acúmulos materiais e imateriais, de conhecimento e de propriedade que passam de geração e geração”.


 


Em seguida citou as imensas desigualdades socais existentes em no Brasil para concluir que “é preciso pensar menos abstratamente e mais historicamente tais questões. Alguns, quando falam em mérito, parecem admitir a possibilidade de que ele seja produto de uma corrida individual, num território sem história e sem certa formação em sociedade. Somos todos a favor de uma República com direitos iguais e oportunidades iguais, mas torna-se preciso neste tecido não analisar abstratamente a formação de nossa cidade e das formas contemporâneas de exclusão do trabalho e do não trabalho”.


 


Alberto Costa e Silva fechou o debate agradecendo a UNE por ter se apropriado tão bem do conteúdo de seu livro. “Mais que apenas utilizar um título supostamente bonito, os estudantes souberam dar corpo e dimensão a essência de sua expressão.”