Gustavo Petta: A UNE de volta pra casa!

Nestes 70 anos de vida, a UNE sempre manteve alta a bandeira da democracia, da liberdade, da igualdade, da defesa da educação pública e de um Brasil soberano e mais justo. Fundada em 1937, abraçou a luta contra o nazifascismo, empunhou a bandeira nacional

Sem endereço fixo, conquistou sua sede com ousadia. Foi em 1942, numa grande manifestação,  que os estudantes ocuparam o prédio do Clube Germânia – reduto de simpatizantes nazistas – na Praia do Flamengo, 132. Pouco depois, o presidente Getúlio Vargas doava definitivamente o edifício à entidade.



O local rapidamente tornou-se referência para os estudantes, não só do Rio de Janeiro, mas de todo o Brasil. Ali pulsava a força da juventude, a energia que impulsionou tantas lutas fundamentais para a construção da universidade e da nação. Foi também na Praia do Flamengo, 132, que se escreveu um dos episódios mais ricos da história da cultura brasileira, o Centro Popular de Cultura – CPC da UNE.


E uma entidade cuja existência estava intrinsecamente ligada à luta pela democracia era incompatível com a ditadura militar que se iniciava em 01 de abril de 1964. Tanto, que o primeiro ato do regime de exceção foi incendiar a sede da UNE, revelando a arbitrariedade que tomaria conta do Brasil. Anos depois, já na década de 80, o antigo prédio que estava condenado foi demolido e ocupado ilegalmente por um estacionamento.



Retornar para sua sede depois de tantas jornadas tem sido uma luta permanente da UNE. Essa é uma dívida histórica do Estado para com os estudantes brasileiros e um dos atos simbólicos para superar definitivamente um período tão duro para o povo deste país.



O presidente Itamar Franco, atendendo à reivindicação dos estudantes, devolveu legalmente a escritura do terreno da Praia do Flamengo para a entidade. Porém, as dificuldades da justiça impediram que a UNE tomasse posse da propriedade dos estudantes. Dez anos depois, o prefeito do Rio, César Maia, interditou por motivos administrativos o estacionamento que lá funciona clandestinamente, mas ele permanece, impune, irregular.



No ano em que completa 70 anos e durante a realização do maior evento cultural de juventude do continente – a 5ª Bienal de Arte, Cultura e Ciência da UNE, os estudantes brasileiros reencontram sua história e, mais uma vez, com a ousadia e determinação que marcam a trajetória da UNE reocupam sua sede para nela fincar a bandeira da democracia.



A UNE está de volta para casa. Esse Rio de Janeiro que tanto abraça a nossa entidade. Essa casa que será, como antes, a referência da luta pela Universidade Pública, pela democratização do acesso ao Ensino Superior, em defesa do desenvolvimento nacional, da distribuição de renda, da produção cultural universitária, do respeito à diversidade que são os desejos dos milhões de estudantes deste país.



A UNE está de volta para casa. Por que cada Centro Acadêmico, cada DCE, cada Centro Universitário de Cultura e Arte –CUCA, que são as várias casas da UNE espalhadas pelo país querem, exige, que a sua entidade retorne ao seu primeiro lar, para nele dar à luz a outras lutas, a novas idéias sempre em sintonia com os desafios de cada época.



A UNE está de volta pra casa. E em sua nova sede, um presente do arquiteto Oscar Niemeyer, vai construir para os estudantes e para os cariocas um Centro Cultural e o Museu da Memória do Movimento Estudantil, para manter sempre viva a chama da nossa luta. A assinatura de Niemeyer neste projeto revela a simbologia do retorno da entidade dos estudantes para a Praia do Flamengo, como um ato de reafirmação da democracia. Ao ganharem corpo na nova sede, os traços únicos de Niemeyer, irão revitalizar a região, oferecendo à comunidade mais uma alternativa cultural.



A UNE voltou pra casa, e voltou para ficar! Venha nos fazer uma visita, as nossas portas estarão sempre abertas.



Gustavo Petta é presidente da União Nacional dos Estudantes