Brasil vende mais a países em desenvolvimento do que a ricos
Pela primeira vez na história, o Brasil exportou mais a países em desenvolvimento do que a países desenvolvidos. No ano passado, o valor das exportações do Brasil para os países em desenvolvimento somou US$ 67,8 bilhões. Para os desenvolvidos, US$ 67,2 bi
Publicado 09/02/2007 14:41
Do total de US$ 137,5 bilhões exportados pelo país no ano passado, praticamente a metade, 49,3%, destinou-se aos países em desenvolvimento, e 48,9%, para os desenvolvidos. O restante, 1,8%, é de “operações especiais”, como consumo de bordo em navios e aviões.
Em 2005, os países ricos respondiam por 50,6% das exportações brasileiras, e os em desenvolvimento, 47,7%.
Para analistas, os principais motivos para a mudança são: 1) os países em desenvolvimento estão crescendo e comprando mais, principalmente alimentos e produtos básicos, importantes itens da pauta exportadora; 2) os países ricos protegem seus mercados a muitos desses produtos; 3) os produtos manufaturados que o Brasil exportava mais aos ricos perderam mercado pelo real forte.
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, afirma que esses números mostram que a classe empresarial brasileira se mobilizou em busca de novos mercados: “As empresas descobriram que existem outros mercados a explorar além dos tradicionais”.
Furlan acha que essa é uma tendência irreversível. Os países em desenvolvimento guardam muito mais semelhanças com o Brasil do que os desenvolvidos, o que, segundo Furlan, facilita as negociações.
Leque
Outro fator é a pauta bastante diversificada de produtos do Brasil – o item mais relevante da pauta (material de transportes) responde por só 15% do total das vendas. O país tem condições de atender a diversos mercados, ao contrário de países dependentes de um produto, como Chile (cobre), Venezuela (petróleo) e Rússia (gás).
Apesar da mudança, as vendas aos países desenvolvidos também cresceram – US$ 7,4 bilhões de 2005 para 2006. Aos em desenvolvimento, cresceram mais: US$ 11,4 bilhões.
Esses dados mostram também, diz Furlan, que o Brasil não discrimina mercados. “Não há ideologia nisso, e não podemos desprezar nenhum mercado. Vendedor não escolhe cliente.” Ele também atribui ao governo contribuição pelos resultados. Em primeiro lugar, ao grande número de viagens internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ajudaram a abrir mercados.
Mais importante do que isso, no entanto, para Furlan, foi a mudança cultural de não haver mais dificuldade para o governo fazer lobby para empresas sediadas no Brasil, de capital nacional ou estrangeiro: “No passado, esse lobby era considerado pecaminoso”.
Fortalecimento
O maior crescimento dos países emergentes, as barreiras enfrentadas no Brasil para exportar aos ricos e o câmbio desfavorável à venda de manufaturados são apontados como os principais fatores que explicam o fato de o país, pela primeira vez na história, ter exportado mais para os países em desenvolvimento do que para os desenvolvidos.
A análise é do economista Carlos Cavalcanti, diretor do departamento de Relações Exteriores da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Ele acha que esse resultado foi fruto essencialmente de uma realidade de mercado e pouco tem a ver com a política externa do governo. “Se o Itamaraty fosse americanista, ainda assim o país estaria vendendo mais para os emergentes”, disse ele.
O principal fator que explica esse aumento das exportações para os pobre é, sem dúvida, o crescimento econômico dos emergentes. Esses países passaram a comprar principalmente mais alimentos, e o Brasil tem excedentes de produtos agrícolas.
O mesmo não ocorre com os países ricos. Os Estados Unidos e a Europa impõem diversos tipos de mecanismos de proteção contra o Brasil, principalmente à importação de produtos agrícolas. Há barreiras tarifárias e sanitárias, além de subsídios internos praticados pelos ricos, como no caso da soja produzida nos Estados Unidos.
Um terceiro fator é o câmbio apreciado, que, segundo Cavalcanti, impede que o Brasil amplie suas exportações, principalmente de manufaturados para os Estados Unidos. Mesmo assim, os EUA continuam sendo o país que mais compra do Brasil. No ano passado, comprou um total de US$ 24,4 bilhões, 36,4% do total destinado aos desenvolvidos.
Entre os países em desenvolvimento, o maior comprador do Brasil foi a Argentina, que importou, em 2006, US$ 11,7 bilhões, o que representa um crescimento de 400% em relação a 2002. Logo depois vem a China, com US$ 8,4 bilhões, 233,3% a mais do que quatro anos atrás. Em terceiro veio o México, com US$ 4,4 bilhões.