Fidel completa seis meses de afastamento sem abalos no poder

As mensagens positivas sobre a saúde de Fidel Castro se repetiram nos últimos dias em Cuba, onde não houve mudanças substanciais desde que o líder da revolução delegou seus poderes há mais de meio ano, frustrando os planos dos mafiosos cubanos pró-EUA

Raúl Castro, presidente provisório desde que, em 31 de julho de 2006, o comandante-em-chefe abandonou o poder por uma doença que continua sendo segredo de Estado, voltou a se referir ao tema no sábado, com um cada vez mais repetido “Continua melhorando dia a dia”.


 


O também ministro das Forças Armadas escolheu o Conselho Militar do Exército Central de Cuba para falar do tema, apenas 48 horas após ter indicado na inauguração da Feira Internacional do Livro de Cuba – antiga Feira de Havana – que “consulta seu irmão sobre tudo”.


 


“Sobre as questões mais importantes ele é consultado, não interfere em nada, mas está ciente de tudo”, disse Raúl Castro numa breve declaração aos jornalistas, na qual comentou que Fidel Castro faz muito exercício e tem um telefone ao lado, que ele “usa bastante”.


 


“Por sorte não me liga muito. Liga para o vice-presidente (Carlos) Lage, para o chanceler Felipe (Pérez Roque) e para outros mais”, acrescentou entre risos.


 


Fidel Castro apareceu pela última vez no dia 30 de janeiro, num vídeo no qual se podia ver o líder cubano ainda com sinais de que se recupera, mas conversando animadamente com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.


 


A alusão à atividade de Fidel Castro nas tarefas de Governo, sem interferir, mas a par de tudo, coincide com a mensagem oficial repetida durante estes seis meses pelas altas esferas de poder, de que Castro retornará ao seu cargo quando estiver recuperado.


 


A Cuba que o comandante-em-chefe encontraria hoje não seria muito diferente da que deixou.


 


A mudança de estilo que trouxe seu irmão e o pedido de mais eficiência na economia da ilha não significaram uma mudança na orientação das diretrizes econômicas do Governo.


 


Há maior insistência na necessidade de recuperar o setor agropecuário, que no ano passado teve uma contração de 7,5%, e em devolver o vigor à indústria açucareira, também com uma acentuada queda de 8,4% em 2006.


 


O Governo falou abertamente da crise do transporte urbano, que o próprio Raúl Castro disse que “esteve à beira do colapso”, e da habitação, que tem um déficit oficial de mais de 600.000 unidades.


 


Raúl Castro também impulsionou a extensão da aplicação do modelo de “aperfeiçoamento” empresarial empregado nas companhias das Forças Armadas.


 


Mas não foram percebidas mudanças substanciais.


 


Se havia alguma dúvida, na quinta-feira, o ministro da Economia e Planejamento e vice-presidente do Conselho de Ministros, José Luis Rodríguez, deixou claro que, para as autoridades cubanas, “só o socialismo é capaz de brindar as possibilidades indispensáveis” ao processo de desenvolvimento econômico empreendido pela ilha.


 


Entretanto, surgiu na ilha um debate inédito lançado por um grupo de intelectuais de dentro e fora do país, que utilizou o e-mail para questionar temas largamente adiados, relativos às políticas culturais aplicadas nos anos 70.


 


Estimulados pela aparição na televisão de alguns dos responsáveis pelo denominado “Qüinqüênio Cinza” (1971-1976), como ficou conhecida a política cultural de censura, perseguição e marginalização de dezenas de intelectuais e artistas por sua homossexualidade e sua suposta falta de compromisso revolucionário, o debate gerou reuniões com as autoridades culturais da ilha.


 


Além do futuro do debate, alguns dos envolvidos no intercâmbio de opiniões reconhecem que a discussão não teria se realizado antes do dia 31 de julho.


 


Fonte: EFE