IBGE irá recalcular PIB de 1995 a 2006

As principais estatísticas econômicas do Brasil sofrerão um chacoalhão em março, quando o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vai estrear sua nova metodologia de cálculo do Produto Interno Bruto. índices como o cálculo do superávit prim

Para poder comparar o PIB de 2006 com os dos anos anteriores, o instituto também vai recalcular o crescimento da economia brasileira em toda a chamada era FHC e no primeiro mandato de Lula – desde 1995.



O crescimento pode ter sido maior, pode ter sido menor. Por enquanto, os técnicos envolvidos não revelam números ou tendências. “Não podemos falar ainda. É um tema muito delicado para o mercado”, disse Roberto Luís Olinto Ramos, coordenador de Contas Nacionais do IBGE, que chefia a equipe responsável por mensurar a geração de riquezas no país.



Conseqüências
A reação do mercado não é a única que preocupa. Se o PIB do país for maior, o governo terá, paradoxalmente, motivos para se preocupar: precisará aumentar o arrocho fiscal para manter o superávit primário de 4,25%. E isso num momento em que anuncia desonerações e elevação de investimentos para turbinar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).



O governo pode acabar gastando mais também com o aumento do salário mínimo – uma das propostas do PAC é vincular o mínimo à variação do PIB e da inflação.



Para se antecipar a eventuais acusações de “manipulação” de resultados, o instituto preparou um cuidadoso cronograma de divulgação da própria metodologia, em seminários e pela internet, para só depois anunciar os valores. “Não queremos deixar nada que dê a impressão de que há algo escondido”, afirmou Olinto.



Mesmo com as precauções, o IBGE está ciente de que será alvo de críticas por conta dos novos números. “Qualquer que seja o resultado, é certo que seremos esculhambados pela parcela descontente”, disse o coordenador da equipe, em tom de desabafo, numa referência à politização do PIB promovida por governistas e oposicionistas.



Influência argentina
As preocupações subiram de tom com o episódio da manipulação do índice de inflação na Argentina – no início do mês, a diretora do Indec (o IBGE de lá) foi demitida após se recusar a divulgar uma taxa inferior à real. O índice anunciado depois, de 1,1% para janeiro, foi contestado por economistas de peso, pela imprensa e até por Roberto Lavagna, primeiro ministro da Economia do governo Nestor Kirchner.



No Brasil, segundo Olinto, nunca houve nada parecido. “O IBGE age com autonomia. Podem até nos criticar, mas nunca sofremos pressões para mudar ou esconder resultados.”



O PIB é a soma de todas as riquezas geradas em um país. Uma fábrica de sapatos que vende um lote por R$ 1 milhão após gastar R$ 800 mil na produção, por exemplo, contribui para o PIB com R$ 200 mil. O trabalho do IBGE é coletar e organizar estatísticas dos mais variados setores econômicos para tentar somar todas essas contribuições e, com isso, traçar um quadro o mais fiel possível do tamanho da economia do país.



O cálculo do PIB feito até hoje não está errado – obedece a uma metodologia aceita internacionalmente, normatizada pela ONU. Ao retratar a evolução de uma economia com milhões de atores e fatores de influência, porém, é impossível atingir precisão absoluta. E é um passo em direção a uma maior precisão que o IBGE quer dar. “O cálculo vai melhorar, vai ficar muito mais referenciado na realidade”, afirmou Olinto.



Maior precisão
As mudanças metodológicas são complicadas e quase impenetráveis para quem não está familiarizado com temas como “consumo de capital fixo” e “valores correntes da produção”.



Em termos gerais, pode-se dizer que a nova contabilidade vai detectar de forma muito mais precisa o peso do governo na economia – estima-se hoje que o setor público responda por cerca de 15% do Produto Interno Bruto.



Haverá uma mudança considerável na base de dados do PIB, com a incorporação de levantamentos anuais do IBGE até então desprezados, como Pesquisa Anual da Indústria, Pesquisa Anual de Serviços, Pesquisa Anual de Comércio e Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC).



Também será levado em conta um universo bem maior de empresas. Atualmente não há dados que permitam medir com maior acuidade a contribuição das pequenas empresas para o PIB. Essa lacuna será preenchida com a inclusão de dados do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica no cálculo. Os dados foram cedidos pela Receita Federal – e o IBGE esclarece que eles são brutos, não individualizados, para não ferir o sigilo dos contribuintes.