Escândalo que liga paramilitares a políticos provoca crise na Colômbia

O escândalo da chamada “para-política”, a colaboração entre paramilitares e políticos colombianos devido à qual foram detidos oito congressistas aliados do presidente Álvaro Uribe, custou nesta segunda-feira o cargo da ministra das Relações Exteriores, Ma

María Consuelo renunciou depois que membros do Congresso dos EUA deixaram entrever que o escândalo punha em risco a aprovação do tratado de livre comércio e o financiamento do combate ao tráfico de drogas. “Saio porque não estou amarrada a nenhum cargo … A certeza da inocência de meu pai e meu irmão me obriga a sair para ter a liberdade de estar ao lado deles e apoiá-los como filha e como irmã”, ela disse, acrescentando que o processo judicial contra seus familiares deve ficar livre de interferências.


 


Álvaro Araújo é acusado de ter recebido financiamento dos paramilitares – dinheiro procedente do narcotráfico e de extorsão – e de cumplicidade em um seqüestro.


 


Em 16 de novembro passado, quando era apenas um rumor que o senador Álvaro Araújo seria detido por esse escândalo que deixou a classe política em alerta – além do pai de María Consuelo, vários congressistas e ex-funcionários públicos estão sendo investigados -, o irmão da ministra, de 42 anos, disse a Uribe: “Se vierem atrás de mim, virão pela Conchi (apelido da ex-ministra) e pelo senhor, presidente”.


 


Uribe apoiou María Consuelo até o último momento. Não estava disposto a dar uma vitória a seus opositores, que em dezembro passado, em um debate no Congresso, já tinham pedido a cabeça da ministra. Não só os políticos, mas muitos artigos de opinião na imprensa nacional pediram a saída de Araújo, “pelo bem do país”. Depois de seis meses no cargo, Conchi finalmente atirou a toalha.


 


No entanto, não foi a pressão nacional que forçou sua saída, mas a internacional, especificamente a dos EUA. O Congresso americano, sob o controle do Partido Democrata, deverá decidir em breve a sorte do tratado de livre comércio recém-assinado pelos dois países e a continuidade do apoio financeiro para uma nova fase do chamado Plano Colômbia, o programa de ajuda dos EUA no “combate” ao tráfico de drogas e ao “terrorismo”. A Colômbia é o segundo país que recebe mais ajuda militar americana, depois de Israel.


 


O jornal The Washington Post, em sua edição de sábado passado, advertiu sobre o impacto negativo do escândalo da para-política sobre a opinião dos políticos de Washington. O representante Sander Levin, presidente do comitê onde começará o trâmite para a aprovação do tratado de livre comércio, afirmou que o acordo não poderia passar no Congresso “da maneira como estava redigido” e que o Plano Colômbia estava “mais que ameaçado pelo escândalo da infiltração paramilitar” na aliança governamental colombiana. “Eu votei a favor do Plano Colômbia no início. Mas os novos acontecimentos políticos são muito preocupantes”, disse Levin.


 


Em um artigo publicado ontem no jornal El Tiempo, afirma-se que em Washington o escândalo foi batizado de “Paragate”. Cita declarações do influente senador democrata Patrick Leahy, que preside o subcomitê que autoriza as verbas para o Plano Colômbia: “Isto confirma as preocupações que muitos tinham há vários anos, de que os paramilitares se infiltraram nos estamentos econômicos e políticos colombianos. Deveríamos fazer uma pausa e ver com quem estamos tratando”.


 


A demissão da ministra também é atribuída à necessidade de o governo evitar um escândalo diante da visita do presidente americano, George Bush, à Colômbia em 20 de março próximo. Uribe é o principal aliado de Bush em uma América do Sul dominada por governos de esquerda.


 


Enquanto os congressistas acusados de suas ligações com os paramilitares se acostumam a sua nova vida na prisão, outros legisladores tiveram de prestar contas ontem à Corte Suprema de Justiça por terem assinado junto com os chefes paramilitares das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC – “paras”) em 2001 um documento no qual se comprometem a “refundar uma nova nação”.


 


No meio da crise, e diante da certeza de que o que se revelou até agora é só a ponta do iceberg, e que muitos que hoje ocupam cargos públicos foram apoiados financeiramente pelos paramilitares, começaram a surgir propostas para solucionar a crise, como reduzir o período do Congresso e convocar eleições em 2008; revogar imediatamente o Legislativo e aprovar mecanismos para filtrar os candidatos a parlamentares.