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Sempre mantive excelentes relações com os comunistas, diz José Sarney

Por Priscila Lobregatte e Márcia Xavier,
de Brasília


O senador José Sarney, do PMDB do Amapá, tem evitado falar com a imprensa. O motivo é a disputa pela presidência do PMDB. No entanto, ao ser questionado sobre a possibilidade de se decl

Durante a gestão de Sarney, em 1985, o PCdoB foi legalizado, depois de quase 40 anos de clandestinidade. “Quando da transição democrática, quando tive que administrar revanchismos e posições radicais tanto à esquerda quanto à direita, sempre mantive excelentes relações com os comunistas. Conversava sempre com o João Amazonas, um velho amigo, principalmente quando insisti em legalizar os partidos que estavam na clandestinidade”, disse.


Sarney lembrou ainda que naquele período de transição, houve resistência dos militares. “Mas, como minha posição era fazer uma transição não contra os militares, mas com os militares, os setores mais resistentes acabaram cedendo. Assim como não admiti revanchismo contra os militares, também não aceitava o fato dos partidos de esquerda estarem proibidos”, explicou. De acordo com o senador, “quando soube das resistências à idéia de legalizar o Partido Comunista, resolvi receber no Planalto os dirigentes comunistas. Este fato acabou com qualquer questionamento, pois mostrou que a decisão era já um fato consumado”. E completou: “Todos sabiam da minha convicção em garantir o retorno integral da democracia, pois tinha acabado com a censura à imprensa, aplicado o pluripartidarismo e legalizado plenamente o sindicalismo e as grandes centrais sindicais”.


José Sarney também recordou a trajetória de lutas do PCdoB. “A história do Partido Comunista do Brasil está associada, em primeiro lugar, à colocação da pauta social na agenda política do país. Antes de 1922, a questão social era caso de polícia. Na Era Vargas, os direitos trabalhistas concedidos vieram muito mais pelas pressões anteriores dos comunistas do que pela vontade das elites”, constatou. “Foi o ‘dar os dedos pra não perder as mãos’”, disse.


Outro ponto destacado pelo senador é a luta pela redemocratização no período militar. “Pela própria conjuntura internacional polarizada entre EUA e URSS, internamente, os comunistas foram os mais perseguidos pelo arbítrio. E tiveram um papel importante para que alcançássemos a redemocratização”.


Saindo da esfera política e entrando no âmbito pessoal, o senador relatou:  “desde jovem sempre tive ótimas relações com amigos comunistas. Pessoas com preocupação social e desejo de justiça. Comungava com eles estes sentimentos”. Por fim, Sarney enfatizou: “só não me tornei comunista pela minha formação católica”.