Eron Bezerra fala de projetos e expectativas a frente da Sepror

Em entrevista ao Vermelho, o deputado Eron Bezerra (PCdoB-AM) falou do novo momento que o PCdoB do Amazonas vive, sobre suas expectativas e metas para a Secretaria de Estad

Eron Bezerra assumiu, no último dia 23 de fevereiro, a Sepror. Comunista desde a década de 70, é a primeira vez que Eron assume um cargo no Poder Executivo. Entre as metas do novo secretário estão a erradicação do analfabetismo entre os agricultores, a elevação do nível de renda do homem do campo, a industrialização da matéria-prima do estado, em especial, o peixe, e a criação de cidades agrícolas.


 


Conhecido por ser um deputado de oposição e que sempre trabalhou em defesa dos trabalhadores, Eron assume a Sepror com uma bagagem de conhecimento acumulado sobre a estrutura do estado do Amazonas de um período de mais de 16 anos.


 


Como deputado estadual, Bezerra ficou conhecido pelas lutas travadas com o ex-governador Amazonino Mendes (PFL) quando este privatizou o serviço de água e esgoto de Manaus, quando o pefelista “vendeu” o Banco do Estado do Amazonas (BEA), na luta pela construção do gasoduto que, em breve trará o gás para Manaus e reduzirá o valor da energia – na época, Amazonino queria entregar o gás para uma empresa americana falida. Eron também impediu a redivisão do estado e, consequentemente, vem ajudando a construir um modelo de desenvolvimento sustentável para o Amazonas.


  


Vermelho: Como é que fica a oposição da Assembléia Legislativa com sua ida para a Sepror? O senhor não acha que o debate de idéias fica prejudicado?


 


Eron: O PCdoB não faz oposição a pessoas e sim a idéias. Nós já fizemos aliança com o governador Eduardo Braga em outras oportunidades. Em 1998, quando ele foi candidato a governador, nós o apoiamos; em 2000 quando ele foi candidato a prefeito nós estivemos com ele no segundo turno e, agora, em 2006. Só não estivemos juntos em 2002, quando ele aceitou o apoio do grupo de Amazonino. Nessa ocasião ficamos em campos opostos, mas a oposição que fazíamos ao seu governo era diferente. Até porque ele se uniu a algumas bandeiras defendidas por nós, como a luta pela retomada do porto de Manaus e a luta pela água, passou a apoiar o governo Lula também. Fiz observações críticas ao governo até que o partido decidiu apóia-lo na sua campanha de reeleição. E como todo mundo sabe, quem ganha, governa. Por isso, resolvemos assumir essa pasta. Quanto ao debate de idéias, contribuí muito nos 16 anos que fiquei no parlamento. Sempre polemizei temas. Acho isso importante para o crescimento do Estado. Não seria nada modesto se afirmasse que o debate ficaria prejudicado com o meu afastamento da Assembléia. Tem gente que pode continuar fazendo isso lá.




 


Vermelho: Como é que o PCdoB vai se comportar no governo? Qual postura será adotada?


 


Eron: O PCdoB vai ajudar a governar. Nossa idéia é mostrar que o partido não é bom só no parlamento. Eu seria um covarde se não aceitasse esse desafio até porque sempre critiquei a forma de tratamento destinado ao setor primário do Estado. Está na hora de colocar em prática tudo aquilo que sempre defendemos enquanto deputado. Vamos continuar contribuindo com opiniões críticas. Acredito que amigo não é aquele que bajula e, sim, aquele que mostra os erros e os caminhos de acerto.


 


Vermelho: O Senhor é agrônomo. Como o senhor avalia o setor primário no Amazonas?


 


Eron: O Amazonas não tem tradição agrícola. Essa é nossa principal dificuldade. Temos solos precários, com exceção das várzeas, falta de transporte, problema na comercialização, na assistência técnica, no fomento e no setor fundiário. Só neste ano o Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas), que trabalha na orientação aos agricultores, chegou aos 62 municípios do estado. A história do Amazonas, no entanto, explica essa falta de tradição. Toda a nossa atividade econômica era baseada no extrativismo, desde a época do ciclo da borracha. Nossa agricultura não era nem mesmo de subsistência. Os seringueiros recebiam até mesmo a farinha do “barracão”. O extrativismo continuou até a consolidação da Zona Franca de Manaus. Saltamos, então, do extrativismo para a indústria, o que significa que nunca dependemos da atividade agrícola para sobreviver. O que fazer diante disso? Vou enfrentar o problema racionalizando custos, utilizando adequadamente as demais secretarias e órgãos em forma de parceria e buscando recursos através de projetos e convênios na esfera nacional e internacional. E usando a criatividade.


 


Vermelho: Fale sobre suas metas para a Sepror.


 


Eron: Elaborei um documento no qual estabeleço dez grandes metas para a Sepror. A primeira é elevar o nível de renda e sócio-cultural do homem e da mulher do campo. Quero também incentivar os produtores a produzir para comer e atender a demanda industrial; industrializar nossa matéria-prima, o peixe, principalmente. Me sentirei frustrado se não fizer isso na minha gestão. Vamos também tornar o Amazonas uma zona livre de febre aftosa. Quero criar cidades agrícolas para melhorar a vida dos pequenos produtores. Vou adotar também a seguinte filosofia: valorizar os servidores “conforme sua capacidade e para cada um conforme seu trabalho”. Pretendo, ainda, expandir, equipar e interligar via rede o sistema Sepror para assegurar uma assistência técnica de maior qualidade e fazer o zoneamento agro-ecológico do Amazonas.


 


Vermelho: O senhor sempre teve uma estreita ligação com os movimentos sociais no Estado. Essa relação vai mudar?


 


Eron: Absolutamente. Entendo muito bem a importância desses movimentos para o desenvolvimento do Amazonas. Antes de assumir de fato a secretaria, procurei reunir com lideranças agrícolas, da pesca, da pecuária. Quero trabalhar em conjunto com eles. Ouvindo e encaminhando as suas demandas e criando programas de estímulo ao produtor eficiente.


 


 


De Manaus,


Mariane Cruz