Integração latino-americana em destaque na 15ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba

Após a reunião com entidades e movimentos sociais, que ocorreu na quinta-feira (5), o segundo dia da 15ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba foi marcado pelo debate sobre a integração latino-americana. Na parte da manhã, três expositores abordar

    O primeiro expositor, o Dr. Alejandro Aguilar, especialista cubano em questões latino-americanas e prêmio nacional de economia em 2006, tratou dos diversos esquemas e acordos da integração econômica da região. Segundo ele, de um lado, temos pactos e acordos que possuem contradições dos interesses nacionais, subordinados por interesses externos que não levam em conta a assimetria entre os países. Isso se traduz em acordos econômicos que dificultam a integração latino-americana e que são completamente ausentes com a questão social, “aumentando a força do poder neoliberal na região”.


 


    Ele citou o exemplo da indústria de celulose instalada na margem uruguaia do Rio da Prata, na fronteira com a Argentina. O desenvolvimento econômico que, nesse caso, está causando atrito entre os dois países.


 


    Alejandro Aguilar, diz que do outro lado desse primeiro cenário, existem acordos com valores presentes na proposta bolivariana que visam a integração econômica e social.  Ele aponta a necessidade dos países “retomarem o controle sobre os recursos estratégicos, conseguindo com isso a soberania nacional e balancear a relação entre acumulação e consumo” finaliza o economista.


 


    Em seguida, o diretor do CEBRAPAZ Ronaldo Carmona, fez sua exposição tratando do cenário político na América Latina. Ele diz que o cenário é amplamente favorável para as forças progressivas de centro-esquerda, com iniciativas comuns voltadas a atuar como movimento de resistência da imposição hegemonista neoliberal. Ele destaca que estes governos buscam a ampliação da democracia, possibilitam grande participação popular e forte ativismo social. “São governos voltados para a maioria nacional, para os trabalhadores e estão voltando a buscar caminhos de projetos nacionais de desenvolvimento, e nós devemos saudar esse momento” afirma.


 


   Carmona destacou também a crescente irrelevância do Fundo Monetário Internacional (FMI) que no momento perde forças nos países latinos, que estão buscando alternativas de financiamento local. Ele informa que isso está acontecendo por causa do declínio da influência política e ideológica dos Estados Unidos devido ao avanço do povo latino-americano na constituição de instrumentos que permitem ter força para enfrentar o imperialismo neoliberal.


 


  Como exemplos desse avanço, ele cita o Mercosul, o principal vértice de integração da América Latina, a Comunidade Sul-Americana de Nações, “um movimento embrionário, mas promissor” e a ALBA, saudada como expressão desse novo momento da América Latina contra a hegemonia neoliberal.


 


    O último expositor da mesa foi Beto Almeida, diretor da TELESUR, que ressaltou o papel estratégico da comunicação na integração latino-americana, como ferramenta para “provocar o enamoramento entre os povos”. Por se tratar de um setor estratégico, ele afirma que não se pode deixar de ter um meio de comunicação de grande abrangência que se oponha a grande mídia. “Nossa linha editorial é outra, nossa estética é outra, somos povos mestiços. Não podemos deixar de ter nossa própria voz.”


 


    Na parte da tarde o tema foi a atualidade cubana no contexto latino-americano, as últimas medidas de Bush contra Cuba e a questão dos 5 heróis cubanos presos ilegalmente nos Estados Unidos. Para o debate, a mesa foi composta pelo Sr. Pedro Mosquera, embaixador de Cuba no Brasil, pelo sociólogo Emir Sader e pelo advogado das famílias dos cinco heróis e irmão de um deles, Sr. Roberto González.


 


    Tratando ainda do tema da integração dos povos latinos, o embaixador cubano disse que é necessário ter uma idéia ampla de integração, respeitando a assimetria entre as nações, “pois cada uma tem sua especificidade”.


 


    Ao tratar da atualidade, ele apontou que a economia cubana está crescendo, apesar do bloqueio norte-americano, “e Cuba tem se relacionado bem economicamente com diversas nações”. Mosquera diz que outro ponto que merece mais atenção é a “impagável dívida externa” dos países Latinos, que já teve o seu valor pago várias vezes e que o montante da dívida só tem aumentado nos últimos anos.


 


    Além do problema causado pelo embargo americano a Cuba, outro problema apontado é a grande perseguição que os Estados Unidos fazem com os países que negociam com a ilha. Países esses sem forças políticas e econômicas para enfrentar o imperialismo ianque. Mosquera cita o exemplo de El Salvador, que não possui relações com Cuba por causa das imposições norte-americanas.


 


    Em seguida, o sociólogo Emir Sader apresentou o que “podemos e devemos aprender com Cuba”. O primeiro item destacado foi que Cuba “nos ensina que a cultura latino-americana é o maior valor que temos”, complementando a idéia de integração e união dos povos latinos.


 


    Logo após, abordou o modelo de educação cubana, que erradicou o analfabetismo na ilha e contribuiu para esse avanço também na Venezuela. Sader disse que se o Brasil quer evoluir priorizando a educação, “deve que passar a valorizar Paulo Freire, uma pessoa de grande importância que não é reconhecida no nosso país”.


 


    Sader defendeu o ensino da medicina em Cuba, “responsável pela formação da primeira geração de médicos pobres do Brasil” que apesar de não terem o diploma reconhecido no país, são os “médicos formados em medicina social, que trabalham exclusivamente para salvar vidas”. Um dado exemplar apresentado pelo sociólogo foi que, mesmo com o embargo e todas as dificuldades existentes, Cuba tem mais médicos trabalhando pelo mundo que a Organização Mundial da Saúde.


 


     Antes de terminar sua exposição, Sader fez uma comparação de princípios que lhe rendeu grandes aplausos; “temos tropas no Haiti, mas não temos um professor, um médico ou enfermeiro lá. Mesmo quando Cuba estava sem relações com o Haiti, mantinha médicos e enfermeiros por lá. Essa é uma diferença entre um país socialista e um capitalista. Uma questão de princípios que definem estratégias. Cuba, digo mais uma vez, tem muito a nos ensinar”.


 


    Finalizando o segundo dia de debates, o advogado Roberto González falou sobre a questão dos cinco cubanos presos nos Estados Unidos. González voltou afirmar, que eles são presos políticos e não cometeram nenhum crime. “Eles estavam em Miami tentando descobrir quem é que estava realizando atentados contra Cuba e os cubanos. Eles estavam defendendo o seu país do terrorismo” afirma o advogado.


 


    Antonio Guerrero, Fernado González, Ramón Salazar, René Gonzáles e Geraldo Hernández (esse último sentenciado a duas prisões perpétuas mais 15 anos) estão incomunicáveis desde 1998. Mesmo após a ONU ter enviado um documento ao governo dos EUA afirmando que a prisão deles é ilegal e desrespeita convenções e tratados internacionais, nada aconteceu. González finaliza perguntando “como alguma pessoa pode estar presa por buscar salvar vidas humanas?”.


 


A 15ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba continua amanhã. Confira a programação;


8h – Trabalhos em grupos
• Discussão sobre a Solidariedade a Cuba
• Associações de Pais de Estudantes Brasileiros em Cuba
10h15 – Mesa sobre Rede de Solidariedade a Cuba e Movimento Anti-Globalização
• Sr. José Estévez Hernandez – ICAP
• Sr. Reynaldo R. Feijoo García – Representante do ICAP para o Brasil
• Sra. Maria Antonia Ramos – Conselheira Política da Embaixada de Cuba no Brasil
14h30 – Palestra sobre a Atualidade do Pensamento de Che no Processo de Integração Latino-americana
• Sr. Tirso Walfrido Saénz Sanchez – Cubano, Vice-Ministro para o Desenvolvimento Tecnológico no Ministério de Indústrias (gestão do Ministro Ernesto Che Guevara)16h30 – Plenária de Encerramento


 


De Belo Horizonte,


João Paulo Dias