Fidel acusa “resposta brutal” de Bush ao proteger Carriles

“Só poderiam vir da Casa Branca as instruções sobre a sentença de Kathleen Cardone, juiza da Corte Federal de El Paso, Texas, na sexta-feira passada, concedendo liberdade sob fiança a Luis Posada Carriles”, afirma o presidente Fidel Castro, em mais um art

Veja a íntegra do artigo de Fidel, que convalece há nove meses de uma enfermidade digestiva (os trechos entre parênteses são do tradutor):



A tragédia ética do povo dos EUA



O mais genuino representante de um sistema de terror que  foi imposto ao mundo pela superioridade tecnológica, econômica e política da potência mais poderosa que nosso planeta já conheceu é, sem dúvida alguma, George W. Bush. Partilhamos, por isso, a tragédia do próprio povo norte-americano e de seus valores éticos. Só poderiam vir da Casa Branca as instruções sobre a sentença de Kathleen Cardone, juiza da Corte Federal de El Paso, Texas, na sexta-feira passada, concedendo liberdade sob fiança a Luis Posada Carriles.



Foi o próprio presidente Bush que escondeu em todos os momentos o caráter criminoso e terrorista do acusado. Protegeu-o acusando-o de uma simples violação de procedimentos migratórios. É uma resposta brutal. O governo dos Estados Unidos e suas instituições decidiram, de antemão, a liberdade do monstro.



Os antecedentes são bem conhecidos e vêm de longe. Não se esperava outra coisa daqueles que  treinaram (Carriles) e lhe ordenaram que destruisse um avião de passageiros cubano em pleno vôo, tendo a bordo 73 atletas, estudantes e outros passageiros, nacionais e estrangeiros, além de sua abnegada tripulação; daqueles que, quando o terrorista estava preso na Venezuela, compraram sua liberdade para que assessorasse e praticamente dirigisse uma guerra suja contra o povo da Nicarágua (nos anos 80), que custou milhares de vidas e a ruína do país durante décadas; daqueles que lhe permitiram traficar drogas e armas para burlar as leis do Congresso dos EUA; daqueles que criaram a terrível Operação Condor e internacionalizaram o terror; dos que levaram à tortura, à morte e muitas vezes ao desaparecimento físico de centenas de milhares de latino-americanos.



A rota do terrorista Carriles



Embora esperada, nem por isto a decisão de Bush é menos humilhante para nosso povo. Foi Cuba, partindo das revelações de !Por Esto!, órgão de imprensa do estado mexicano de Quibntana Roo, mais tarde complementadas por nossos próprios meios, soube com total precisão que Posada Carriles entrou nos EUA vindo da América Central, cia Cancún, até a Ilha Mujeres, onde, a bordo do Santrina, e depois de inspeção da embarcação pelas autoridades federais do México, rumou junto com outros terroristas diretamente para Miami.



Uma vez feita a denúncia e a interpelação pública, com dados exatos sobre o tema, desde 11 de abril de 2005, o governo dos EUA demorou mais de um mês para prender o terrorista, e um ano e dois meses para reconhecer que Luis Posadas Carriles entrou ilegalmente em seu território, pela costa da Flórida, a bordo do Santrina, um suposto barco-escola registrado nos EUA.



Não se diz uma só palavra sobre suas indontáveis vítimas, suas bombas contra instalações turísticas em anos recentes, suas dezenas de planos financiados pelo governo dos Estados Unidos para eliminar-me fisicamente (Carriles chegou a ser preso no Panamá, em 2000, devido a um dos planos para assassinar Fidel).



Valeu tudo para os EUA



Não bastava a Bush ter ultrajado o nome de Cuba, ao instalar no território ilegalmente ocupado de Guantânamo um horrendo centro de tortura semelhante ao de Abu Ghraib, que assombrou o mundo ao ser revelado. Nem a cruel ação de seus antecessores lhe parecia suficiente. Não lhe bastaram os US$ 100 bilhões que obrigaram um país pobre e subdesenvolvido como Cuba a gastar. Acusar Posada Carriles seria acusar a si mesmo.



Ao longo de quase meio século, valeu tudo para os EUA contra nossa pequena ilha a 90 milhas de suas costas, que desejava ser independente. Contra nós instalou-se na Flórida a maior estação de inteligência e subversão que já existiu no planeta, prossegue o artigo. Não bastava a invasão mercenária da Baía dos Porcos, que custou ao nosso povo 176 mortos e mais de 300 feridos, quando os poucos médicos que nos deixaram não tinham experiência em ferimentos de guerra.



Antes, explodira no cais do porto de Havana o navio francês La Coubre, que transportava armas e granadas de fabricação belga para Cuba. Duas explosões, bem sincronizadas, causaram a morte de mais de cem trabalhadores, e ferimentos em muitos outros.



Não bastava a Crise de Outubro de 1962, que levou o mundo à beira de uma guerra termonuclear total, quando já existiam bombas 50 vezes mais poderosas que as de Hiroshima e Nagasaki. Não bastava a introdução em nosso país de virus, bactérias e fungos nocivos a plantações, rebanhos e inclusive, ainda que pareça incrível, nocivos a seres humanos. Sairam de laboratórios norte-americanos alguns desses agentes patogênicos, transportados para Cuba por agentes terroristas bem conhecidos e a serviço do governo dos EUA.



Não há força que vença Cuba



Agregue-se a tudo isso a injustiça de manter no cárcere cinco heróicos patriotas que, por fornecerem informações sobre organizações terroristas, foram fraudulentamente condenados a penas que sobem a duas prisões perpétuas, e que suportam estoicamente cruéis maus-tratos, presos cada um deles em um cárcere diferente.



Por mais de uma vez o povo cubano desafiou sem vacilar o perigo da morte. Com inteligência, com táticas e estratégias adequadas, e especialmente estreitando a unidade em torno de sua vanguarda política e social, ele demonstrou que não haverá força no mundo capaz de vencê-lo. Penso que o próximo 1º de Maio seria o dia ideal para que nosso povo expresse, com o mínimo de gastos em combustível e transportes, seus sentimentos aos trabalhadores e aos pobres do mundo.



Fonte: Granma (http://www.granma.cu); intertítulos do Vermelho