Inácio Arruda homenageia  Fortaleza

O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) homenageou Fortaleza, capital do Ceará, pelos seus 281 anos de existência, celebrados nesta sexta-feira (13). Embora tenha reconhecido e exaltado suas belezas naturais, o parlamentar criticou o modelo de desenvolvimento

Para reverter a carência em que vive grande parte da população, Inácio Arruda considera fundamental uma parceria entre os governos municipal, estadual e federal. A recuperação de nove lagoas existentes na capital cearense, que costumam ter as margens ocupadas em períodos de estiagem, foi apontada como um passo para a democratização do desenvolvimento.


 


Embora tenha surgido como vila em 1726, Fortaleza conta hoje, segundo revelou Inácio Arruda, com 2,4 milhões de habitantes e é servida por 16 bacias hidrográficas. Por deter uma das maiores jazidas de energia eólica do país, foi classificada pelo historiador Liberal de Castro no livro Fatores de Localização e Expansão da Cidade de Fortaleza como “dádiva dos ventos”. Vários trechos da publicação foram lidos pelo parlamentar em Plenário nesta quinta-feira (12). O senador Mão Santa (PMDB-PI) também se associou à homenagem à capital do Ceará


 


Leia pronunciamento na íntegra:


 


Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de abordar o tema que pretendo trazer à tribuna, gostaria de comentar a respeito da votação do Fundeb, já na Câmara dos Deputados, da medida provisória que regulamenta essa importante ampliação, que era antes o Fundef, agora Fundeb, uma conquista para a educação no País.


 


Tenho a opinião de que vamos aprimorar a matéria no Senado, porque a emenda submetida à apreciação da Câmara do Deputados foi muito examinada, muito discutida, envolvendo um trabalho de esforço. Digo isso porque tive a oportunidade de discutir com Prefeitos e com Deputados da base do Governo e da Oposição a fim de encontrar a melhor maneira de aproveitar a emenda, mas não foi possível, porque havia algo que me parecia vício de inconstitucionalidade. Eu disse: “Podemos corrigir isso com o Relator no Senado”. E penso que temos condições de fazer isso no Senado da República, tranqüilamente, em um bom acordo entre a base do Governo e a Oposição, em benefício da população, dos estudantes, e, evidentemente, da administração pública municipal, que é o nosso grande objetivo.


 


Sr. Presidente, Srªs e Srs. Deputados – é que voltamos à Câmara, momentaneamente; eu e o Senador Efraim Morais a recordamos aqui exatamente em função dos debates de medidas provisórias –, Srªs e Srs. Senadores, neste 13 de abril, uma sexta-feira, Fortaleza completa 281 anos de existência. Foi exatamente assim, como disse o autor de seu hino, também Deputado Federal: “junto à sombra dos muros do forte” que, há quase 281 anos, a “pequena semente nasceu”. Nasceu vila, em 13 de abril de 1726, Fortaleza.


 


Neste breve registro do aniversário dos seus 281 anos, faço uma homenagem àquele povo, ao povo dessa cidade que alcança 2,4 milhões de habitantes, Senador Mão Santa, V. Exª que teve a oportunidade de estudar naquela cidade e fazer ali seu curso de Medicina, juntamente com Valton Miranda e tantos outros profissionais que hoje são, digamos, pontas-de-lança da Medicina do meu Estado e também do Piauí.


 


Aquela cidade cresceu muito. Recebeu milhares de cearenses de todos os Municípios e milhares de brasileiros de outros Estados, que ali habitam. Hoje, não apenas do Ceará e do Nordeste. Nós, que praticávamos o êxodo sempre em direção ao Norte e ao Sul, hoje recebemos sulistas e nortistas de volta para o Ceará, de volta para Fortaleza.


 


Fortaleza é uma cidade bonita, uma cidade de praias de águas quentes. O historiador grego Heródoto descreveu o Egito como uma espécie de dádiva do Nilo. O historiador José Liberal de Castro, professor catedrático do curso de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará, afirmou que Fortaleza, apesar de ser cortada por dois rios, era uma dádiva dos ventos. Ventos fortes que hoje possibilitam que o Ceará tenha uma das maiores jazidas de energia eólica do País. Não só o Ceará, mas também Estados vizinhos como Rio Grande do Norte e Paraíba. Ele afirmou isso em seu livro Fatores de Localização e de Expansão da Cidade de Fortaleza, em que descreve o povoamento da nossa cidade.


 


Por se achar estrategicamente localizada abaixo da linha do Equador, ao longo de suaves e belos contornos litorâneos, às margens do rio Pajeú, Fortaleza é a rota mais curta do Brasil para a Europa, para os Estados Unidos, para o Cone Sul e para a África. Fica apenas a seis horas e meia de vôo, além de estar a meio caminho para se chegar a outros Estados brasileiros.


 


Fortaleza é uma espécie de “portão internacional” aéreo e marítimo da América do Sul, seja para turismo, negócios ou eventos.



Cantada como “irmã do sol e do mar”, Fortaleza é exuberante em sua natureza. Recebe em sua região metropolitana 16 bacias hidrográficas, sendo as mais importantes as dos rios Ceará, Pacoti, Cocó e Maranguapinho. Juntas, elas somam a extensão de 336 quilômetros quadrados. A cidade ainda acolhe sete lagoas de médio porte: Messejana, Parangaba, Maraponga, Mondubim, Opaia, Pajuçara e Jaçanaú.


 


De relevo leve e suave e ruas de ângulo reto, principalmente no centro, Fortaleza é uma cidade de fácil orientação para os que a visitam, geralmente atraídos pelo seu “clima de eterno verão”, adornado por uma amena e constante brisa que vem do mar “e das ondas que o sol ilumina”.


 


Historicamente, de 1860 a 1930, Fortaleza viveu movimentos sociais e culturais marcantes, como o movimento abolicionista, nas décadas de 1870 e 1880, que culminou com a libertação dos escravos no Ceará, em 25 de março de 1884, quatro anos antes de a abolição ser oficialmente decretada em todo o País, em 13 de maio de 1888. Francisco José do Nascimento, também conhecido como Chico da Matilde ou ainda como Dragão do Mar, liderou a participação dos jangadeiros no movimento abolicionista, negando-se a fazer o desembarque de escravos no Porto de Fortaleza.


 


O movimento literário Padaria Espiritual, surgido em 1892, foi pioneiro na divulgação de idéias modernas na literatura do Brasil. Outras entidades da época foram o Instituto do Ceará e a Academia Cearense de Letras, respectivamente fundados em 1887 e 1894.


 


A cidade continua crescendo. É uma cidade muito bonita, mas, ao mesmo tempo, sua população é muito carente, tem muitas necessidades que eu quero agregar a este meu pronunciamento.


 



É motivo de festa seu aniversário, e temos que exaltar suas qualidades e belezas naturais. Nós a chamamos de “loira desposada do sol”. Trata-se de eterno verão, com muito sol – às vezes causticante – em cima do seu povo. E ali, entre os 2,4 milhões de habitantes, a maioria esmagadora ainda é de gente pobre, muito pobre. Uma grande parte mora em condições subumanas.


 


As bacias dos seus rios, as 16 bacias hidrográficas que chegam principalmente pelos rios Cocó e Maranguapinho, receberam a grande população que veio do interior do Ceará, principalmente, e que mora em condições subumanas, inadequadas. E essas condições subumanas e inadequadas são, digamos – falando de rios e de morar à margem dos rios –, leito fácil e natural para recrutar dezenas, centenas, milhares de pessoas, jovens, homens e mulheres, que, ao desalento do desemprego, servem também à marginalidade na nossa capital.


 


Então, a cidade que cresce e que fica bonita aos olhos dos visitantes também tem um contingente razoável de pessoas penalizadas por um desenvolvimento absolutamente desigual, absolutamente concentrador da riqueza. A nossa capital, que é a quarta maior cidade do Brasil, a segunda maior do Nordeste brasileiro, uma cidade absolutamente exuberante, concentra muita desigualdade, Sr. Presidente, muita, muita desigualdade.


 


E não fossem esses momentos que estamos vivendo em nosso País, de mais alento com o desenvolvimento, não fosse essa quase ordem unida colocada em marcha pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, que recebeu, em nosso Estado, 71% dos votos nesta eleição, que abriu caminhos novos, mas posso dizer que agora, com o Plano de Aceleração do Crescimento, acabamos de receber o apoio do Presidente da República para recuperar a bacia destes dois rios, o Maranguapinho e o Cocó, que cortam a cidade de Fortaleza de ponta a ponta, num investimento de R$320 milhões em obra que será construída pelo Governo do Estado e que atende Fortaleza e mais três Municípios da região metropolitana.


 


Fortaleza mesma receberá uma obra de transporte coletivo chamado Transfor, um investimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que será comandado pela Prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, que vem governando, com muita sabedoria, a nossa cidade, com o nosso apoio, também um investimento de grande porte, de cerca de US$150 milhões, para permitir que o povo seja transportado com mais qualidade, porque é transporte exatamente para essa parcela mais pobre da população da cidade de Fortaleza.


 



Também fruto desse Programa de Aceleração do Crescimento, o Governo Lula autorizou que recuperássemos, na cidade de Fortaleza, algo em torno de nove lagoas. A população, quando começa o período de estiagem, vai ocupando as margens da lagoa, que vai ficando aterrada, e, quando vem o início do período de chuvas, as famílias ficam dentro d’água.


 


Então, agora estamos num processo de recuperar essas lagoas, que são muito importantes para a cidade. Ressalte-se que a população mais pobre, necessitada de espaço para morar, praticamente teve que ocupar aquela área. E posso falar, com muita tranqüilidade, desse assunto, porque tive oportunidade de dirigir a Federação de Associações de Moradores de Bairros e Favelas, como Presidente durante dois anos e Diretor por seis anos. Portanto, conheço profundamente essa realidade do nosso Município de Fortaleza, o que significam as favelas da nossa cidade. Onde elas existem? Exatamente na margem do rio Cocó e do rio Maraguapinho, dentro das lagoas, que agora passam por esse processo de recuperação. É um investimento caro, porque é preciso proceder à drenagem dos rios, à recuperação das casas e à pavimentação do local. É um investimento de grande custo que está sendo feito, agora, no Governo Lula, com a aplicação de recursos na administração municipal, para que esta possa recuperar as lagoas e fazer todo o trabalho de drenagem e de recuperação da bacia hidrográfica dos rios Maranguapinho e Cocó. É um investimento de peso.


 


Logo, no aniversário de 281 anos da cidade de Fortaleza, podemos comemorar, dizendo que começou um trabalho de aceleração do desenvolvimento. Não me refiro ao crescimento, porque o crescimento de Fortaleza vem ocorrendo há muitos anos, de forma acentuada. E, há um curto espaço de tempo, 40 anos de diferença – posso tranqüilamente referir-me ao Senador Mão Santa, que estudou ali durante muitos anos, quando a população ainda era pequenina; V. Exª é jovem, mas passou por ali há 40 anos, não é verdade? –, aquela população era de 450, 500 mil habitantes. Era essa a população de Fortaleza.


 


Então, em 40 anos, Sr. Presidente, saímos de 450 mil habitantes para 2,4 milhões. Sinceramente, não há infra-estrutura, não há condições de uma cidade, em 40 anos, sair de 450 mil para 2,4 milhões de habitantes. É uma explosão demográfica sem igual, sem precedentes, para uma cidade como Fortaleza.


 


Mas é da nossa responsabilidade. Nós, como Deputados, Senadores, homens públicos, temos que encontrar um meio para permitir a melhoria da qualidade de vida do povo da nossa cidade, ao completar 281 anos.



Meu caro Mão Santa, ouço V. Exª.


 


O Sr. Mão Santa (PMDB – PI) – Senador Inácio, V. Exª me faz lembrar José de Alencar, descrevendo as belezas do Ceará, de Fortaleza.



O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB – CE) – Iracema corria de Ipu até Messejana.



O Sr. Mão Santa (PMDB – PI) – Iracema, lábios de mel, Ubirajara, Lucíola, tudo aquilo de José de Alencar, Rachel de Queiroz… V. Exª está muito poético, recordando os verdes mares bravios, as brancas dunas, os ventos que nos acariciam, o sol que nos tosta a todos e os rios que abraçam o povo e a gente. Fortaleza é isso tudo que V. Exª diz. Sem dúvida nenhuma, eu queria contar aquilo que são as maravilhas da natureza, mas a mais maravilhosa é o homem – quem disse isso foi Sófocles, não fui eu.



O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB – AP) – Senador Mão Santa, por gentileza.



Senador Edison Lobão, gostaria que V. Exª socorresse a Mesa e viesse até aqui. Continue o aparte, Senador Mão Santa.


 


O Sr. Mão Santa (PMDB – PI) – Muitas são as maravilhas da natureza, dessa cidade encantadora, que encanta a todos. Eu, particularmente, a primeira vez em que a vi foi quando chegou Nossa Senhora de Fátima. Aquele bairro não existia. Minha mãe, terceira franciscana, saiu lá de Parnaíba e ia parando: Sobral… Onde se parava, rezava-se. E onde hoje é o Bairro de Fátima não existia nada. Conheço desde aí. Depois estudei, interno num colégio cearense, São João, na Faculdade de Medicina. Mas eu ia dizer que o mais importante é a gente.


 


Logicamente, a mulher é simbolizada por Iracema. Mas vou dizer do homem, do cearense, desse Dragão do Mar: o homem que teve coragem de não aceitar transportar os negros que eram vendidos e trazidos nas pequenas embarcações; o homem que fomos buscar lá no Piauí, a fim de fazer a Batalha do Jenipapo, a guerra lá de Campo Maior, para expulsar os portugueses. Fomos buscar cearenses, em Viçosa e Granja, para expulsar os portugueses; quem nos comandou foi um cearense. Mas esse homem bravo, aquele sertanejo que, antes de tudo, é um bravo, queria definir: Juscelino Kubitschek de Oliveira – não sei onde V. Exª estava –, nos últimos dias, no apagar do seu governo, visitou Fortaleza. Estudante, no pré-vestibular, e, atraído pela política e por aquela figura sorridente, eu o acompanhei na Faculdade de Direito. Lá vaiaram Juscelino Kubitschek, porque o cearense é, sobretudo, um moleque no bom sentido, um gozador. Lembro que, quando éramos estudantes, choveu no Ceará, estávamos todos na Praça do Ferreira. Quando o sol saiu, vaiaram o sol. O cearense é esse espírito crítico de lutador. Mas Juscelino Kubitschek saiu de lá, foi tomar café num abrigo. Não sei se V. Exª é do tempo do abrigo.



O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB – CE) – Nasci naquela época.



O Sr. Mão Santa (PMDB – PI) – No Pedrão da Bananada, do Ceará. Havia um bar do torcedor do Ceará.



O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB – CE) – Do Pedro. É verdade.



O Sr. Mão Santa (PMDB – PI) – Então, Juscelino Kubitschek. A Assembléia, bem próxima à Praça do Ferreira.



O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB – CE) – Exatamente.


 



O Sr. Mão Santa (PMDB – PI) – Aqueles engravatados, como nós, em torno de Juscelino. E um caboclo, aquele do chapéu de couro, que estão combatendo na Câmara: não deixam o pobre coitado botar o chapéu. Lembro que ele estava lá e quis aproximar-se, mas não conseguiu. Juscelino, sorridente, tomando café, e ele não conseguia aproximar-se. Ele falou: “Ô, Presidente, pai d’égua!” Esse é o linguajar, a coragem, a força do bravo cearense, que V. Exª representa no que há de melhor: na luta, na bravura, na honestidade e na honradez.


 



O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB – CE) – Agradeço o aparte de V. Exª.
Sr. Presidente, peço que acolha meu pronunciamento no seu inteiro teor.


 


Também lembro outras figuras, literatos, homens que tratavam da construção da estrada-de-ferro e, ao mesmo tempo, escreviam. Eram escritores, poetas que registraram esses momentos históricos da construção da cidade de Fortaleza. Lembro-me de um livro delicioso de Otacílio de Azevedo, Fortaleza descalça,…e de um mais recente, do jornalista Paulo Linhares, Fortaleza, Cidade de Água e Sal; as crônicas permanentes, aos domingos, do geógrafo espetacular José Borzacchiello da Silva, que escreve sistematicamente sobre esse crescimento da cidade, sobre essa explosão demográfica, que mostra a concentração da riqueza em um pedaço da cidade e aquele alastramento enorme da população mais pobre, quase que apartada da cidade de Fortaleza. Hoje há a necessidade de encontrarmos caminhos para um desenvolvimento mais igual da cidade. Se não fizermos isso, ao concentrarmos mais e aumentarmos mais as desigualdades, estaremos criando um fosso social sem precedentes.


 


Neste momento do aniversário da cidade de Fortaleza, ao cantá-la, ao elevar essa bela cidade do nosso País, temos também que mostrar as dificuldades e tratar de enfrentar os problemas que ela contém ainda em seu seio. Acho que é assim que temos que ajudar , e convidar e convocar o nosso Governo, o Governo de Lula e juntar forças e energias entre o Governo de Lula e o Governo de Cid Gomes, no Estado do Ceará, e o Governo da nossa Prefeita Luizianne Lins. Se juntarmos essas energias, esses três Governos, conseguiremos transformar a bela cidade de Fortaleza numa cidade com grande qualidade de vida para o seu povo, porque é assim que ela será atraente para todos os seus visitantes, mais atraente. Se ela é atraente, se tem grande qualidade de vida para aqueles que ali vivem todos os dias, ela chamará mais ainda o povo do Brasil inteiro e de fora do nosso País.


 


Sr. Presidente, eram essas as palavras que eu gostaria de trazer hoje para homenagear essa bela cidade onde tive a felicidade de nascer.



Muito obrigado.



 
 
Fonte: Agência Senado