Frente partidária pode virar o jogo na eleição em Jaguariúna/SP
Dominando a política local desde 1983, o grupo que apóia o atual prefeito tem dificuldades para achar um nome que tenha apoio popular para as eleições de 2008. A candidatura de Dora Zanin (PCdoB), vereadora mais votada em 2004, reúne, atualmente, condi
Publicado 16/04/2007 11:07 | Editado 04/03/2020 17:19
Localizada a 120 km da capital, na região do leste paulista, a cidade de Jaguariúna tem 31.757 habitantes (IBGE/2003) que vivem, predominantemente, na região urbana, e um colégio eleitoral com 26.000 eleitores. A renda média dos trabalhadores, em 2004, foi de R$ 968,98 (19% acima da média da Região Metropolitana de Campinas). O mercado de trabalho apresenta forte formalização e taxa de desemprego de 5%, contra 12% na RMC. A economia local é bastante diversificada com a participação de vários setores – como bebidas, informática, comunicações, medicamentos, cerâmica, metalurgia, autopeças e avicultura. A presença de empresas como Compaq, Motorola, Ambev, garante que o município tenha a 2ª maior renda per capita da região, atrás apenas de Paulínia.
O prefeito Tarcísio Cleto Chiavegato (PTB) já foi eleito 04 vezes, as 02 últimas consecutivas. Nas eleições de 2004, teve 67% dos votos válidos, numa coligação que envolveu PP, PDT, PMDB, PSC, PL, PPS, PRP, PSDB e PFL (atual DEM). Mas, o grupo tem dificuldades para articular um nome para a eleição de 2008. Dois nomes já foram apresentados sem conseguir empatia eleitoral, o do vice-prefeito Dimas Lúcio Pires (PTB) e o do vereador Alfredo Chiavegato Neto (PMDB). O caso do vereador é emblemático. Por ser filho do prefeito está impedido de concorrer para a prefeitura em 2008, mesmo assim seu nome foi lançado, e não emplacou.
Um orçamento de R$ 150 milhões garante os recursos que permitem à cidade ter 80% de asfalto, 100% de água e 50% de esgoto tratado. Mas, afloram os problemas de segurança, saúde pública e habitação – há 15 anos não se constrói moradias populares, o que eleva o custo dos imóveis no município.
Israel José Alves Pereira, presidente do PT de Jaguariúna, identifica duas correntes políticas com potencial eleitoral. Uma ligada à direita e outra aos movimentos populares de esquerda. No campo da esquerda, ele cita PCdoB, PT e PSB. No outro campo, estão PSDB, DEM, PMDB e PTB – que compõem a base de sustentação do prefeito. Ligados a esse grupo estão o PL e o PP – que está em fase de organização na cidade. ''O PSDB e o PPS ensaiam lançamento de candidaturas, mas são candidaturas sem propostas, seu objetivo será o de não deixar a eleição ficar polarizada, e permitir acordos na reta final. O PSDB é um partido controlado pelo prefeito, que tem um controle grande sobre os dois vereadores tucanos'', afirma.
Israel anuncia que em 2008 deve surgir uma candidatura com muita força, num processo que aglutina vários partidos de centro-esquerda. Ele afirma que a vereadora Dora foi escolhida para encabeçar esse projeto por causa de seu histórico de lutas e de sua atuação política na cidade. ''Essa candidatura será uma forte concorrente, pois tem um projeto que vai possibilitar uma nova forma de administração municipal, com uma proposta progressista e transformadora'', apregoa.
O petista relativiza o domínio que o grupo do prefeito tem sobre o eleitorado. Para Israel, o resultado da eleição de 2004 gera alguma confusão, pois se forem considerados todos os votos, e não apenas os válidos, o prefeito fica com 52% das opções. Ele critica o grupo, ''o vice vira prefeito, o parente vira prefeito e, assim continua o mesmo grupo. Esse pessoal já esgotou seu projeto. Hoje, formam um grupo de amigos que não têm proposta política para a cidade''.
Outro elemento apontado é a não preparação de um sucessor para o prefeito. ''Seus candidatos não chegam aos 18%, enquanto nossa candidatura chega a quase 40% das intenções'', diz. Mas, ao tempo em que sabe que se trata apenas de intenções, considera que há reais possibilidades de vencer as próximas eleições, pois outros partidos já se mostram interessados em participar da composição.
Uma questão que vai influenciar nas próximas eleições é – no seu entender – que a cidade mudou muito no período recente. ''O número de habitantes saltou de 12.000 habitantes para 32.000. Veio muita gente de fora, são pessoas que têm condições de avaliar a administração de Jaguariúna com a de outras cidades. Nessas regiões não tem essa história de administração entre amigos. Essas pessoas comparam o que é feito aqui com outras administrações'', pondera.
A vereadora Dora Zanin (PCdoB) acredita que o grupo do prefeito passa por um processo de desgaste, principalmente porque adota políticas que priorizam grupos sociais com alto poder aquisitivo e praticam essa política de maneira autoritária, ''encaixotando'' os projetos sem permitir que a população participe das discussões sobre como os recursos devem ser aplicados.
Desde 1988, a vereadora discute um projeto democrático que inclua a população nas discussões das prioridades de investimento. Para ela, a população tem que estar organizada e participando do governo. ''Somente assim, teremos políticas sociais que privilegiam os segmentos mais vulneráveis e contribuem para a diminuição das desigualdades sociais em nosso município'', afirma Dora Zanin.
Edison Cardoso de Sá, presidente do PCdoB de Jaguariúna, afirma que o prefeito tem feito pesquisas constantes e elas indicam que seus candidatos não ''decolam''. Para ele, uma questão que prejudica o prefeito é o fato dele não estar disposto a fortalecer outras lideranças políticas, pois tem como objetivo colocar o filho na prefeitura.
Quanto à candidatura da vereadora Dora, ele afirma que a frente partidária pode chegar a um universo de até 10 partidos, o que significa um avanço no quadro local. Ele informa que até um vereador da base governista já iniciou o diálogo com o grupo e cita dois partidos que podem integrar a frente. O PV, que está formando uma comissão provisória, com tendência de esquerda, e o PDT. Edison está otimista com as possibilidades. ''O povo de Jaguariúna quer mudança, quer renovação'', enfatiza.
De Jaguariúna,
Agildo Nogueira Jr.