França: “L'Humanité” pede “enfrentamento da direita perigosa”

A campanha para vencer Nicolas Sarkozy no segundo turno nas eleições francesas já está a todo vapor. O jornalista Jean-Paul Piérot, do diário comunista L'Humanité, retrata essa mobilização: ''O 6 de maio assistirá ao enfrentamento entre o princip

Pierot recorda que esta eleição não vai reeditar ''o terremoto'' de 2002, quando o segundo turno ficou entre o direitista Jacques Chirac (UMP) e o ultradireitista Jean-Marie Le Pen (Frente Nacional). Lembra também o elevado comparecimento ao primeiro turno, em especial ''nos bairros populares, humilhados por Sarkozy que os chamou de escória''. A abstenção, entre 13% e 15%, ''pulverizou todos os recordes, superando o de 1981 e ficando próximo da primeira eleição presidencial da 5ª República, em 1965''. Veja extratos:



Este resultado em matéria de participação traduz uma aprovação da política pelos cidadãos, apesar deles terem sido privados do debate do contraditório sobre suas aspirações (emprego, salário, previdência social, habitação)? O futuro dirá, e especialmente o segundo turno. Mas despeito da ausência de debate entre os 12 candidatos, projeto contra projeto, os eleitores não desesperaram da política como em 2002, quando a abstenção bateu um recorde, 71,6%.



Uma direita forte e perigosa



Para uma larga parcela, a participação eleitoral massiva (na França o voto não é obrigatório) resulta da mobilização popular, muito especialmente na juventude, aquela que dá duro, que resistiu vitoriosamente ao CPE (lei reacionária do primeiro emprego, derrubada por mobilizações em 2006), contra o perigo que a candidatura de Sarkozy encarna. Porém a mobilização popular, contra o liberalismo, o autoritarismo e a política de divisão, teve como resposta uma mobilização do eleitorado de direita, atrás de um candidato que reciclou os temas ideológicos da extrema direita.



A imigração, apresentada como contraditória à identidade nacional, foi um sinal na direção da FN. Outros sinais foram dirigidos ao ''Transatlântico'' da Saint-Cloud (apelido da sede da FN, que fica na Rua de Saint-Cloud), inclusive o convite para prefeitos da UMP apadrinharem Le Pen. Acompanharemos com atenção as declarações de uns e de outros sobre o segundo turno.



Nicolas Sarkozy chega ao segundo turno na pole position. Sua votação é superior ao total dos resultados de Jacques Chirac, Christine Boutin e Alain Madelin en 2002 (estes candidatos da direita na eleição passada somaram 25%). Mas ele absorveu também, os resultados demonstram, uma parte dos votos lepenistas.



Mídia embelezou Le Pen



Mais uma vez, a maior parte da grande mídia revelou ser formada por embelezadores impenitentes de Jean-Marie Le Pen. Apresentado contraditoriamente, como ''domesticado'' e também como aquele que representava o maior perigo na eleição, o fhefe frentista pôde desenvolver sua propaganda racista e xenófoba sem despertar uma maior indignação.



Terá sido útil à democracia que o Le Monde tenha dedicado uma página a uma entrevista com Le Pen, onde este fazia gracejos sobre a ''desigualdade das raças''? Como hoje se sabe, as ''correções'' operadas pelos institutos de pesquisa, inflando a intenção de voto em Le Pen, estavam erradas. Ocorre porém que as idéias do chefe da extrema direita, longe de terem sido suficientemente combatidas, foram recuperadas em parte pelo discurso de Sarkozy, conforme o princípio doz vazos comunicantes.



Bayrou não chegou lá



Com uma votação de 18%, o chefe da UDF (partido de centro, mas participante do atual governo de direita) fez um real progresso em relação a 2002, quando obteve 6,8%. Porém seus apelos em prol de uma maioria que trancendesse à direita e à esquerda, a serviço de uma política ultraliberal, não convenceram. Isso apesar da ajuda que o deputado centrista obteve da parte de socialistas como Michel Rocard e Bernard Kouchner.



Como Bayrou vai administrar sua posição quanto ao segundo turno? A impostura não poderá durar para sempre.



A diversidade da esquerda



O resultado obtido por Ségolène Royal é um pouco superior à soma de Lionel Jospin, de Jean Pierre Chevènement e de Christiane Taubira (dandidatos da social-democracia) em 2002. Mas foi um resultado obtido ao preço de um esmagamento das outras forças de esquerda. Em especial, de Marie-George Buffet (a candidata do PC Francês, que teve 2%) e de Dominique Voynet (candidata Verde, 1,6 %).



Foi um resultado decepcionante para o conjunto da esquerda, possibilitado pelo mito do ''voto útil''.



Porém a hora é da mobilização, para fazer tudo para derrotar Sarkozy em 6 de maio, afirmava no domingo (22) Marie-George Buffet. A candidata dos Verdes, Olivier Besancenot (presidenciável trotskista, da LCR) e também Arlette Laguiller (trotskista, da LO) chamavam também à união para levar ao fracasso o chefe da UMP.



Resta à candidata do Partido Socialista, que afirmou querer ''o triunfo da república do respeito'', a necessidade de defender, melhor do que até agora, as expectativas do povo de esquerda.



Fonte: http://www.humanite.fr