The Independent: o milagre de Belfast

“Após 40 anos de ódio, o veterano demagogo protestante e o ex-comandante do Exército Republicano Irlandês, o IRA, juram dividir o poder na Irlanda do Norte”, o jornal britânico The Independent destaca nesta quinta-feira (9) a posse dos novos ministros de

“Essa foi a coisa mais parecida com um milagre que Belfast presenciou: Ver dois veteranos, um patriarca protestante e um ícone republicano, lado a lado prometendo deixar o passado para trás”, diz David McKittrick, editor do jornal londrino que foi repórter durante anos em Belfast.



O líder protestante Ian Paisley, que passou décadas se recusando a cooperar com a minoria católica na Irlanda do Norte, foi empossado ontem (8) em um governo que
será administrado junto com seus inimigos do Sinn Féin, o braço político do IRA.



A eleição do chefe do Partido Democrático Unionista (DUP, em inglês), Paisley, de 81 anos, como “primeiro-ministro” de uma nova administração de 12 membros marca o início de uma nova era para a Irlanda do Norte, 9 anos depois da quebra de um acordo de paz patrocinado pelos EUA, na qual católicos e protestantes terão de forjar um governo comum.



Em seu discurso de posse, Paisley prometeu cooperar com os católicos e os republicanos e com o governo do vizinho Eire, a Irlanda republicana. Atitudes que os protestantes sempre alegaram ser de “rendição”.



Segundos depois, o vice-líder do Sinn Féin e ex-comandante do IRA, Martin McGuinness, aceitou o cargo de vice-primeiro-ministro. McGuinness, de 56 anos, fez o mesmo juramento que Paisley, no qual os administradores da Irlanda do Norte juram apoiar a Irlanda do Norte e a Justiça Britânica, uma posição que o Sinn Féin recusou-se a aceitar por décadas.



Pouco depois, as outras 12 cadeiras de governo foram preenchidas com base na representação de cada partido na última eleição para a Assembléia da Irlanda do Norte. O partido de Pasiley levou cinco gabinetes, o Sinn Féin quatro, enquanto os protestantes moderados do Unionistas do Ulster receberam dois. Os católicos moderados do Partido Social Democrata e o Partido Trabalhista ganharam um gabinete cada.



O novo governo deverá reunir-se pela primeira vez no final da semana. Se os dossiês sobre a administração da justiça e da polícia prometem ser difíceis, no plano econômico, os antigos rivais disseram partilhar do mesmo objetivo de acelerar o desenvolvimento da província, tendo como modelo a vizinha Irlanda.



O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, assim como o chefe do governo da República da Irlanda, Bertie Ahern, compareceram à cerimônia da posse, em Stormont, sede da Assembléia da Irlanda do Norte.



A Assembléia de Stormont foi criada em 1998, depois dos acordos de Sexta-feira Santa, que puseram fim à violência que provocou 3.500 mortos entre 1969 e 1998. Mas a assembléia foi suspensa em 2002, depois de uma quebra de confiança entre unionistas e independentistas. A Irlanda do Norte voltou então a ser governada por Londres.



Em 2005, o IRA renunciou publicamente à violência e desmantelou o seu arsenal bélico. As eleições regionais de 7 de março deram uma larga maioria aos dois partidos que agora dividem os principais cargos do poder.



Martin McGuinness declarou-se convencido de que o acordo com o  DUP vai funcionar porque Ian Paisley está realmente comprometido a trabalhar com os republicanos. “O importante é que pessoas de diferentes ideologias trabalhem juntas de forma construtiva e positiva. Espero que Paisley e eu demonstremos que isso é possível”, afirmou.



O novo governo deverá administrar as diferenças que delinearam historicamente unionistas e republicanos. O Independent assinala que a principal diferença chama-se “Irlanda, já que o DUP é um partido representativo de 6 condados do norte administrado pelo Reino Unido”. Já o Sinn Féin é um partido de toda a Irlanda, dos 6 condados da parte sob domínio britânico e dos 26 condados da República, que tem uma agenda política para toda a Irlanda e cujo peso político aumenta dos dois lados da linha que marca a fatídica partição da ilha.


 


Para o Sinn Féin, as eleições de março último nos 6 condados foram um momento de um processo eleitoral que continua em maio ou junho nos outros 26, com propostas comuns. Propostas para a unificação e também para a economia, para a justiça e a segurança, para os serviços públicos e para a política social de toda a ilha.


 


Da redação, com informações do The Independent e agências internacionais