Chile: Aliados criticam Bachelet por posições neoliberais

A presidente do Chile, Michelle Bachelet, foi duramente criticada, em Santiago, por cerca de 20 parlamentares que pertencem à coalizão de centro-esquerda no poder, o Concertamento Democrático. Estes a criticam por estar conduzindo uma política “neoliberal

Em 3 de maio, foi apresentado para o Congresso um extenso e polêmico documento, assinado por personalidades socialistas tais como o senador Carlos Ominami e a deputada Isabel Allende, mas também por representantes do Partido Radical e da Democracia Cristã, todos eles membros da coalizão que governa o Chile desde 1990. Os signatários denunciam a “gravidade” da situação e o “risco” que ameaça a coalizão caso Michelle Bachelet insistir em manter “as suas posições neoliberais”.



Lembrando que a chegada ao poder da primeira mulher eleita presidente do Chile havia suscitado um grande entusiasmo diante da perspectiva de redução das desigualdades sociais, os autores do documento constatam que atualmente “reina o ceticismo”. Segundo esses eleitos da maioria presidencial, o governo “limitou progressivamente as suas aspirações para se concentrar numa gestão preocupada muito mais em evitar os conflitos do que em dar impulso a grandes transformações”.



Eles dão como exemplo o novo sistema de transportes públicos de Santiago, o Transantiago, que reduziu de 8.000 para 5.600 o número de veículos em circulação. Constatando que, na maioria dos países, o transporte urbano se beneficia de subvenções do Estado, os parlamentares rebeldes deploram que no Chile “o financiamento se faz exclusivamente com base nas tarifas pagas pelos usuários”. Diante da cólera desses últimos, a presidente Bachelet demitiu quatro ministros, em 26 de março.



Progressão da direita
Os eleitos que se mobilizaram criticam o ministro da economia, Andrés Velasco, por ele ceder à “enorme influência dos chefes de empresa”, que se tornaram “todo-poderosos”. Eles lamentam que os ganhos espetaculares obtidos em 2006 com a valorização das exportações de cobre não tivessem sido utilizados, ao menos em parte, para resolver “as enormes carências sociais e produtivas”. Eles reivindicam uma maior justiça social em matéria de educação, de saúde e de previdência social.



A presidente Bachelet enfrentou em julho de 2006 uma revolta sem precedente dos alunos do secundário, que exigiam uma reforma do sistema educativo, o qual havia sido privatizado pela ditadura militar.



Os signatários reclamam “retificações e decisões presidenciais transcendentes”, além de uma maior “coerência entre o programa de governo e o caráter de centro-esquerda da coalizão no poder”. Eles advertem a presidente em relação à possibilidade de ocorrer “uma rebelião dos cidadãos que, caso não dispuserem de argumentos nem de propostas para o futuro, reconduzirão a direita ao poder”.



Reagindo ao documento crítico, o dirigente do Partido para a Democracia (PPD, de esquerda, membro da coalizão), Sergio Bitar, defendeu a unidade do Concertamento Democrático e a aceleração dos programas sociais, com o objetivo de fazer frente “ao populismo” da direita.



Michelle Bachelet havia sido eleita no segundo turno da eleição presidencial, em 15 de janeiro de 2006, com 53,49% dos votos, contra 46,5% para o seu rival de direita, o milionário Sebastian Piñera. No Chile, o mandato presidencial é de quatro anos.



A popularidade da presidente Bachelet caiu para 43,4%, ou seja, o nível o mais baixo desde a sua posse, segundo uma pesquisa que foi publicada em 3 de maio. Em contrapartida, a aprovação da direita aumentou em 5,4 pontos desde março.