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Em Bruxelas, dirigente do PCdoB resgata papel da Revolução de 1917

No quadro das comemorações que estão em curso em diversos países por conta do 90º aniversário da Revolução Socialista de Outubro, realizou-se em Bruxelas, de 4 a 6 de maio, o Seminário Comunista Internacional, organizado pelo Partido do Trabalho da Bélgic

O encontro contou com a participação de 47 partidos comunistas de todos os continentes, que debateram o significado da criação da República dos Sovietes, o significado da construção do socialismo na União Soviética, a influência internacional da Revolução e do sistema socialista, assim como papel do partido bolchevique.


 


 


O Seminário Comunista Internacional proporcionou importantes reflexões sobre esses temas e constituiu uma oportunidade para o resgate dos valores e ideais da Revolução de Outubro. O Partido Comunista do Brasil foi representado pelo secretário de Relações Internacionais do Comitê Central, José Reinaldo Carvalho. Da América Latina, também participaram representações do Partido Comunista Cubano, do Partido Comunista Venezuelano, do Partido Comunista Marxista-Leninista do Equador, do Movimento ao Socialismo (MAS) da Bolívia e do MR-8 brasileiro.


 


 


Em sua intervenção, José Reinaldo disse que “a grande Revolução Socialista de Outubro é o mais importante acontecimento da história mundial até o presente, o fato mais marcante na evolução social e política da humanidade”. O dirigente comunista brasileiro analisou o significado histórico dessa grande revolução, assinalando que se tratou de “uma confirmação das opiniões de Marx e Engels, baseadas na análise científica da sociedade e da história, de que o capitalismo não é eterno”.


 


 


Foi também, disse Zé Reinaldo, a confirmação da opinião de Lênin que tinha chegado à conclusão de que, com a passagem do capitalismo à etapa imperialista, abria-se a época da revolução socialista, devido ao amadurecimento das contradições objetivas e à criação, em determinadas circunstâncias históricas, das condições subjetivas”.


 


 


O representante do PCdoB realçou em seu discurso aquilo que em sua opinião é a essência da estratégia e da tática dos comunistas: “A Revolução socialista de 1917 nos ensina que somente através da revolução é possível abrir o caminho à conquista da libertação nacional e social, de transformações sociais e políticas progressistas. Aquela revolução foi a negação da falsa estratégia do gradualismo reformista e da colaboração de classes”.


 


 


Referindo-se à proeza dos bolcheviques de erguer em condições dificílimas os pilares da nova sociedade, o secretário internacional do PCdoB afirmou: “Não foi fácil a tarefa dos revolucionários para construir a nova sociedade. Contra eles levantou-se a contra-revolução. As classes dominantes e os inimigos externos realizaram sabotagens, o embargo econômico e a intervenção armada, o que provocou miséria e fome, destruições e mortandade. Em tal situação, a obra do partido bolchevique para construir o socialismo foi um verdadeiro ‘milagre’. O poder dos Sovietes – prosseguiu Zé Reinaldo – tornou-se a expressão do poder dos trabalhadores; num imenso país multinacional, no lugar do que Lênin denominou de ‘bastião da reação’, apareceu a comunidade das nações socialistas, a URSS.


 


 


A construção do socialismo produziu um grande despertar da vida social, o analfabetismo desapareceu e o nível cultural da sociedade se elevou em pouco tempo. Milhões de pessoas saíram da miséria, acederam a meios para desfrutar de uma vida digna, ainda que modesta, o país progrediu e em pouco tempo se transformou numa potência”.


 


 


Influência internacional


O dirigente comunista brasileiro deteve-se também na influência internacional da Revolução socialista de 1917 ao longo de quase todo o século 20. “Essa Revolução criou uma nova situação política no mundo e foi extraordinária a sua influência política e ideológica. A União Soviética socialista foi a força principal na vitória sobre a maior e mais agressiva potência militar da burguesia imperialista em meados do século, a Alemanha hitlerista”, disse.


 


 


Ele ressaltou que a vitória do socialismo impulsionou as lutas operárias no mundo capitalista, obrigou a burguesia a fazer concessões ao movimento sindical e operário a fim de impedir a eclosão de lutas revolucionárias. “É inegável que o século 20 foi fortemente marcado pelo socialismo vitorioso na União Soviética e que sua influência o transformou no século das revoluções antiimperialistas, democráticas, populares e socialistas, o século das lutas pela libertação nacional e social dos povos, das lutas anticoloniais, democráticas, pela paz e a justiça”. Para Zé Reinaldo, todos esses valores “são os grandes valores e ideais da Grande Revolução Socialista, por isso mesmo celebrar seu 90º aniversário não é um ato nostálgico nem dogmático, mas algo necessário para reafirmar a validade, a pertinência e a atualidade desses valores e ideais”.


 


 


Discorrendo sobre a construção do socialismo na União Soviética, o dirigente comunista brasileiro acentuou que se tratou de um processo com diferentes etapas: a tomada do poder, o enfrentamento da reação interna e externa, o comunismo de guerra, a Nova Política Econômica (NEP), a coletivização da agricultura, a eletrificação  e a industrialização aceleradas, a defesa do país em face da agressão nazista, o período posterior ao XX Congresso, fortemente influenciado por idéias revisionistas e o período final, de liquidação do socialismo.


 


 


José Reinaldo argumentou no Seminário de Bruxelas que o período mais florescente, do ponto de vista econômico e social foi o da industrialização acelerada,de finais dos anos 20 até o início da Segunda Guerra Mundial. “Foi um período de um impressionante, incomparável e irrepetível desenvolvimento. Um período de grande mobilização das forças vivas da nação. Foi, por outro lado, um período de intensas lutas internas e externas. Foi durante esse período que o regime soviético assumiu as características que conhecemos, com suas grandezas e misérias. Foi nesse período que surgiu a idéia equívoca de socialismo pleno e mesmo de comunismo em curto prazo, abandonando qualquer idéia de transição”.


 


 


Segundo o dirigente, do ponto de vista político, a necessidade de comando ultracentralizado para garantir a mobilização total e fazer face às sabotagens e ameaças dos inimigos internos e externos resultou no enfraquecimento da democracia socialista, democracia de massas, democracia popular, pervertendo-se a essência da ditadura do proletariado. “Quanto ao sistema econômico, este não resolveu satisfatoriamente a antinomia entre o desenvolvimento intensivo e o extensivo, o que acabou tendo repercussões negativas no aprovisionamento das massas populares em bens e serviços”, lembrou.


 


 


Perspectivas da luta socialista


A intervenção do Partido Comunista do Brasil no Seminário de Bruxelas dedicou-se também à situação atual e às perspectivas da luta pelo socialismo no mundo contemporâneo. “A derrota do socialismo criou uma situação nova no mundo, produziu uma importante mudança na correlação de forças entre o imperialismo e as forças progressistas. Hoje, os povos e as forças progressistas e revolucionárias se confrontam com uma brutal ofensiva do imperialismo,  sobretudo o norte-americano, para impor sua dominação através da militarização e da guerra”.


 


 


Nesse quadro, disse José Reinaldo, tornou-se corrente a noção de que o socialismo e a revolução sofreram o golpe fatal e, doravante, já não há espaço para a luta por transformações de fundo na sociedade. “Nada mais falso”, enfatizou o dirigente do PCdoB. “O socialismo continua na ordem do dia porque corresponde a uma necessidade objetiva da evolução da humanidade. Seguramente, as forças de vanguarda devem ter em conta as novas condições da luta pelo socialismo e extrair as lições do que se passou”.


 


 


Para o secretário de Relações Internacionais do PCdoB, é necessário abandonar a noção de conquistar o socialismo pleno ou o comunismo em curto prazo histórico. “É preciso adotar a compreensão dialética de lutar pelo socialismo e construir o socialismo com uma noção de transição em longo prazo. A construção do socialismo poderá consumir o esforço de gerações. É preciso ainda ter em conta que não existe modelo para a construção do socialismo”.


 


 


A adoção do modelo único, disse, foi um grave erro, uma posição anticientífica. “O socialismo é universal enquanto teoria geral e aspiração de libertação da classe operária e de todos os oprimidos. É universal enquanto perspectiva histórica e realização das aspirações à justiça e ao progresso. Mas o socialismo será o resultado da  luta multifacética de cada povo, em condições históricas e políticas peculiares, o que exigirá das forças revolucionárias, entre elas o Partido Comunista, de cada país a elaboração de novos e originais programas e formulações estratégicas e táticas”.


 


 


José Reinaldo discorreu também sobre a luta pelo socialismo no Brasil, afirmando que em nosso país, no atual período histórico, “a luta pelo socialismo significa a mobilização  do povo brasileiro contra as classes dominantes e o imperialismo, principalmente o imperialismo norte-americano”. O programa dessa luta, salientou, é a fusão das vertentes democrática, nacional e de progresso social que impulsionam o povo brasileiro e as forças revolucionárias e socialistas do país, entre elas o PCdoB.
O dirigente encerrou sua intervenção dizendo que a Revolução Socialista de 1917 é “com suas conquistas e a contribuição que deu ao progresso da humanidade, um monumento à sabedoria e ao heroísmo do Partido Comunista e dos trabalhadores, um monumento de formas irrepetíveis, mas cujo conteúdo e inspiração permanecem válidos até os nossos dias”.


 


 


Da Secretaria de Relações Internacionais