Construção civil e cana puxam criação de empregos em abril

Os setores da construção civil e da plantação de cana-de-açúcar foram os principais responsáveis pelo bom resultado obtido pelo país no mês de abril, quando foram criados cerca de 301 mil empregos com carteira assinada.

Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o número significa um recorde de geração de empregos no país e se referem apenas aos empregos formais, com carteira assinada. Para a coordenadora do observatório de trabalho do mercado de trabalho do Ministério do Trabalho, Paula Montagner, “os resultados com carteira de trabalho assinada neste ano são talvez um dos melhores que a gente vem observando desde 1992”.



Em entrevista a Paulo Henrique Amorim, publicada no sítio Conversa Afiada, Paula diz que 27% desses novos empregos vieram do setor da cana-de-açúcar, enquanto pouco mais de 12% surgiram no setor de construção civil. Outros 5% vieram do setor de transportes.


Leia abaixo alguns trechos da entrevista:



Paulo Henrique Amorim: Na sua opinião o que explica essa criação recorde em abril e esse número importante de 23% nos primeiros quatro meses do ano?
Olhe, os resultados com carteira de trabalho assinada neste ano são talvez um dos melhores que a gente vem observando desde 1992. Os setores que mais cresceram são, de um lado, os setores da indústria de transformação, que têm um volume muito grande nas indústrias do ciclo da cana, mas isso é só metade da explicação. A outra metade é o crescimento de tanto de atividades associadas à metal/mecânica, portanto, à produção de máquinas e à produção de veículos, produção de aviões e também a produção de bens de consumo não-durável: alimentos, calçados e tecidos. Isso está associado, por outro lado, ao fato de que nós temos mais renda disponível no mercado. Como tem mais emprego, mais renda, as pessoas estão conseguindo consumir mais. Então, esse aspecto é um aspecto que tem importância tanto para uma parte da indústria quanto para o comércio varejista, que teve um desempenho bastante bom. Um outro segmento que está tendo um desempenho que é dos melhores que a gente já viu que é a construção civil. Na construção civil nós vamos ter dois aspectos: um, são atividades que são associadas a grandes obras. Portanto, a associação às diretrizes que o PAC já está colocando e que está para implementar. Então, nós temos movimentação de terras, nós temos atividades de grandes obras, nós já temos empregos gerados nessas atividades. A outra, e um crescimento da construção civil residencial e essa já é uma atividade que tem avançado e que, de novo, está associado a mais renda do trabalhador e ao fato de que houve desoneração ao longo dos últimos anos dos materiais de construção, o que permite o crescimento da construção civil tanto nas atividades formais, gerando emprego formal, quanto em atividade informal, que estão associadas em forma de moradias, as pequenas reformas que as pessoas estão fazendo. Então, temos elementos, digamos assim, mais macroeconômicos, associados a expectativas de crescimento com queda de juro e direcionamento de investimento público através do PAC e os efeitos acumulados de três anos de crescimento do emprego, aumento do salário mínimo, aumento da massa de rendimento disponível para o consumo.



Eu não preciso perguntar mais nada, você já respondeu tudo! Você liga aí o dispositivo: ligado, aí, eu não preciso falar mais. Eu vou fazer uma pergunta que sobrou: você acredita que, se a sua luneta alcança, o que você pode imaginar daqui pra frente.
Olhe, a gente ainda tem uma dúvida se o que acontecer nesse primeiro quadrimestre envolve o fato de que as contratações que estariam acontecendo tradicionalmente em maio e junho foram antecipadas. A partir do mês que vem, a partir do desempenho que a gente olhar dos primeiros cinco meses do ano a gente vai poder avaliar se os resultados até o primeiro quadrimestre tiverem seqüência, seguramente a gente vai ter este ano um crescimento pelo menos da ordem que a gente observou em 2004. Portanto, a gente deve estar em torno de 1,6 milhão de empregos com carteira de trabalho assinada, mas isso aí tem que ser confirmado.



Foi o que aconteceu em 2004? 1,6 milhão é o que aconteceu em 2004.
Em 2004 são 1,564 milhão. A nossa expectativa é, se mantido os primeiros quatro meses – coisa que a gente ainda precisa mais um mês, um mês e meio de informação pra avaliar, a chance é de que a gente este ano, e fato, repita, com todas as indicações que a gente vem tendo de melhor desempenho que a gente pode inclusive superar o número de empregos formais de 2004, que foi o recorde da nossa série.



Agora, só em termos de volume de pessoas, estamos falando de 301 mil novos empregos. O que emprega mais desses setores que você mencionou: cana-de-açúcar, máquina, construção pesada, construção civil? Em termos de volume.
Em termos de volume, a gente sabe que a cadeia cana-de-açúcar, portanto, o cultivo, a usina de cana e a usina de álcool respondem no Brasil por aproximadamente 27% das contratações. A construção civil está respondendo aproximadamente por 12%. Proporção similar – a cadeia, obviamente –, todas as atividades da construção civil está mais ou menos neste ordem.



Que fantástico. Eu não tinha idéia. Você está falando de carteira assinada no ciclo da cana?
Estamos. E nesse período nós estamos falando de contratações no Sudeste, porque o Nordeste continua demitindo: Alagoas é o único Estado ainda com resultado negativo por causa da sazonalidade negativa exatamente da cana-de-açúcar. Mas são postos de trabalho com característica temporária, elas duram o período da colheita e o período que a gente vai estar fazendo a produção do açúcar e dos derivamos, açúcar vegetal, açúcar refinado, e a produção de álcool. A gente sabe que tem demissões, numa proporção que é, nos últimos anos a movimentação, a gente contrata e demite mais ou menos um volume associado a 500 mil pessoas. Então, você veja, há uma movimentação grande e acho que ficou faltando chamar a atenção para uma coisa: a gente não enxerga esse movimento olhando os resultados das pesquisas domiciliares das regiões metropolitanas, porque todas essas atividades de contratação são fora das regiões metropolitanas. São Paulo, por exemplo, na hora em que a gente olha os resultados da região metropolitana não espelham os resultados positivos que estão acontecendo fora da região metropolitana de São Paulo. Que está acontecendo em Piracicaba, Jundiaí, Ribeirão Preto, que está acontecendo todo para o lado dentro do Estado de São Paulo, para toda a região Centro-Oeste, para um pedaço do sul de Minas, que agora já está começando o café também, e vale para um pedaço do norte do Paraná. Então, como essas atividades agropecuárias estão fora das regiões metropolitanas, o fato de que as nossas pesquisas domiciliares só cobrem as seis principais regiões metropolitanas, não espelha o resultado positivo que a gente está encontrando no interior do país.



Então como vocês medem Piracicaba, Ribeirão Preto, Franca… como é que faz para medir lá?
Então, as empresas, elas informam através de um documento, que é a Relação Anual de Informações Sociais, elas informam as contratações que ela tem no dia 31 de dezembro. Então, com base nisso, eu tenho o número de contratados com carteira assinada que, grosseiramente, tem a mesma direção e um número bastante similar aos números que a pesquisa nacional de amostra por domicílio apresenta. Aí, o que acontece? Mensalmente, as empresas informam as admissões e as demissões que elas fazem de trabalhadores celetistas. Então, trabalhadores estatutários, militares, as empregadas domésticas com vínculo formalizado, a gente não sabe. A gente só sabe, basicamente, os celetistas, que estão concentrados largamente no setor privado. Então são as empresas que nos informam mensalmente essas admissões e demissões.



Então, Paula, deixa eu entender bem. Quando você fala que dos 300 mil empregos criados, 27% vieram do ciclo da cana, você mede isso nas metrópoles?
Eu meço isso em todas as cidades do Brasil, todas as empresas.



Ah, tá… todas as que respondem a esse questionário.
Está certo? E aí as empresas estão localizadas… e elas dizem para nós onde é a produção delas.



Entre o ciclo da cana e o ciclo da construção civil, nós temos 40% dos empregos no Brasil?
Mais 10% do comércio. E se a gente juntar transporte, tanto transporte de carga quanto transporte de pessoas, tem mais 5%. Então, um dos procedimentos que a gente está vendo… e a metal-mecânica, que é muito importante, por exemplo, em São Paulo, em número de empregos, ela está pesando aproximadamente 4%. Mas esses efeitos, a metal-mecânica, por exemplo, ela, em si, gera poucos postos de trabalho, mas é uma cadeia produtiva muito importante. Ela demanda vidro, demanda bens elétricos, ela demanda bancos, enfim… você conhece até melhor do que eu.



Que isso…
Então, o fato de ela estar com um movimento muito positivo, e a gente vê crescimentos tanto no mês, que são muito importantes, quanto no quadrimestre, são indicações de que este ano a gente tem boas chances de chegar aos 5% da atividade econômica que a gente gostaria de ver…



Que isso? Calma!
É, há boas indicações…




Agora, Paula, você não é obrigada a responder a seguinte pergunta: por que a Fiesp chora tanto?
Ah, isso…



Podemos encerrar nossa entrevista por aqui…
O governo vem admitindo, Paulo Henrique, que a partir das diferenças de câmbio, podem haver setores que não esteja em tão boa condição… há uma série de estudos sendo realizados e que na verdade vêm buscando uma demonstração empírica dos efeitos que a gente vem observando. Tem setores que, por exemplo, conseguem produzir para o mercado interno, mas não conseguem exportar. E a gente sabe que a exportação tem um papel importante na continuidade da melhora do padrão, mas principalmente em trazer tecnologia. Então, tem que haver uma combinatória. E pelo que eu ouvi o Ministro do Trabalho falando ontem na divulgação, ele que tem participado de parte dessa discussão, há medidas sendo estudadas exatamente para averiguar em que medida as demandas podem ser atendidas, em que medida elas já se revelaram um problema ou se elas tendem a se revelar um problema, mas a idéia é sentar com o setor privado e tentar encontrar formatos de adequar às demandas políticas que ajudem, sem prejudicar outros setores. Políticas que, de fato, sejam coerentes com o estágio da nossa economia.