Comércio bilateral é prioridade da viagem de Lula ao Paraguai

Equilibrar o comércio entre Brasil e Paraguai é um dos assuntos da viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz ao país vizinho a partir deste domingo (20). Na visita de dois dias, ele terá encontros com o presidente Nicanor Duarte e com empre

Quase quatro anos depois de comparecer à posse do presidente paraguaio Nicanor Duarte Frutos prometendo ajudar o vizinho a se desenvolver, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz neste domingo sua primeira visita oficial ao país, levando na bagagem um pacote de medidas para auxiliar o sócio menor do Mercosul.



Além de acordos de cooperação nas áreas de defesa, combate à febre aftosa e incentivo aos biocombustíveis, o presidente leva também ao Paraguai uma comitiva de empresários brasileiros que poderiam investir no país.


 


O Paraguai quer desenvolver seu parque industrial, aproveitando a redução permitida pelo Mercosul para o país na proporção de componentes nacionais nos produtos exportados, num reconhecimento das “assimetrias” entre os parceiros menores do bloco.


 


O percentual de componentes nacionais caiu de 40% para 25%, facilitando a exportação de produtos com mais componentes importados.


 


“O principal problema de estar ao lado de sócios grandes como Brasil e Argentina é atrair investimentos para o Paraguai”, diz o embaixador paraguaio em Brasília, Luis González Arias.


 


Segundo a União Industrial Paraguaia (UIP), em 2006, o país teve déficit de US$ 600 milhões no comércio com o Brasil. Por isso, os empresários querem mais acesso ao mercado brasileiro. O primeiro compromisso de Lula será justamente com o empresariado.


 


Parceria comercial


 


O Brasil é o principal parceiro comercial do Paraguai, que utiliza os portos brasileiros para seu comércio exterior, inclusive com terminal próprio no Porto de Paranaguá.


 


Já o Paraguai representou apenas 0,9% das exportações brasileiras no ano passado, e menos de 10% das vendas ao Mercosul. As importações representam ainda menos, 0,32% do total. No ano passado, o Brasil vendeu ao Paraguai US$ 1,2 bilhão e comprou do país US$ 295 milhões.


 


Nos últimos anos, vários acordos bilaterais já atenderam a algumas demandas dos paraguaios. O principal deles é a redução dos juros do empréstimo da binacional Itaipu com o governo brasileiro.


 


Embora a dívida seja dividida entre os dois países – sócios iguais no empreendimento – o credor é o Tesouro brasileiro, e o pagamento do débito reduz o valor líquido recebido pelo governo paraguaio pela energia gerada pela usina.


 


O governo brasileiro também já concordou em bancar a construção da segunda ponte ligando os dois países, para aliviar o tráfego intenso na Ponte da Amizande, entre Foz de Iguaçu e Ciudad del Leste.


 


Agenda


 


A agenda do presidente Lula em Assunção começa com um fórum de empresários, no domingo à tarde, que vai contar com presidentes e diretores de empresas como Camargo Correa, Odebrecht, Andrade Gutierrez, e entidades como Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).


 


Tanto o presidente Lula quanto o presidente Duarte Frutos fazem discurso no encontro, que já tem cerca de 20 participantes confirmados e tem o objetivo de estimular empresas brasileiras a investir no Paraguai.


 


Em seguida os dois têm um jantar privado na residência do presidente paraguaio.


 


No dia seguinte, a agenda começa com uma oferenda floral no monumento em homenagem aos heróis da independência do Paraguai. Em seguida os dois presidentes têm uma reunião de trabalho, assinam atos de cooperação e dão entrevista à imprensa.


 


Biocombustíveis


 


Ainda pela manhã, o presidente Lula participa de um evento sobre biocombustíveis, no qual empresários brasileiros também serão estimulados a investir no país vizinho, que já produz etanol de cana-de-açúcar e quer receber a tecnologia brasileira para produzir biodiesel.


 


O almoço dos dois presidentes será na residência do embaixador brasileiro em Assunção, antes da partida para Foz de Iguaçu para a inauguração das duas últimas turbinas da usina de Itaipu, na divisa entre os dois países.


 


Segundo o porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, não é verdade a notícia que circulou na imprensa de que o Brasil tenha interesse em comprar a parte da usina Itaipu que pertence aos paraguaios. “Não existe nenhum plano de compra por parte do Brasil. O presidente tem, em várias ocasiões, afirmado que o objetivo do Brasil é fomentar o crescimento do Paraguai para que ele possa consumir toda a energia que lhe cabe em Itaipu. Essa solução de compra não está nos planos do governo'', afirmou Baumbach.


 


Também na agenda dos dois presidentes está a situação dos brasiguaios, os brasileiros que compraram terras na fronteira dos dois países e chegaram a ser ameaçados de expulsão pelo governo paraguaio, porque a lei paraguaia proíbe estrangeiros de serem proprietários de terras próximas da fronteira.


 


São cerca de 500 mil brasileiros nesta situação, o equivalente a 8% da população do país. Depois de muita negociação entre os dois países foi criado um grupo de trabalho bilateral e as ameaças de expulsão diminuíram, mas o assunto ainda não foi solucionado.


 


O presidente Lula deve ser acompanhado de cinco ministros: Celso Amorim (Relações Exteriores), Silas Rondeau (Minas e Energia), Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Reinold Stephanes (Agricultura) e Alfredo Nascimento (Transportes).


 


 


Resistência a muro


 


Em entrevista publicada na sexta-feira (18) nos jornais paraguaios La Nación e Ultima Hora, o presidente Lula afirmou que a Receita Federal está proibida de continuar as obras de um polêmico muro na fronteira de Foz do Iguaçu (PR) com Ciudad del Este, supostamente para coibir o contrabando de produtos eletrônicos e cigarros. ''Muro não vai ter. Muro, chega o de Berlim, chega o do México, agora, com os Estados Unidos, chega o da Faixa de Gaza'', disse. ''Não queremos muro.''


 


Lula, na entrevista, ressaltou que o Brasil quer ajudar o país vizinho a construir linhas de transmissão e aprovar um fundo de desenvolvimento voltado para as nações do Mercosul. ''O que precisamos discutir nesse momento é como ajudar o Paraguai a ter um crescimento econômico vigoroso, possa se industrializar e ter uma agricultura moderna.'' Em Assunção, Lula discutirá novas taxas aduaneiras entre os dois países. ''O que queremos é ter uma relação definitiva de países desenvolvidos e civilizados'', afirmou o presidente.


 



Da redação,
com agências


 


Matéria modificada às 16h para acréscimo de informações