Augusto Chagas: A reação dos estudantes é proporcional ao ataque
Há dezoito dias ocupando o prédio da reitoria da Universidade de São Paulo, estudantes resistem à ordem de reintegração de posse e às pressões da polícia militar e da reitoria para deixarem o local.
Publicado 21/05/2007 22:45 | Editado 04/03/2020 17:19
A ocupação foi uma resposta dos alunos aos ataques do governo de José Serra à autonomia orçamentária das universidades estaduais paulistas.
Para Augusto Chagas, presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, “a relação do governo com as universidades é um retrocesso àquilo que os estudantes já consideravam ruim” e, dada a situação, “os estudantes tem autonomia para definir sua forma de luta”. “A reação dos estudantes é proporcional ao ataque do governo”, opina Augusto.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista do presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo ao Vermelho-SP:
O Contexto da ocupação
Augusto: A ocupação faz parte da reação a um problema grave: a relação do governo estadual com as universidades, que já se mostrou problemática mesmo antes da posse de José Serra. A relação do governo é um retrocesso àquilo que os estudantes já consideravam ruim. As medidas contra a autonomia são agressões á universidade.
A polêmica central está na autonomia de gestão financeira. A declaração do Pinotti (secretário estadual de ensino superior) ratificando a necessidade de autorização do governo para remanejos orçamentários nas universidades reforçou o sentido da ocupação.
A UNE e a UEE apóiam a decisão dos estudantes, pois eles tem autonomia para definir a forma de luta. O momento é grave e exige reações duras. A reação dos estudantes é proporcional ao ataque do governo.
A reintegração de posse e a possibilidade de confronto com a PM
Augusto: A UEE repudia a reitoria por apelar para decisões da justiça para resolver a situação. Seria uma insanidade a polícia utilizar a força contra os estudantes. A reitoria pode provocar uma tragédia, uma catástrofe. Estudantes podem se ferir e isso tem que ser evitado de todas as formas.
Impacto em outras universidades
Augusto: Pode existir e, de certa maneira, está acontecendo. Já vimos a ocupação da reitoria da Unicamp, da Unesp de Marília e da USP. Existem ainda rumores de outras ocupações.
Mas não é uma reação apenas estudantil. De uma forma ou de outra, vários setores já condenaram as medidas do governo: estudantes, funcionários, uma série de importantes intelectuais, a nota crítica da SBPC e, num primeiro momento, as próprias reitorias das universidades.
Posição das reitorias
Augusto: As reitorias perderam o tom. No início, os reitores se manifestaram contra, de maneira bastante crítica. Mas, de um tempo para cá, passaram a colocar panos quentes na polêmica, disseram que as negociações com o governo iam bem. Chegaram ao cúmulo de, no mesmo dia da declaração do Pinotti à Folha, soltar uma nota dizendo que estava tudo resolvido e a autonomia resguardada.
A nota dos reitores é, no mínimo, grosseira, pois tenta restringir aos gabinetes do Palácio dos Bandeirantes uma questão que deve ser debatida por todos os setores da sociedade.
Os próximos passos no enfrentamento às medidas do governo
Augusto: São ações que coloquem o governo contra a parede. O governador acha que as mobilizações vão se esvaziar e ele poderá impor, goela abaixo, os ataques à autonomia universitária. Mas os estudantes não vão permitir.
Esperamos vencer a batalha para voltar a discutir o aumento do financiamento, da oferta de vagas, a democracia interna e outras questões fundamentais para o desenvolvimento do ensino superior. Porque a defesa da autonomia não deve ser entendida como uma defesa incondicional da universidade que temos hoje. Pelo contrário, acreditamos que há muito a ser transformado.
Fernando Borgonovi, pelo Vermelho-SP