Unegro instala unidade no Amazonas e discute política racial

Um país onde 40% da população é afro-descendente não pode negar a sua raiz. O passado colonial marcado pela escravidão negra fez nascer um novo sentimento de afirmação da idenidade e crescimento do movim

A União Nacional dos Negros pela Igualdade (Unegro) é parte dele. No dia 18, o coordenador nacional da entidade, Edson França esteve em Manaus para travar um debate sobre “A situação do movimento negro no Brasil”, que traduziu um diagnóstico das ações políticas integradas para a categoria, do racismo, entre outros.


 


A Unegro implanta um braço do movimento no Amazonas onde a presença da população negra é tímida e a descendência indígena na cultura e características é predominante. Quanto a isso França, responde: “A nossa luta é contra o racismo. Temos brancos, japoneses, índios. Todo o mundo que quer se organizar e ter ações políticas contra o racismo tem o direito de se filiar e ajudar a gente neste trabalho”.


 


Na ocasião foi eleita uma coordenação para formar a diretoria da Unegro local. “Estamos fundando a Unegro para poder no dia-a-dia organizar a comunidade negra e lutar por conquistas, porque sem organização não vamos poder avançar. No Congresso, em junho, vamos tirar uma plataforma de luta com as principais reivindicações para pressionar o governo e a sociedade”, afirma Emanuel Medeiros, organizador do evento e secretário massas do PCdoB-AM.


 


Apesar de o Brasil empunhar a bandeira da “democracia racial” a comunidade negra ainda sofre o estigma do preconceito. “O pior mal é a negação, saber que existe o racismo e não aceitar, não admitir, trabalhar com a idéia da democracia racial. A partir do momento em que o Estado Brasileiro diz que existe racismo passa a assumir um compromisso com sua superação”, ressalta França.


 


Após um século da abolição da escravidão, a sociedade brasileira tem demonstrado avanços práticos quanto à igualdade racial, a exemplo das cotas nas universidades para negros e pessoas de baixa renda, a aprovação da Lei 10.639 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática ''História e Cultura Afro-Brasileira'' e a criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção à Igualdade Racial, no governo Lula.


 


Edson França destaca que o governo Lula foi que mais avançou na política racial. “Na parte da simbologia a vinda de ministros negros nunca foi igual da história do Brasil. Temos a Marina Silva (MMA), a Matilde Ribeiro (SEPPIR), Gilberto Gil (Cultura), Orlando Silva (Esportes) e Joaquim Barbosa (STF) pela primeira vez na história. Embora não tenha um impacto na vida cotidiana da população, o simbólico contribui com a formação da auto-estima”.


 


A questão das cotas nas universidades públicas não ficou de fora do debate. “Nós entendemos a cota como algo necessário, deve ser temporário e não para sempre. Há uma distorção no ensino público brasileiro, onde 2% dos estudantes em escola pública são negros. Se somos 47% da população auto-declarada, então há um problema sério aí. Ao menos que a gente entenda que negro é burro, não gosta de escola.”


 


O movimento negro quer resgatar a sua identidade, buscar uma nova compreensão e unidade enquanto brasileiros. Além disso, espera superar os impasses da violência e do preconceito. “Como a gente vai conseguir andar na rua sem ser suspeito? O brasileiro tem a presunção da inocência, o negro tem a da culpabilidade”, avalia o coordenador da Unegro, e completa: “O que as pessoas querem é que a diferença não seja um elemento qualitativo. Ser branco ou negro não pressupõe qualidade nem defeito. É ser humano. Isso não é motivo de que eu ou você utilizem nossas diferenças para dominação e exclusão. A gente busca respeito, cidadania”.


 


Para o presidente do Partido Comunista do Brasil no Amazonas, Antonio Levino, o Brasil foi formado dentro da lógica da cultura da mistura de raças que produziu um país completamente original da constituição populacional e o movimento negro traduz essa luta “O PCdoB tem como fundamento da sua proposta a unidade nos movimentos políticos e sociais, cabe a nós temos entidades que representem as mulheres, os jovens, os trabalhadores, a luta e o pensamento dos negros achamos que dessa maneira a população não só tome consciência quanto se mobilize por seus direitos”.


 


De Manaus,


Cinthia Guimarães