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Apolinário Rebelo explica a recusa do Partido em participar do governo do DF

Em entrevista concedida ao Vermelho, o presidente estadual do PCdoB no Distrito Federal, Apolinário Rebelo, explica por que o Partido optou por recusar o convite do governador José Roberto Arruda, do DEM, para ocupar a Secretaria de Saúde

Segundo Rebelo, as negociações tiveram até mesmo a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, devido às contradições do governo Arruda e às divergências nacionais entre os dois partidos, o PCdoB entendeu que o momento não seria adequado para participar do governo do DF.



Leia abaixo a íntegra da entrevista:



O PCdoB recebeu um convite para participar do governo do Distrito Federal?
O governador José Roberto Arruda ganhou as eleições no primeiro turno em 2006 e é o único governador leito pelo DEM. Derrotou o esquema mais conservador do senador Joaquim Roriz. Eleito, ele buscou construir um governo mais amplo e nesse sentido convidou e obteve a participação em seu governo de aliados importantes nossos como o PSB, PDT, PV, PHS, PMN, PRB e mesmo do PPS. Na idéia de formar um governo tipo coalizão em Brasília, Arruda buscou a participação do PT e do PCdoB.



Foi um convite direto ao Partido?
Não, o movimento foi mais amplo. No segundo turno das eleições presidenciais, Arruda distanciou-se de Alckmin e favoreceu Lula, que cresceu 50% em votos no DF entre o primeiro e o segundo turno – foi o maior crescimento neste aspecto no país. Agnelo, candidato ao Senado teve uma excelente votação, alcançando 44% dos votos e foi convidado por Lula para fazer esse contato com Arruda. Durante a montagem da equipe ministerial do segundo mandato, o presidente Lula, no interesse em estabelecer um contato mais próximo com Arruda sugeriu ao PCdoB que indicasse Agnelo para a Secretaria de Saúde de Brasília. Com isso, Lula criava uma ponte mais sólida com Arruda e resolveria parte do problema com o Ministério do Esporte, já que havia expectativa de um possível retorno de Agnelo para aquele ministério. Nesses movimentos envolveram-se além de Lula, o ministro Walfrido Mares Guia, da Coordenação Política, e o ministro José Gomes Temporão, da Saúde.



Mas houve um convite direto ao Partido?
Interessado na força do PCdoB e de Agnelo em particular, o governador Arruda fez um convite intermediado pelo presidente Lula e os ministros Temporão e Mares Guia. Ao Partido coube então analisar as conseqüências desse processo e de forma madura tomar uma decisão.



Analisamos o convite de forma tranqüila. O PCdoB tem força, prestígio e quadros capacitados para assumir responsabilidades executivas. Esse é o motivo do convite. É óbvio que com esse gesto Arruda buscava ampliar sua base e tentava neutralizar potenciais concorrentes.



Porque o Partido recusou o convite?
O governo Arruda é contraditório, tem forças de centro-esquerda e conservadoras em seu meio. Não é um governo em disputa, seu núcleo central é conservador. Mesmo que houvesse garantias de autonomia de gestão na saúde, do ponto de vista político era complicado. Mudava nosso bloco de alianças e comprometia nosso capital político e eleitoral. Todo esse processo foi feito em sintonia e diálogo constante com a direção nacional do partido. Na política nacional, o DEM compõe campo no essencial oposto ao nosso. Nossa presença, nesse governo, não seria entendido pelo povo, nossos eleitores e nossos aliados. Optamos por declinar do convite e informamos ao presidente Lula, aos ministros Mares Guia e Temporão, e ao próprio governador.



O Partido então decidiu fazer oposição à Arruda?
Arruda tomou iniciativas importantes no início de seu governo. Mexeu no vespeiro do transporte coletivo, que é o pior e mais caro do Brasil, enfrentando o transporte pirata, mas ainda não achou um eixo estruturante do transporte coletivo no DF, que pode ser o metrô. Mandou demolir carcaças de prédios inacabados que comprometiam a paisagem de Brasília e faz esforços para preservar a imagem de Brasília como patrimônio da humanidade e diminuir a poluição visual na capital país. Toma medidas nas áreas de segurança e de regularização dos condomínios, no essenciais positivas. Acabou com Instituto Candango de Solidariedade-ICS, biombo que empregava 17 mil pessoas para trabalharem no esquema político-eleitoral de Roriz.



Mas ele tem revelado excesso de centralização administrativa e enorme dificuldades no diálogo com o movimento social. Brasília enfrentou recentemente greves e mobilizações no metrô, professores, policiais entre categorias que não tiveram um diálogo a contento com o governo.



O Partido é ou não oposição ao governo?
Não. Achamos que decretar oposição à Arruda é apressado. Nossa opinião é que devemos observar seu governo, deixar que ele ganhe mais nitidez e acompanhar sua evolução em relação às questões locais e ao governo Lula. Portanto, nossa opinião é de apoio às medidas que consideremos justas e corretas e crítica ou oposição ao que não achar justo. O PT também debateu essa questão, existiam forças internas que defendiam participação no governo Arruda, uns propunham apoio crítico e outros oposição. No final prevaleceu a oposição. O PT já busca campo próprio na disputa política no DF.



E o projeto político do PCdoB no Distrito Federal?
Estamos debatendo. Não temos eleições locais em 2008, vamos acompanhar e interferir nas disputas no entorno de Brasília. Mas pensamos que devemos nos preparar antecipadamente para disputar um cargo majoritário em 2010 e nos preparar melhor para retomar nossos espaços na Câmara dos Deputados e na Câmara Distrital. Mas para isso precisamos sobretudo investir no fortalecimento do partido e manter a projeção política de nossas lideranças, em particular de Agnelo Queiroz. Investir na construção política, orgânica, ideológica e material. No imediato vamos tentar estruturar o Bloco PCdoB, PSB e PDT no DF, reforçar nossa presença nos movimentos sociais e antecipar e realizar uma boa conferência de Partido.