“O Estado não se faz presente e os inocentes pagam por isso”

A ocupação do Complexo do Alemão, que completou um mês, parece não ter data para acabar. Os confrontos já deixaram 17 mortos e 61 feridos. Os moradores permanecem assustados, creches e escolas estão fechadas e o clima de insegurança permanece. Segundo

“O que vivemos é uma guerra. O Estado não se faz presente e os inocentes pagam por isso. As pessoas não sabem os seus direitos e não reclamam. Aqui ninguém tem direito à saúde e à educação. Direito a deitar na sua cama e não ser acordada por tiros ou bombas. A qualidade de vida não pode ser apenas para quem mora no asfalto. O que pedimos é socorro e respeito com os moradores”, relata a camarada que mora há 30 anos no Complexo do Alemão, formado por 12 favelas, mas que preferiu não se identificar.



“As mães estão apreensivas. O clima está muito tenso. As crianças ficam nervosas, senhoras estão com problema de saúde, algumas pessoas têm insônia, outras não levantam da cama com medo de levar um tiro. E nós moradores ficamos no meio de tudo, entre uma situação e outra”, afirma.



Aulas suspensas



Desde o começo da ocupação as aulas estão suspensas. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, 4.836 crianças e adolescentes da região estão sem aulas – cinco escolas, um Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) e três creches da rede pública estão fechados.



Mesmo nos dias em que não há troca de tiros, as mães temem em levar seus filhos para creches ou escolas. “As crianças não têm como chegar ao colégio e nós não temos para onde ir, pois nunca sabemos quando vai recomeçar o tiroteio. Às vezes chego do trabalho e não tem como subir o morro. Aí o jeito é descer em outro ponto de ônibus e esperar, pois não temos para onde ir”.



A moradora critica a ação de confronto da polícia, que coloca em risco todos os que estão na linha de tiro, ao invés de usar a inteligência para prender os bandidos: “Eles [a polícia] têm que fazer o seu trabalho. O problema é como. Para eles todo mundo é bandido. Muitas pessoas, se pudessem, morariam em outro lugar. É preciso resolver a situação com inteligência”. Sobre o polêmico caveirão, a camarada diz que o seu uso é indiscriminado, sai “cuspindo tiro” sem ver em quem atira.



Até o momento a operação envolveu 1.104 policiais militares. Recentemente, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, lamentou os incidentes, mas deixou claro que as operações vão continuar. O secretário admitiu que o mais importante é a presença do Estado, não apenas da polícia, nas áreas de confronto com o tráfico de drogas no Rio. Segundo ele, as estratégias para ocupar, em breve, outras quatro ou cinco favelas no estado estão sendo analisadas.