Encontrados índios da tribo de Raoni isolados há 57 anos

A Fundação Nacional do Índio (Funai) anunciou nesta sexta-feira (1º/6) o contato com um grupo de 87 índios isolados, no norte do Mato Grosso. Os índios foram identificados como sendo de uma etnia conhecida, a Metykire,  variante do grupo Kayapó,&nbsp

A tribo de Raoni desde 1950 passou a viver em contato com a sociedade branca, no Parque Indígena do Xingu, norte de Mato Grosso. Na década de 80 travou uma luta tenaz e pela ampliação dos limites do parque, vitoriosa em 1991. O grupo agora reencontrado recusou o contato em 1950 e recuou para as matas do Pará. Vivia em uma área indígena já  já homologada pela Funai, chamada Menkragnoti, mas não mantinha contato com a sociedade branca nem com seus parentes do Parque do Xingu.



Os 87 índios foram encontrados após caminhar cinco dias até uma aldeia Kayapó no município de Peixoto de Azevedo, no norte do Mato Grosso (MT). O primeiro encontro entre os Metykire e seus parentes Kayapó ocorreu no dia 24.



De acordo com a Funai, eles contaram que decidiram buscar ajuda porque estavam sendo ameaçados a tiros por homens brancos. O órgão suspeita de garimpeiros e madeireiros ilegais que podem ter invadido a reserva.



''Brasil é um país riquíssimo''



O presidente da Funai, Márcio Meira, considera surpreendente o fato de um grupo desconhecido ter sido encontrado nos tempos atuais. “O fato de não termos conhecimento ou contato com essa população mostra que o Brasil é um país riquíssimo do ponto de vista da diversidade cultural”, disse. ''Eles foram considerados pelos kaiapós do antigo grupo como desaparecidos, eles achavam que eles tinham morrido vítimas de alguma epidemia'', conta Meira.



Por medida de segurança e para impedir a proliferação de doenças entre os índios recém- descobertos, a Funai interditou a pista de pouso que dá acesso à aldeia. Por enquanto, o contato com eles está sendo feito por outros índios kayapó que trabalham no órgão da Funai no estado. Nos próximos dias, uma equipe da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) deve levar medicamentos e vacinas contra gripe, hepatite e a tríplice, contra coqueluche, difteria e tétano.



Os contatos são feitos apenas por alguns líderes Kaiapó do Xingu. O principal interlocutor tem sido o cacique Megaron Txucarramãe, que mora na aldeia mas é também o administrador regional da Funai, na cidade de Colíder – cidade mais próxima da área. O local está isolado para evitar que eles sejam vítimas de doenças, como a gripe.


 


Um ferimento a bala, uma criança que nasce



O vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Saulo Feitosa, pede que a medicação dos índios seja feita com muito cuidado e somente se comprovado “risco de iminente contágio”. Para Feitosa, a Funai agiu adequadamente e deve continuar a respeitar os direitos do grupo e dos demais povos isolados.



“Ao encontrar roças, barracas, utensílios ou relatos de mateiros, a Funai deve se preocupar em isolar a área e prover a proteção do grupo”, afirma. “O ideal era que a Funai atuasse apenas quando o contato com a população não-índia fosse inevitável.”
Ainda segundo a Funai, um dos índios tem uma bala alojada no corpo, mas não se sabe se o tiro é recente ou antigo. Na última quarta-feira (30), houve mais uma surpresa. Uma mulher do grupo deu à luz uma criança.



Política é evitar contato com grupos isolados



Segundo a Funai, existem cerca de 60 grupos indígenas registrados como isolados no país. A política oficial consiste em mantê-los como estão, evitando o contato com eles.



Os Kayapó vivem em aldeias dispersas ao longo do curso superior dos rios Iriri, Bacajá, Fresco e de outros afluentes do caudaloso rio Xingu, desenhando no Brasil Central um território quase tão grande quanto a Áustria, praticamente recoberto pela floresta equatorial, com exceção da porção oriental, preenchida por algumas áreas de cerrado. Sua cosmologia, vida ritual e organização social são extremamente ricas e complexas.



Da redação, com agências