Engels elogia o “velho” Balzac, “maior mestre do realismo”

Foi na “Carta a Margaret Harkness – Abril de 1888” que o filósofo alemão Friedrich Engels deixou suas impressões sobre Honoré de Balzac. Para Engels, o escritor francês era “de longe o maior mestre do realismo de todos os Zolas do passado, presente ou fut

Balzac nasceu em 1799, no penúltimo ano do século 18. Formou-se em Direito e atuou como advogado, militando em favor da monarquia constitucional e da aristocracia de tipo feudal. Não acreditava nos “direitos do homem”, na igualdade humana – mas cria, sim, que “um só homem deve ter o poder de fazer leis”.


 


Tais posições conservadoras e elitistas são citadas por Engels, que no entanto pondera: “Sua sátira nunca se revela mais mordaz, a sua ironia nunca é mais amarga, do que quando põe em movimento os próprios homens e mulheres com os quais simpatiza mais profundamente – os nobres”.


 


Com particular habilidade em descrever suas época – tipos humanos, costumes, idéias fixas, dilemas -, Balzac legou a célebre Comédia Humana. O livro apresenta mais de 90 textos, de contos a romances, retratando sobretudo o dia-a-dia da burguesia na Paris da primeira metade do século 19.


 


Lendo a Comédia, Engels se impressionou tanto que ali apontou “um dos maiores trunfos do realismo e das maiores características do velho Balzac”. A “Carta a Margaret Harkness” que registra seus comentários estão em Sobre Literatura e Arte, em co-autoria com Karl Marx.


 


 


Confira abaixo as opiniões de Engels sobre Balzac


 



Balzac, que considero de longe o maior mestre do realismo de todos os Zolas do passado, presente ou futuro, proporciona-nos na sua Comédie Humaine, uma história maravilhosamente realista da “sociedade” francesa, descrevendo, no estilo de crônica, quase ano por ano, de 1816 q 1848, a pressão crescente da ascensão da burguesia sobre a sociedade dos nobres que se estabeleceu a partir de 1815 e voltou a instalar, na medida do possível, (tant bien que mal), o padrão da vieille politesse française (velha delicadeza francesa).


 


Descreve como os derradeiros resíduos daquela, para ele, sociedade modelo sucumbiram gradualmente ante a explosiva intrusão dos vulgares endinheirados ou foi corrompida por eles. Como a grande dame, cujas infidelidades conjugais não passavam de uma maneira de firmar a sua posição, em perfeito acordo com a forma como lhe tinham destinado o casamento, cedeu lugar à burguesia, que adquiriu o marido em troca de dinheiro.


 


E, em torno desta imagem central, o autor tece uma história completa da sociedade francesa, com a qual, mesmo em pormenores econômicos (como, por exemplo, a redistribuição da propriedade real e privada após a Revolução Francesa), aprendi mais do que com todos os historiadores, economistas e estatísticos profissionais do período.


 


Ora, Balzac era politicamente um legitimista; a sua obra grandiosa constitui uma elegia permanente da decadência irreparável da boa sociedade; as suas simpatias vão para a classe destinada à extinção. Mas, apesar de tudo isso, a sua sátira nunca se revela mais mordaz, a sua ironia nunca é mais amarga, do que quando põe em movimento os próprios homens e mulheres com os quais simpatiza mais profundamente – os nobres.


 


E os únicos homens aos quais se refere com clara admiração são os seus antagonistas políticos mais acirrados, os heróis republicanos do Cloitre Saint Mary, aqueles que nessa época (1830-36) eram os verdadeiros representantes das massas populares.


 


O fato de Balzac se ver compelido a agir contra as suas próprias simpatias de classe e preconceitos políticos, de ver a necessidade da queda dos seus favoritos nobres e os descrever como pessoas que não merecem melhor sorte, de ver os verdadeiros homens do futuro onde, temporariamente, se encontravam – tudo isto afigura-se-me um dos maiores trunfos do realismo e das maiores características do velho Balzac.


 


Da Redação, com Blog do Ozaí e agências