Procuradores concordam com novas regras para escutas telefônicas

A modificação nas regras para escutas telefônicas feitas pela polícia, em estudo pelo Ministério da Justiça, agradou a Associação Nacional dos Procuradores da República. O presidente da entidade, Antônio Carlos Bigonha, disse que ao determinar a interv

“Há muito tempo reivindicamos uma participação mais ativa nas investigações e isso vai possibilitar ao Ministério Público produzir a prova desde o primeiro momento. Com isso, ganha o Ministério Público, ganha a Justiça e o cidadão em geral”.


 


Na avaliação de Bigonha, a medida não irá dificultar os trabalhos de investigação feitos por meio de escutas telefônicas. Segundo ele, a idéia está de acordo com o controle externo da atividade policial que deve ser feita pelo Ministério Público. “É importante na democracia que não existam instituições solitárias e com poderes absolutos, mas que esses poderes sejam sempre fiscalizados e limitados por outras instituições, e esse é o papel do Ministério Público”, defende.


 


Combater os abusos


 


A decisão de encaminhar o projeto ocorre num momento em que se observa uma crescente onda de críticas a supostos excessos da Polícia Federal. O ministro da Justiça, Tarso Genro, nega que este seja o motivo do projeto, mas certamente as críticas serviram de incentivo para que o projeto saísse da gaveta.


 


Pela proposta inicial, elaborada pela equipe ministerial, a partir do texto preparado e arquivado durante a gestão do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, a PF e as polícias civis só poderiam utilizar estes tipos de grampos nas grandes operações de combate ao crime, com a autorização expressa do Ministério Público.


 


Hoje, as polícias dependem apenas de ordem judicial para executar serviços desta natureza e fazem esta solicitação diretamente ao Judiciário. A consulta a promotores e procuradores é facultativa.


 


O objetivo da imposição de restrição é evitar abusos e distorções no uso da escuta. Um exemplo é a inclusão de pessoas que não são alvos daquela investigação específica no pedido de autorização de grampo. Outro exemplo seria o monitoramento continuado por grandes períodos.


 


Entidades da sociedade civil já se mostraram incomodadas com alguns procedimentos, como o número de suspeitos grampeados e a divulgação de conteúdo de gravações de investigações que correm sob sigilo. De acordo com auxiliares de Tarso Genro, a idéia é aumentar o controle do Ministério Público e da Justiça sobre o monitoramento telefônico e ambiental.


 


O ministro encomendou a nova versão do projeto antigrampo há dez dias. A tarefa está entregue aos secretários de Assuntos Legislativos, Pedro Abramovai, e de Justiça, Antônio Carlos Biscaia.


 


A proposta prevê ainda um ponto que vai gerar muita polêmica. Pessoas que estejam sob investigação — e tenham conhecimento da apuração — poderiam pedir ao juiz do caso a interceptação telefônica de outros suspeitos. Esta seria uma forma de o investigado produzir informações em benefício próprio e contra a apuração inicial, que o aponta como suspeito de determinados crimes.


 


Lula reclamou de vazamento


 


Ontem, durante conversa com ministros do núcleo de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria comentado sobre a necessidade de se aprofundar a investigação da Operação Xeque-Mate, mas ressalvou ser necessário cuidado com os processos, para evitar exposição indevida de pessoas e vazamentos supérfluos de informações, segundo relato de assessores do presidente.


 


Lula teria ficado descontente com a ampla divulgação do conteúdo das transcrições das escutas telefônicas que mostram supostas tentativas de lobby de Vavá, indiciado pela Polícia Federal por tráfico de influência no Executivo e exploração de prestígio no Judiciário.


 


Da redação,
com agências