De volta dos EUA, Alckmin tenta recuperar protagonismo político

Após temporada nos EUA, onde foi reciclar suas idéias neoliberais, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) diz que pretende organizar uma caravana política no país. Segundo deputado tucano, objetivo é promover uma “atuação político-partidá

De volta ao Brasil após uma temporada nos Estados Unidos, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) tentar ajustar o discurso para reassumir um papel protagonista na oposição ao governo Lula. Com uma agenda nacionalizada para os próximos meses, ele indica que participará da disputa interna do PSDB pelas candidaturas a cargos majoritários, sobretudo com os governadores José Serra (MG) e Aécio Neves (MG).


 


Alckmin, que chegou ao país no começo de junho (dia 3), após cursar durante quatro meses um programa de políticas públicas na Universidade de Harvard (EUA), afirmou logo no desembarque que pretendia percorrer o Brasil para “agradecer” pelos votos que teve como candidato a presidente da República em 2006, quando perdeu, no segundo turno, para Lula.


 


O projeto da caravana política, no entanto, ainda não tem data de início definida, nem conta com o roteiro consolidado. A programação e a pauta política da iniciativa será divulgada em breve pelo ex-governador. Segundo o deputado federal Duarte Nogueira (PSDB-SP), que se reuniu com Alckmin recentemente nos EUA, o objetivo da maratona de viagens é promover uma “atuação político-partidária, não é eleitoral”.


 


“Com o prestígio que ele tem, ele pode chamar nos vários Estados e localidades brasileiras que visitar um destaque maior para o levantamento dos problemas, comentar de maneira critica a morosidade na solução por parte do atual governo, e apresentar alternativas”, esclarece o deputado. O cientista político Cláudio Couto, professor da PUC-SP, apresenta outra interpretação. “Isso dele fazer uma caravana pelo país inteiro divulgando o programa do partido parece realmente plataforma e estratégia de quem quer ser candidato a presidente”.


 


Couto, no entanto, vê limitações no alcance da figura política do ex-governador. “É uma liderança que se enfraqueceu paradoxalmente na campanha presidencial. Foi o candidato que saiu com menos votos no segundo turno em relação ao primeiro. Esse declínio me parece o fator fundamental. Ele é o mais fraco diante dos outros dois nomes (José Serra e Aécio Neves). Não acredito que em princípio haja uma mudança de cenário com a sua apresentação, mas tudo vai depender dos movimentos que ele vier a fazer mais à frente”, analisa.


 


Potencial conservador


 



No entanto, é precipitado, na avaliação de Couto, classificar Alckmin como uma figura política “em descenso”. “Acho um pouco cedo para se dizer exatamente em descenso. Em descenso é o Maluf, o Quércia e o ACM”, compara. “Ele ainda é relativamente jovem, e tem uma trajetória política mais longa pela frente. Não creio que ele necessariamente seja uma carta fora do baralho para futuras contendas. Só diria que no médio prazo, para as próximas eleições presidenciais, ele me parece o menos forte dos três”.


 


Que papel resta então para Alckmin desempenhar sob um tabuleiro político que oferece uma nova correlação de forças teoricamente mais indigesta para ele? Na análise de Couto, a alternativa seria “apresentar uma postura de oposição mais marcadamente conservadora do que aquela que os outros líderes do PSDB têm condições de mostrar”, diz. “Se for hábil em fazer isso, pode tanto se aproximar do DEM, como pode eventualmente até fortalecer um certo setor dentro do PSDB que por ventura se identifique mais com essas posições conservadoras”, pondera Couto. “Creio que do ponto de vista estratégico, é o que faça mais sentido para ele”.


 


Operadores políticos


 



Em conversas reservadas com Alckmin quando o ex-governador estava em temporada no exterior, o tucano Duarte Nogueira relata a impressão que o encontro gerou. “Senti ele não muito aderente a esta conversa da disputa da prefeitura. Não está empolgado com isso”, revela Nogueira. “Mas seria bom para o PSDB aproveitá-lo na sua melhor forma, que é agora, quando ele está disposto e disponível”, sugere o parlamentar.


 


O deputado lembra que as principais lideranças tucanas, como Serra e Aécio, e o próprio senador Sérgio Guerra (PE), cotado para presidir o partido a partir deste ano, têm os “seus mandatos e as suas tribunas”. “O Geraldo está sem mandato. Acho que a gente deixar um companheiro da qualidade e experiência do Geraldo (sem mandato) é passar uma oportunidade sem poder aproveitá-lo”, reivindica Nogueira. O parlamentar complementa com a identificação de carências que Alckmin poderia suprir. “No PSDB está faltando liderança que aglutine e que permita a gente harmonizar e, ao mesmo tempo, não ficar fora dos grandes debates nacionais. A Executiva Nacional do PSDB ficou fora deste debate nacional da reforma política”.


 


Já o deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP) ironiza a situação do adversário político. “Mesmo dentro do PSDB, o que tenho observado é que ele (Alckmin) já não tinha força quando era governador. Imagine agora. Ele está enfraquecido. A estratégia dele é querer ser candidato a prefeito de São Paulo”, prevê. “Ele não conseguiu se consolidar como uma liderança nacional. Não foi protagonista nesta empreitada. Vai ser sempre uma liderança regional paulista, só que agora com o Serra tendo o domínio do partido no Estado”, diz Tatto.


 


Conjuntura eleitoral


 


Além de ter presenciado o fortalecimento de Serra e Aécio, Alckmin já encontrou uma articulação crescente para as eleições municipais de 2008 após a sua volta. Nesta segunda-feira (18), em entrevista coletiva concedida após reunir-se com o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, descartou a intenção de disputar a eleição para a Prefeitura de São Paulo, e afirmou que pretende manter-se à frente do ministério até 2010.


 


Foi a primeira vez que Marta visitou o Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura, desde que deixou o cargo. Marta foi prefeita da capital paulista entre 2001 e 2004 e era cotada pelo PT para um novo mandato. “Espero que o presidente mantenha esse convite até 2010, e em 2010 eu vejo o que vou fazer”, declarou Marta.


 


O presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), já declarou publicamente que o ex-governador Geraldo Alckmin (SP) é o candidato natural do partido à prefeitura paulistana. O PCdoB também cogita lançar o deputado Aldo Rebelo (SP) para o pleito. Já o DEM, a priori, aposta na plataforma de reeleição do atual prefeito Gilberto Kassab.


 


Fonte: Agência Carta Maior