Expedito Parente fala sobre programa do biodiesel
O pai do biocombustível, Expedito Parente, fala da descoberta e das perspectivas para a energia verde e faz projeções animadoras de que em breve o Brasil terá as condições de ser um grande exportador de biodiesel. Ele que, além de cientista, também é empr
Publicado 21/06/2007 23:41 | Editado 04/03/2020 17:02
O Programa do Biodiesel não pode ser pensado apenas como um sucedânio do óleo diesel. “É muito pequeno pensar assim. A visão correta do biodiesel seria o casamento do que chamamos de motivação ambiental com a vocação regional. Temos que resolver os problemas ecológicos e os problemas sociais com a implementação do biodiesel”, diz ele.
Além da patente do biodiesel que após dez anos se transformou em domínio público por não ter uso comercial, Expedito Parente traz em seu currículo outras inovações tecnológicas conhecidas como a vaca mecânica (máquina que faz leite a partir da soja) e um projeto inédito de pesquisa do bioquerosene para uso em aeronaves.
Portal do Governo – Como o senhor vê a iniciativa do Piauí ao provocar a discussão sobre a energia verde e o debate sobre o que há de inovação no setor?
Expedito Parente – Foi algo interessantíssimo. Um ponto muito positivo, havia muitas pessoas não somente da pesquisa, mas da tecnologia, da engenharia e também pessoas interessadas em investimentos e financiamentos. Teve todo um universo de pessoas que são importantes no sistema do biodiesel, teve características internacionais e participantes de várias partes do mundo. Para mim, esse foi o maior congresso já realizado no Brasil, pois até então o maior congresso que tive notícia sobre esse tema foi em Varginha, no ano passado, com 870 inscritos, e este com mais de mil pessoas inscritas.
Portal do Governo – Como o senhor chegou ao biodiesel?
Expedito Parente – Eu trabalhava com pesquisa na área de álcool. Fazia, inclusive, do mesocarpo do babaçu. Mas eu via o álcool como um combustível solitário para veículo de passeio sem uso para ônibus e caminhão. E o Brasil e o mundo estavam precisando de um combustível que tivesse uso coletivo, que fosse usado em ônibus, caminhão, trem, navio, tratores, máquinas agrícolas e para geração de eletricidade. Minha motivação foi exatamente direcionada para isso. Eu tinha consciência da necessidade que a humanidade tinha de se ter um sucedânio para o óleo diesel. Na época da descoberta, foi muito duro para mim, eu me sentia sozinho e muito frustrado, então tive uma saída, desenvolvi um projeto que ficou conhecido como vaca mecânica (esmaga soja e produz leite) que eu denominei de Amélia. Naquela época, meu pensamento era assim: tentei fazer o alimento das máquinas e não consegui e o Nordeste estava com cinco anos de seca e pensei por que não posso fazer o combustível das pessoas.
Portal do Governo – Na época da descoberta do biodiesel, o senhor disse que teve uma grande frustração por ser considerado um visionário e hoje diante do boom da agroenergia o senhor se sente realizado?
Expedito Parente – Sempre fiz de tudo para que a vaidade e o orgulho não possam me dominar, essa é uma questão básica que temos que se vigiar. Um exemplo foi o de ter que mudar o auditório porque naquele em que estava agendada a palestra (durante o Congresso Internacional de Agroenergia) não comportava todo mundo, de certa forma, para mim, é uma premiação. Mas é preciso considerar isso uma coisa puramente normal, se você se envaidecer disso, você começa a se contaminar e vira um doente. Sou uma pessoa feliz. Hoje, estamos construindo um mercado nacional interno, mas creio que com esses investimentos que estão sendo feitos em todo o Brasil, de ponta a ponta, vão propiciar as condições de sermos um grande exportador de biodiesel.
Portal do Governo – A proposta do Programa do Biodiesel prevê metas, além de ambientais sociais?
Expedito Parente – O Programa do Biodiesel não pode ser pensado apenas como um sucedânio do óleo diesel. É muito pequeno pensar assim. A visão correta do biodiesel seria o casamento do que chamamos de motivação com a vocação regional. Temos que resolver os problemas ecológicos e sociais com a implementação do biodiesel. Você não pode se conformar em disponibilizar e mandar para o mercado um produto energético. É um remédio que não se encontra em farmácia.
Portal do Governo – Como seria a parceria entre os três estados, qual o objetivo e como deve funcionar?
Expedito Parente – Vamos assumir o setor produtivo industrial, mas esse setor deve ter um abastecimento de matéria-prima e descarga desses produtos e rações para que possa realmente fechar o circuito. Deve ter ao lado do setor industrial uma incubadora de cooperativas em cada uma dessas cidades. Essa incubadora será uma instituição responsável pela educação das pessoas. Deve haver também a participação da Embrapa, do Sebrae, do Governo e das prefeituras locais no sentido de apoiar toda essa organização social que vai envolver diretamente a produção.
Portal do Governo – Qual a diferença e as vantagens da utilização do sebo em relação ao babaçu?
Expedito Parente – É o preço. Essa gordura é bem mais barata que os óleos que estão no mercado como o babaçu e a soja. Para se ter uma idéia, o sebo bovino está custando em média R$ 450,00 a tonelada e o óleo de soja está custando mais de mil reais. Transformamos essa gordura de sebo em biodiesel, que já é tecnologia e não tem nenhuma restrição. Isso é coisa para curto prazo, porque não existe mais dúvida industrial e nem de utilização desse combustível. O grande desafio é a organização social, a organização da produção que vem da comunidade.
Portal do Governo – O senhor anunciava que sua empresa, a Tecbio, tem interesse em investir na produção de biodiesel no Piauí?
Expedito Parente – Sem dúvida, vamos nos implantar aqui. Estamos estudando. Mas nossa história aqui já tem mais tempo. Nós fornecemos a planta usada pela Brasil Ecodiesel, do grupo Santa Clara em Floriano, assim como todas as plantas da Brasil Ecodiesel que são nossas.
Portal do Governo – Qual seria a região?
Expedito Parente – Provavelmente na região de Esperantina.
Portal do Governo – Hoje, quais as projeções para o biodiesel?
Expedito Parente – Não posso precisar porque não tenho poder de mando, mas sei que há grandes chances de ser antecipado essa meta dos 5% (percentual de biodiesel presente no diesel que hoje é de 2%). E as exportações de biodiesel para Europa vão se tornar realidade. Ainda não devido o volume como no caso do álcool de cana que tem volume que pode ser considerado suficiente para exportar. E o bioquerosene está em fase de testes e deve demorar dois anos.
Portal do Governo – E quais as vantagens do bioquerosene?
Expedito Parente – Um aspecto do bioquerosene de aviação é que esses aviões são verdadeiros pulverizadores do efeito estufa, queimando combustíveis na atmosfera direto tanto que hoje já existe na Europa a previsão de ter uma tarifa especial como se fosse um imposto dessa poluição. O mundo está mudando de uma maneira rápida para poder enfrentar essa poluição. O projeto do bioquerosene terá uma força motriz para avançar e isso deve demorar pelo menos dois anos.