Médicos criticam operação Inverno Gaúcho
A governadora Yeda Crusius lançou nesta sexta o programa Inverno Gaúcho, que prevê repasse de remédios aos municípios e incentiva as prefeituras a abrirem os postos de saúde durante a noite nos meses mais frios do ano.
Publicado 24/06/2007 00:58 | Editado 04/03/2020 17:12
No seu programa de rádio desta semana, a governadora contou como vai funcionar o projeto, que pretende diminuir as internações hospitalares no inverno: “Ele cria incentivos para que os municípios mantenham um posto de saúde durante o inverno aberto por três turnos, e também promove a distribuição de um kit. Quando sai do inverno, tenho relatos de que diversos prefeitos mantiveram o programa pra distribuição de kits de remédios e postos de saúde abertos três turnos”.
O governo promete repassar R$ 2 mil por mês para cada Unidade Básica de Saúde, durante três meses. Aos 496 municípios gaúchos, serão distribuídos R$ 500 mil.
A medida não agradou os profissionais de saúde. O diretor do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Sami El Jung, avalia como irônico o programa, já que o Estado tem investido apenas 6% da receita tributária líquida em saúde, o que corresponde à metade do exigido por lei. “Chega a ser irônico, sendo que o Estado não investe nem a metade dos recursos que deveria investir em saúde. Parece piada com a população e com os profissionais de saúde”, afirma.
Para o diretor do Simers, a abertura dos postos de saúde 24 horas demandará gastos maiores do que o volume de recursos que o governo promete repassar. Ele acredita que a conta sobrará aos municípios.
Para Sami El Jung, a medida também não terá impacto na população. “A idéia dela é reduzir o comparecimento às emergências. O problema é que a pessoa que sai de casa no inverno às 3h da manhã não está procurando um posto de saúde, ela está procurando resolução do seu problema. E, para isso, precisa estrutura, raio-x, laboratório. Ninguém sai de casa às 3h da manhã para fazer consultinha”, diz.
O médico afirma que o programa Inverno Gaúcho será dinheiro jogado fora. “O posto de saúde aberto significa custo, significa risco e com resultados muito pífios. Um Estado que não investe o que tem que investir em saúde ainda vai jogar recursos fora. Não é à toa que o secretário estadual de Saúde [Osmar Terra] não se manifestou sobre o assunto até o momento”, afirma.
De acordo com o governo do Estado, 315 municípios aderiram ao programa e 431 postos de saúde ficaram abertos até as 22 horas em 2006. Neste ano, os municípios têm até o dia 15 de julho para se habilitar para o recebimento do recurso.