CartaCapital aponta erros do passado na “Batalha no Alemão”

Reportagem assinada por João Marcello Erthal e Mauricio Dias na edição desta semana da revista CartaCapital considera que, por ora, tem sido alto o custo humano e social pago pela decisão do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), de recuperar o contr

Veja abaixo trechos da reportagem:


 


A maior operação policial contra o tráfico de drogas no Rio, iniciada há dois meses no complexo de favelas do Alemão, atingiu um nível crítico. Em apenas um dia, o cerco de 1.350 policiais às 13 favelas da região contabilizou 19 mortos. Há a suspeita de que outros 11 corpos ainda estejam pelas vielas. O número de vítimas aproxima o Rio da realidade iraquiana de hoje, e o armamento apreendido sustenta o cenário de guerra no meio da cidade.


 


No território até então impenetrável dos traficantes foram apreendidas, entre outras armas, duas metralhadoras “0.30” usadas em combates antiaéreos, capazes de derrubar aviões e furar os blindados da polícia. A ofensiva, cuja violência impõe baixas não só aos criminosos, transforma de modo assustador a vida de uma área com cerca de 150 mil moradores, que, se recortada do mapa da cidade, formaria um dos 15 maiores municípios do estado.


 


A decisão do governador Sérgio Cabral Filho de fazer um cerco ao tráfico tem um custo elevado: vítimas inocentes. Mas as circunstâncias de hoje o colocam numa encruzilhada histórica. O preço a pagar agora pela recuperação do controle daquela área em poder dos marginais é, certamente, menor que o preço a se pagar amanhã.


 


E, por mais que não se saiba se esta é a última oportunidade de reverter a situação, não se conhece a distância entre este momento e a hora de um eventual apocalipse. “Essencialmente, no nosso conceito de governo, segurança é a primeira das liberdades. Portanto, é compromisso do governo assegurá-la”, afirmou o governador, no dia seguinte ao cerco às favelas, montado a partir de uma cooperação entre as polícias Civil e Militar e com apoio da Força Nacional de Segurança.


 


A avaliação positiva do governo sobre a operação, que sustenta, inclusive, a manutenção do cerco às favelas, está amparada principalmente em dois pilares. O primeiro é o de que nos locais a que a polícia chegou foram encontradas as armas que o trabalho de inteligência indicava. O segundo, a afirmação de que todos os mortos no confronto da quarta-feira 27, têm antecedentes criminais. Se for verdade o que diz o Estado, reduziu-se, naquele momento, o número de justos que pagarão pelos pecadores. As vítimas inocentes ainda assim não são poucas.


 


Com os números confirmados até a quinta-feira 28, a ação nas favelas do Complexo do Alemão deixou 44 mortos e 76 feridos. Considerada uma das áreas de maior exclusão social do Rio, impenetrável para as forças policiais, o Complexo do Alemão, segundo informações do governo do Rio de Janeiro, teria evoluído de uma concentração de pontos-de-venda de drogas para uma base operacional do crime organizado, com depósito de armamentos que serve a uma verdadeira cadeia de ações violentas na região metropolitana.


 


Não se pode avaliar a situação de agora sem um olho na história das administrações anteriores. Por preconceito ou por equívocos políticos, por omissão ou por corrupção, os administradores abandonaram as zonas pobres, predominantemente representadas por aglomerações faveladas. O poder marginal fortaleceu-se entre os moradores. Ora pelo uso da força, ora no atendimento assistencial. Na seqüência, o Estado perdeu o controle desses espaços. Para retomá-lo, há um custo incontornável. A população pobre, espremida entre o poder marginal e o oficial, paga a conta. E a um preço muitas vezes irrecuperável, o de vidas humanas.


 


A íntegra da reportagem e a cobertura completa pode ser conferida na edição de CartaCapital que está nas bancas.