Chico Lopes: Água para o desenvolvimento

Para milhões de brasileiros que têm sede de água e de justiça social, o projeto de integração do Rio São Francisco às bacias do Nordeste setentrional é uma grande vitória.

Uma conquista histórica, podemos acrescentar, se lembrarmos que a espera pelo empreendimento remonta aos tempos do Brasil Império, atravessando os mais diferentes contextos políticos e sociais. Infelizmente, sem jamais sair do papel e das promessas.


 


Em um país já governado por militares e intelectuais, foi preciso que um representante das camadas mais populares chegasse ao poder, para que o projeto São Francisco pudesse, de fato, entrar na ordem do dia. Na pauta do governo e, principalmente, da socieda-de. Se alguém contrário ao projeto ainda guarda alguma crítica à iniciativa do Governo Federal – de investir em uma obra que beneficiará 12 milhões de pessoas em 390 cidades e trará segurança hídrica para os anos de seca, tudo isso aproveitando um mí-nimo percentual da água antes destinada ao mar -, seguramente não se pode reclamar de falta de debates quanto ao tema.



 
Inúmeras audiências públicas foram realizadas em todos os estados interessados, e a própria sociedade, em seus mais diversos segmentos, se mobilizou para pensar o projeto São Francisco. Foi devido ao projeto de integração que veio à tona, inclusive, a preocupação com a revitalização de trechos do rio, tarefa contemplada pelo empreendimento.



 
Tiradas todas as dúvidas e esclarecidos todos os pontos, o povo brasileiro entendeu que a obra não é apenas importante: é também urgente e fundamental. Esse é o sentimento que percebemos, durante os vários debates e encontros. Ocasiões em que pudemos compartilhar, por exemplo, a palavra de religiosos como Dom Edmilson Cruz e Dom Aldo Pagotto, que levantaram suas vozes para apoiar a iniciativa e desmistificar a idéia de que a Igreja seria resistente ao projeto, apenas pelo registro de uma manifestação isolada em dado momento.
 



Agora, com o efetivo início das obras, é hora de a sociedade se manter atenta e mobilizada, para que tudo saia de acordo com a expectativa. Depois de coordenar o Comitê Cearense em Defesa do Projeto São Francisco, formamos em Brasília uma Frente Parlamentar em prol do projeto. Estaremos visitando canteiros de obras e fiscalizando os trabalhos, para garantir que a água – e o desenvolvimento – cheguem o quanto antes.



 
Até lá, apoiar o projeto São Francisco e, ao mesmo tempo, cobrar sua efetiva implementação são tarefas de cada um de nós. Porque o Nordeste quer, ele mesmo, escrever sua história. Nada contra a literatura da seca, dos brilhantes romances sobre o sertão aos repentes e cordéis dos poetas populares. Mas já é hora de o nordestino, sempre um forte, conquistar uma realidade de dias menos difíceis, desafios mais amenos e novas possibilidades de trabalho, desenvolvimento e cidadania.



 
Chico Lopes é deputado federal pelo PCdoB-CE