Atentados no Reino Unido podem fechar as portas aos indianos

Os ataques terroristas frustrados no Reino Unido no mês passado geraram ansiedade e questionamentos na Índia, um país cuja economia depende muito da capacidade de seus cidadãos trabalharem no exterior. Alguns dos presos em conexão com os atentados frus

As revelações geraram temores que profissionais indianos, muçulmanos ou não, enfrentem dificuldades crescentes em encontrar emprego no exterior. Há também preocupações que parentes que já trabalham fora sofram retaliações. Alguns indianos lembram-se que a primeira vítima de crime de ódio nos EUA após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA foi Balbir Sing Sodhi, um sikh proprietário de um posto de gasolina no Arizona, que morreu a tiros por um homem que aparentemente entendeu o turbante de Sodhi como um símbolo do terrorismo e do ódio anti-americano.


 


O compromisso assumido pelo do primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, na semana passada, de rever as políticas de avaliação de médicos estrangeiros foi recebido com um pedido do primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, que não escolhesse cidadãos de um único país para o escrutínio. “Um terrorista é um terrorista e não tem religião nem comunidade”, disse Singh a Brown.


 


Talvez a Índia seja uma das economias emergentes que mais depende das remessas de trabalhadores expatriados. A fama de excelência apreciada por seus profissionais no exterior é fonte de orgulho patriótico.


 


Kafeel Ahmed, engenheiro indiano que a polícia diz ter dirigido um Jeep Cherokee em chamas para o aeroporto de Glasgow, é o principal suspeito no atentado de carros-bomba britânico. Seu irmão Sabeel, médico, também foi preso no Reino Unido. Seu primo Mohammed Haneef, médico da Índia, está sendo mantido na Austrália em conexão com os ataques, e cinco outros médicos indianos foram interrogados e liberados na Austrália como parte das investigações.


 


O Times of India acusou Ahmed de representar o “lado negro da ascendência da Índia” em um editorial de 9 de julho. Até os ataques frustrados, a Índia tinha uma posição secundária na guerra global ao terrorismo, como vítima de terrorismo doméstico. Apesar de Ahmed não ter sido condenado por crime algum, o jornal disse que ele tinha “destruído aquele belo interlúdio de posição de vítima respeitável.”


 


Qualquer redução do número de indianos viajando ao exterior a trabalho poderia ter um efeito dramático em casa, dizem os economistas. Os expatriados indianos enviam mais dinheiro para casa do que os expatriados de outros países, disse o Banco Mundial. As estimativas para 2006 foram de US$ 25 bilhões (em torno de R$ 50 bilhões), representando 3% do produto interno bruto da Índia. Há 16 milhões de cidadãos indianos e pessoas de origem indiana vivendo no exterior, de acordo com os números mais recentes do Ministro de Assuntos Indianos no Exterior.


 


O dinheiro remetido do exterior “fornece um grande apoio à moeda e ao combate ao déficit. Na ausência de remessas, a dinâmica do câmbio seria muito diferente”, disse Abheek Barua, economista do banco Hdfc.


 


Os profissionais indianos, com suas remessas a parentes ou investimentos diretos, ajudaram a reforçar os mercados de ações e imobiliário na Índia. O Reserve Bank of India estimou no ano passado que o dinheiro das remessas foi responsável por cerca de 12% do crescimento do próspero mercado imobiliário indiano.


 


Nos EUA, não há sugestões políticas que os ataques frustrados no Reino Unido possam afetar a capacidade dos indianos visitarem ao país. Mas os profissionais indianos trabalhando nos EUA sob vistos profissionais H-1B já estão enfrentando longos atrasos em converter esses vistos em “green cards” de residentes.


 


Alguns economistas e analistas dizem que as preocupações com a capacidade de indianos trabalharem no exterior é exagerada. A dependência de muitas indústrias em torno do mundo de profissionais indianos tornaria difícil a discriminação geral contra profissionais indianos.


 


Até 40% dos médicos do Serviço nacional de Saúde britânico são de origem estrangeira, a maioria da Índia e Paquistão.


 


R. Vaidyanthan, professor de finanças do Instituto de Administração Indiano em Bangalore, que estudou a dependência da Índia das remessas do exterior, disse que o Reino Unido “exige desses médicos mais do que esses médicos exigem” do Reino Unido.


 


Há 40.000 médicos de origem indiana nos EUA, de acordo com a Associação Americana de Médicos de Origem Indiana e 300.000 indo-americanos trabalhando nas indústrias de alta tecnologia americana, de acordo com o Escritório do Censo dos EUA.


 


Como muitos desses profissionais estrangeiros, Haneef, o médico detido na Austrália por causa dos ataques terroristas no Reino Unido, tem um importante papel em sua família como principal provedor. “Haneef é a fonte de dinheiro para nós”, disse seu irmão menor, Shuaib Mohamed, estudante de engenharia, em entrevista telefônica de Bangalore.


 


Haneef é o mais velho de três filhos cujo pai, um professor, morreu em um acidente rodoviário. Ele também sustenta uma mulher e uma filha em Bangalore, disse seu irmão.


 


Haneef, que trabalhava no Hospital Gold Coast na Austrália, não foi acusado de qualquer crime, mas foi detido por uma semana para interrogatórios.


 


Fonte: International Herald Tribune
Tradução: Deborah Weinberg / UOL Mídia Global