Jogos levam esporte de elite ao subúrbio
O domingo de competições dos jogos Pan-Americanos começou levando um esporte de elite ao subúrbio. O Centro Nacional de Hipismo, que fica na Vila Militar, em Deodoro, Zona Norte do Rio, recebeu os competidores das provas de adestramento.
Publicado 16/07/2007 14:22
A modalidade, pouco conhecida pela população, consiste em conduzir o animal para fazer coreografias em um picadeiro. A disputa reuniu um público que não ocupou metade do centro hípico, mesmo sendo uma final em que a equipe brasileira acabou por conquistar a medalha de bronze.
Em Deodoro a movimentação nas ruas não foi grande, mesmo se tratando de uma final. Em um bar com amigos, Ivan Figueiredo, que mora no bairro há 69 anos, disse que embora o hipismo seja um esporte de elite os moradores não estão totalmente alheios à disputa.
“Todo mundo está falando sobre isso”. Ele revelou que gosta de hipismo por ter servido ao Exército na divisão de cavalaria. Mesmo assim, ele não foi assistir à disputa nem pretende ver a prova de saltos.
Figueiredo acredita que se o Pan levasse para Deodoro um esporte mais popular as ruas estariam mais movimentadas. “O pessoal gosta mais de um futebol, né”.
Para José Luiz de Vasconcelos, a falta de divulgação do esporte para o grande público é a causa da pequena participação do público, ainda que o preço cobrado, de R$ 10 a inteira, seja “acessível”. Ele mora no Méier, subúrbio não muito próximo a Deodoro, mas foi assistir à prova.
“É um esporte seletivo e que não é muito divulgado para o povo. Apesar de ser uma final o pessoal não é chegado ao hipismo, deveria popularizar um pouco mais”.
As provas de salto, uma modalidade de equitação mais conhecida, devem lotar o Centro Nacional de Hipismo. De acordo com a organização do evento, as entradas para as provas previstas para os dias 26, 27 e 29 deste mês já foram todas vendidas.
“O adestramento é pouco visado na mídia, o salto dá mais visibilidade ao esporte. Acho que as pessoas agora vão conhecer melhor o esporte”, afirma Dimas Abbade, que foi assistir ao jogo com a família.
Cleusa Maria Riter, que mora em Deodoro, não pretende assistir a nenhuma das provas do hipismo. Mesmo assim, ela disse que, se não fosse um esporte tão caro, gostaria de praticar. “É muito caro manter um cavalo, mas se tivesse chance, montaria”.
Segundo Valdemar Mattei, que treina atletas há 40 anos, as despesas mínimas para manter um cavalo ficam em torno de R$ 1,5 mil por mês. À medida que o atleta vai se profissionalizando, esse valor se aproxima de R$ 4 mil.
São gastos com alimentação, veterinário, estabulagem (local para manter o animal), entre outros. “É muito caro para chegar nesse nível de disputar o Pan-Americano. É razoavelmente acessível para as pessoas que estão começando nas escolas de equitação”.
Com a conquista da medalha de bronze pelos atletas Rogério Clementino, Renata Costa e Luiza Almeida, o Brasil garante pela primeira vez vaga para uma equipe de adestramento em Olimpíadas.
Para Valdemar Mattei, a participação nos jogos olímpicos de Pequim, em 2008, pode ser a chance de popularizar o hipismo no Brasil. “Quando tem campeões, a mídia apóia, divulga, e isso acaba fazendo com que as pessoas se identifiquem com o esporte e se apaixonem”.