Protestos contra o muro se espalham pela Cisjordânia

Três anos depois da condenação do muro de separação na Cisjordânia pela Corte Internacional de Justiça, ativistas estrangeiros e palestinos se manifestam em Belém e também em outras cidades em todo o território. Por Fernanda Campagnucci, especial para a a

A cena se repete toda sexta-feira na vila de Um Salamona, próxima a Belém: ativistas palestinos, israelenses e os chamados internacionais, acompanhados de algumas crianças curiosas, fotógrafos e observadores, empunham cartazes e bandeiras para protestar pacificamente contra o muro de separação. Na ultima sexta (13), o grupo tinha ainda outro motivo para se reunir: fazem três anos que a Corte Internacional de Justiça de Haia condenou o muro e ordenou sua imediata suspensão, decisão que nunca foi respeitada pelo Estado de Israel.



De acordo com a Corte, o muro, pretensamente construído por motivos de segurança, anexa terras da Cisjordânia e atenta contra o direito à autodeterminação do povo palestino. Tamer Halaseh, coordenador da ONG palestina Holly Land Trust, que organiza a manifestação, conta que a cada semana cerca de 100 a 150 pessoas participam do ato, que acontece em diversas cidades ao mesmo tempo e cujo principio à a não-violência.



Mas para que a recepção dos soldados israelenses seja igualmente não-violenta, a presença de ativistas e observadores internacionais é essencial. O norueguês Tron Botnen, de uma organização ecumênica que trabalha nos territórios da Palestina e Israel, explica que, na ausência de ativistas internacionais, a repressão é maior. “Os palestinos sempre nos falam que é melhor quando estamos aqui. Viemos prestar solidariedade, mas também testemunhar contra os sofrimentos que esse muro causa, como separar famílias, impedir as pessoas de trabalhar, de viajar, confiscar suas terras”, diz.



Minutos antes de caminhar até a estrada que leva ao local do muro, Sami Awad, da Holly Land Trust, dá as ultimas instruções para as pessoas que vêm pela primeira vez: “Ficamos em três blocos, cada um deve escolher o que achar melhor. Há a linha de frente, claro, a mais perigosa. No segundo bloco, ficam os que resguardam os primeiros, ainda com algum perigo. A terceira linha é dos observadores”.



Em seguida a delegação encontra uma barreira de soldados israelenses e os três blocos se transformam em um só. Os manifestantes da segunda e terceira linha ajudam os da primeira a empurrá-los. Durante o “braço-de-ferro”, algumas pessoas tentam falar com os soldados, como uma ativista israelense: “Comportem-se, cresçam”, ela grita em hebraico, frente a um soldado jovem de cerca de 18 anos, impassível. “Essa terra não é de vocês, vocês não tem nada que fazer aqui!”, continua, antes de ser derrubada no chão e sofrer um leve ferimento na testa.



Sami Awad também é derrubado, e o grupo recua. O braço-de-ferro ainda acontece por mais cinco vezes. Entre uma pausa e outra, o escocês Kevin tenta mostrar aos soldados o mapa da Cisjordânia, produzido pela ONU, que aparentemente nunca viram na vida. O único que aceitou falar com o grupo respondeu um seco “estou apenas cumprindo ordens”, após não conseguir identificar sua localização no mapa.



Como em Um Salamona, outros atos contra o muro se espalham toda sexta-feira por varias cidades da Cisjordânia, como Bil`in, perto de Belém, Qaffin ao norte e Bani Naium, ao sul. Mas em Bili`in, ao contrario de Um Salamona, os soldados se mantêm à distancia e podem lançar bombas de gás lacrimogêneo assim que os manifestantes chegam ao local.



Um palestino foi preso e levado em um jipe, como em praticamente todas as manifestações. Ninguém sabe dizer quando será solto — pode ser em um dia ou dois anos. “Aqui não há regras, nas há leis, não temos direito nenhum”, explica Awad.



Duas horas depois, o grupo de manifestantes decide partir, sem ter conseguido passar. O muro não só continua no mesmo lugar, como esta se expandindo: segundo a ONG Stop the Wall, o traçado tortuoso do muro se estende ate cerca de 6 quilômetros para dentro da Cisjordânia, como na cidade de Qalquilya, inteiramente cercada.



O governo de Israel está para aprovar também outros projetos, em que o muro passaria ate 13 km da fronteira, para isolar suas colônias, alem de uma nova barreira paralela à primeira ao longo do vale do Jordão. Com esta segunda fase, o muro se estenderia por mais de 700 km e isolaria 50% do território palestino na Cisjordânia.



Fernanda Campagnucci é jornalista e está na Palestina para escrever um livro-reportagem sobre a situação dos territórios ocupados.