Morre Antônio Carlos Magalhães, ''ícone'' da política oligárquica
O senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) morreu nesta sexta-feira (20), aos 79 anos, em São Paulo. ACM estava internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do InCor-SP (Instituto do Coração), do Hospital das Clínicas, desde o dia 13 de junho, quan
Publicado 20/07/2007 12:08
A família ainda não confirmou o local onde será realizado o velório e o enterro do senador. A expectativa é que o corpo de ACM seja levado para Salvador (BA), onde nasceu.
No começo deste mês, ACM apresentou complicações gástricas. No seu período de internação, ele apresentou oscilações entre melhoras e agravamento do estado de saúde.
Ele teria tido uma parada cardíaca na madrugada desta sexta-feira. A informação foi transmitida aos parentes e amigos próximos de ACM. A pedido da família do senador não foi autorizada divulgação de informações sobre seu estado de saúde.
O senador, que completaria 80 anos em 4 de setembro, deixa a mulher, Arlete, e os filhos Antonio Carlos Magalhães Júnior e Teresa Helena Magalhães Mata Pires. Outros dois filhos de ACM já morreram: Luís Eduardo Maron de Magalhães e Ana Lúcia Maron de Magalhães.
Complicações
O estado de saúde do senador começou a se complicar neste ano, a partir de março, quando o político ficou internado para se curar de uma pneumonia e de uma disfunção renal. Desde então, ACM vinha se submetendo a check-ups de rotina todo mês.
Em abril, o senador foi internado no InCor com insuficiência cardíaca. No final de maio, o parlamentar sentiu-se mal no Senado e chegou a cair em frente ao seu gabinete. Na ocasião, ele foi submetido a uma série de exames no InCor.
ACM era cardiopata, portador de insuficiência cardíaca congestiva, em decorrência de um infarto, ocorrido em 1989.
''Carlismo'' durou 15 anos
Carlismo: corrente política dos seguidores de Antonio Carlos Magalhães. A definição do verbete não consta em nenhum dicionário oficial da Língua Portuguesa. Mas a expressão, de tão popular, transformou-se em sinônimo do poder do mais influente político baiano: ACM.
De fato, Antonio Carlos Magalhães foi designado mais pela sigla que pelo próprio nome durante toda a carreira política, que começou em 1954, quando ele se elegeu deputado estadual na Bahia pela antiga União Democrática Nacional (UDN).
Quatro anos depois, tornou-se deputado federal, sendo reeleito para mais dois mandatos consecutivos, em 1962 e 1966. Em 1967, durante o regime militar, que ACM apoiou fortemente, foi nomeado prefeito da capital baiana, Salvador. Já em 1970, foi indicado pela primeira vez para o governo da Bahia.
Ele governou a Bahia também entre 1979 e 1983, quando foi eleito por meio de um colégio eleitoral, e de 1991 a 1994, após ter sido eleito no primeiro turno no pleito de 1990.
Foi neste ano que teve início a ascenção do predomínio local do carlismo, quando passou a ditar as regras na política estadual. Quatro anos antes, o atual ministro Waldir Pires (Defesa) havia derrotado o jurista Josaphat Marinho, apoiado por ACM.
A partir de 1990, todos os candidatos que venceram eleições ao governo da Bahia tiveram apoio de ACM –Paulo Souto (1994 e 2002) e César Borges (1998), ambos do ex-PFL atual DEM. Além disso, o grupo carlista também monopoliza as três vagas da Bahia para o Senado desde 1994.
Em 2001, a força do carlismo se espalhou por toda a Bahia. Das 417 prefeituras do Estado, 395 apoiavam o então governador César Borges, afilhado de ACM.
O carlismo sofreu sua maior derrota em 2006, quando Paulo Souto perdeu o governo para Jaques Wagner (PT). Na ocasião, ACM chegou a criticar àqueles que decretavam o fim do carlismo. ''Vocês verão o desastre que será o governo baiano e a volta triunfal do carlismo na Bahia. O carlismo é uma legenda que não se apaga, queiram ou não os cronistas políticos'', disse ACM.
A influência do carlismo também rompeu as fronteiras da Bahia e chegou ao Palácio do Planalto. Depois assumir o Ministério das Comunicações no governo do presidente José Sarney (1985-1990), ACM manteve sua influência na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-2002).
Reportagem publicada na Folha em 2001 revelou que ACM tinha 29 afilhados políticos em postos importantes da máquina federal no governo FHC.
Em recente entrevista ( http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=21515) , o atual governador da Bahia, Jacques Wagner, afirmou que a Bahia viveu, durante o período do ''carlismo'' num constante estado de medo.
''O método de governar do PFL era de intimidar, de subjugar prefeitos. Muita gente que estava lá, não estava lá por concordância, mas por necessidade de sobrevivência, ou porque tinha medo de ser perseguido etc. Está se vivendo um novo momento aqui, que é o fim de um ciclo claramente'', afirmou o governador.
''Digo com tranqüilidade que a Bahia não será a mesma nem na política, nem na administração. Muitos esquemas e estruturas que estavam montadas não vão sobreviver porque viviam à sombra do estado. Essa forma de governar, para mim, já faliu. O PFL se manteve aqui constrangendo o Judiciário, que hoje tem autonomia, assim como a Assembléia Legislativa. Não acho que nenhuma hipótese vai conseguir retornar em qualquer futuro aquele modo de fazer política'', concluiu Wagner.
Da redação,
com agências